domingo, 28 de março de 2010

28 de Março - Trilhos do Pastor

Este ano não podia ter falhado esta prova. O ano passado tinha tudo preparado e falhei à ultima da hora retido do outro lado do Atlântico com um voo perdido. De modo que lá fomos. O dia prometia estar um espectáculo embora o termómetro do carro chegasse a mostrar 3º... 
O local da prova é muito bom. A 1h de Lisboa e a 5 min. da saída de Fátima da A1. A hora mudou neste fim de semana o que nos roubou uma preciosa hora de sono. Ossos... Dorsais entregues sem grande confusão às 9h ninguém queria estar na partida. Teve de ser o speaker a chamar o pessoal para a partida. Estava frio e só a ausência de vento tornava a coisa mais suportável. 
E lá partimos em direcção às grutas da Moeda. Muito engraçadas. Pequenas mas todas arranjadinhas, merecem bem uma visita. A temperatura de sauna na gruta contrastou com a temperatura à saída. Uiii que frio outra vez. 
Depois começaram os trilhos. A paisagem é fantástica. O piso é tramado. Muita pedra, muita pedra. Sendo os pés a minha zona mais fraca e tendo aleijado o dedão logo ao Km 10, (ainda por cima nunca chegou a recuperar totalmente desde Almourol onde ficou bem dorido), sofri bastante nas descidas. Mais uma escolha de meias errada para ajudar à festa. 
Mas a paisagem ajudava a esquecer tudo. Que vistas magníficas. Descidas bem complicadas ajudavam à festa. 
Perdi a conta à quantidade de vezes que torci o tornozelo. Algumas bem fortes, pensava que iam deixar mazelas mas até agora nada.

Após uma grande descida para uma aldeia num vale incrível esperava-nos uma subida daquelas de deixar os bofes de fora. Quase a pique por uma escadaria talhada na terra. Às tantas em plena subida o meu unico erro no percurso. Ia jurar que o gajo à minha frente tinha entrado numa gruta. Sabia que por ali havia uma falha na rocha que tinhamos que atravessar. Entrei na gruta mas 10 metros depois a coisa começou a ficar negra. Literalmente. Não se via nada. Era impossível progredir. O pessoal que entrou todo atrás de mim começou a duvidar que quisessem que explorássemos mais grutas. Até que alguem gritou lá para dentro que não era por ali. Desfeito o engano era preciso subir um pequeno patamar e entrar numa gruta semalhante mas essa rapidamente se transformou apenas num desfiladeiro apertado com 10 metros de comprimento. 

Descidas a pique, escadarias talhadas na rocha com cordas para ajudar a descer, trilhos no eucaliptal.  De tudo um pouco ia surgindo. Até que ao faltarem apenas 500 metros para a meta desembocámos da floresta directamente na vila de S. Mamede. Exactamente 3 horas depois. Uma boa média atendendo à dificuldade do percurso. Embora haja algumas subidas e descidas extremas, grande parte do percurso é feito com pequenos desníveis. Ora isto dificulta o descanso e obriga a correr. Daí talvez ter achado esta prova muito desgastante e dura. Mas foi um conjunto de factores sendo que o piso ajuda bastante por ir moendo a pouco e pouco, torcendo os tornozelos, massacrando os pés. Uma desgraça. 

Os reabastecimentos também estavam bem. Só um sólido e água nos outros. Podia ser melhor mas foi suficiente. No final frutinha da boa e água à descrição. Se não comi 3 laranjas andei lá perto.

Chegado enfim à meta foi tempo de reencontrar a Dora e a Margarida que tinham ido à caminhada. O Verísssimo também já andava por ali pois tinha feito 2h30m. Que craque! O almoço decorreu sem stress, carne grelhada com arroz de feijão. Reposta a energia toca a regressar.

Resumindo uma excelente prova, dura, mas muito bonita e muito bem organizada. À medida que fôr tendo mais info e fotos actualizo o post.
Agora é altura de umas pequenas férias e a próxima só está agendada para dia 18 de Abril. Vamos ligar a tracção às 4 e rumar até ao deserto. Boas férias para todos. E não façam como eu. Não deixem de treinar :)

quarta-feira, 24 de março de 2010

21 de Março - Meia Maratona de Lisboa



Mais um aniversário. Fez hoje 3 anos estava neste local pronto para fazer a mini maratona. Foi o clique. No ano seguinte foi a meia maratona e o ano passado faltei (como muita pena) mas estava fora do país. Como imaginam esta prova tem um significado especial. Portanto este ano era impossível faltar.
Desta vez optámos por aligeirar a logística levando o carro para a chegada e usando a Carris e a Fertagus para voltarmos para a partida. A ideia era evitarmos passar no barco para a Trafaria onde previamente tínhamos de deixar um carro ou apanhar mais 2 autocarros, num Domingo, nem às 3 estávamos em casa.

Nunca tínhamos usado este método. Correu bem, tirando o tempo adicional que demoraram a abrir a ponte no regresso, ainda estivamos 20 minutos à espera que finalmente abrissem o sentido norte-sul. O outro sentido abriu mesmo antes das 13h.

O dia estava nublado na margem sul e solarengo em Belém. Tememos o pior dado o calor que já sentíamos ali na zona da chegada. Ao regressarmos à ponte o nevoeiro estava a dissipar-se rapidamente, o que não era lá muito bom..  Mas acabou por ser uma prova relativamente fresca pois só depois de Alcântara é que o sol começou a fazer-se sentir com mais força.

Não sei como foi o ano passado mas este ano as condições para quem fez a meia maratona estavam excelentes. Sem confusão. Sem pessoal a invadir o espaço da meia maratona (embora perto da hora da partida tivessem começado a surgir tipos da mini que devem ter descoberto um buraco no sistema). Espaço para aquecimento do pessoal da meia maratona, largura da partida suficiente para não haver empurrões, etc. Creio que a utilização do espaço disponível foi bem conseguida. A partida foi bem mais rápida do que o habitual dado que toda a gente daquela zona estava ali para correr e só foi preciso algum cuidado com a entrada na ponte que afunilava inevitavelmente em relação à partida.

Este ano o circuito encurtou para o lado do Terreiro do Paço e esticou para o lado de Algés. Fui num ritmo suave. Não estava muito virado para tempos. Até porque a prova este ano com a partida mais rápida acabou por compactar mais os 5000 participantes. A somar a isso as zonas de obras no Terreiro do Paço, em que a avenida ficou demasiado estreita obrigando a reduzir a velocidade devido ao número de atletas. Também tenho treinado pouco e tenho sentido que, se por um lado sinto necessidade de descansar um pouco por ter andado a exigir bastante nos últimos tempos, por outro lado isso acaba por afectar negativamente a capacidade disponível durante as provas. Resumindo, é preciso ouvir o que o corpo nos diz e, às vezes, mas só às vezes, fazer-lhe a vontade. Portanto e dado que para a semana são os trilhos do Pastor (com mais 29Km de trilhos, serras e aventura) nada como ir no relax.
E lá ia eu descansadinho, a apreciar as bandas, a hidratar-me, aparece-me o Rui Lacerda a desencaminhar-me. Bora lá bora lá. Lá tive de desencantar umas forças extra. Afinal tinha vindo na ronha havia ali energia que estava a poupar. Por isso por volta do Km 16 passei para um ritmo de 4m30 em que me via grego para acompanhar a ligeireza do Rui. Não ia conseguir fazer 5Km naquele ritmo. Por isso os últimos Km’ foram feitos tipo série. O Rui ficava à conversa e eu abrandava um pouco, depois lá vinha ele e toca a acelerar. E lá concluí mais uma. Não vi mais o Rui porque ele vinha sem dorsal. O tempo acabou por ser dentro do meu melhor, sinal que se me tivesse aplicado mais (também nos treinos) teria sem problemas baixado do minuto 40… mas fica para a próxima. 1h41m55s é já muito bom.

Antes de sair da zona dos brindes vi o Eduardo a distribuir panfletos da meia da Areia e não perdi a oportunidade de o ficar a conhecer. Lá estivemos à conversa um pouco sobre o Sicó sobre o novo site do omundodacorrida.com. Novo site? Não se pode estar uns dias sem lá ir mudam a casa toda:)

Em resumo: tudo decorreu dentro do esperado. Uma manhã de festa. 20 anos para a prova, 3 para mim, um record do mundo batido. Excelente dia para o atletismo nacional.

Os resultados depois de algumas dificuldades técnicas com o site parecem ter estabilizado e podem ser consultados neste link
Também há videos da chegada, por isso espreitem aqui a minha chegada ao minuto 44'15'', 30 segundos depois do Sérgio. Boa Sérgio. O track já está disponível aqui no site.

segunda-feira, 15 de março de 2010

14 de Março - Corrida das Lezírias

A corrida das Lezírias é uma clássica. Tem imensa gente a participar. É uma prova simpática em que as coisas piores são o empedrado e a subida da ponte de Vila Franca (para lá e para cá). O resto é um passeio junto ao Tejo, pelo campo, em piso misto, estradão de terra batida e trilho no regresso.

Nunca tenho grandes pretensões para esta prova. Vem sempre antes da Meia da Ponte, pelo que serve sobretudo para verificar se está tudo operacional com a máquina para na próxima semana as coisas correrem o melhor possível. Vou sempre com algum cuidado para não sofrer nenhum percalço que possa pôr a corrida da ponte em perigo.

Este ano passei pelo Miguel à ida para a Lezíria e ele não descolou. No regresso queria descansar um pouco, até porque vínhamos já com o vento a favor mas ele alcançou-me e veio ele a fazer de lebre. Não consegui resistir ao desafio. Aqui há uns tempos não me era possível fazer os tempos do Miguel. Desta vez viémos juntos  até ao final e até tive curiosidade em ir ver os tempos das edições anteriores. Sou eu que estou com uma boa forma ou ele que está mais roto? No way. O tempo que fizemos hoje é a minha melhor marca de sempre e muito perto da melhor dele. Tirei 5 minutos ao tempo do ano passado :)

Durante a prova tive saudades dos trilhos do Almourol e dos desafios constantes que nos eram pedidos, ao contrário da monotonia de correr em estrada. Até dá sono. Também tive saudades de descansar um bocadinho pois não aparecem subidas daquelas em que é impossível correr (pelo menos para mim). Mas à falta de melhor lá serve para ir arranjando espaço para a má vida.

Depois do esforço lá tivemos de ir receber o troféu, em forma de Sável com Açorda de Ovas. Que maravilha. O Restaurante Milénio está de parabéns. O melhor sável que já comi em Vila Franca. Também foi só o 3º...

Aqui estão as classificações.

Para a semana é a meia da ponte. É tempo de aniversários. A prova faz 20 anos. Para mim é também um momento de recordar que foi à 3 anos que me iniciei nesta vida. Lá nos encontramos. Não faltem!

domingo, 7 de março de 2010

7 de Março - I Trilhos do Almourol


Mais um fim de semana mais um trail. Isto está a revelar-se viciante :)

Bom comecemos pelo princípio. Tivemos de levantar às 5h30 da matina e passar na Azóia para levaro companheiro Esmeraldo e a esposa. A Dora ia fazer a caminhada dos 15 Km com ela.

Hora prevista de chegada 7h45, acabámos por chegar às 7h55. Bem a tempo de levantar os dorsais pese embora alguma dificuldade pois o processo de entrega estava um pouco lento com a maioria das pessoas a chegar àquela hora. Um ponto para a organização melhorar na próxima. Mas como nós só saíamos às 8h45 deu tempo para tudo. Os caminheiros é que tiveram de stressar um bocado pois já saíram dali às 8h30 e tiveram de dar aos pezinhos senão perdiam o comboio.

Nós lá seguimos nos autocarros para a Aldeia do Mato. Amena cavaqueira com o companheiro Esmeraldo uma Sra. Veterana do trail que eu não captei o nome, para variar, e uma rapariga mais nova que ia um  bocado apreensiva para o seu 1º trail e ficou ainda mais quando lhe dissemos que tinham aumentado a distência para 38 e picos devido ao nível dos rios. A conversa era obviamente trails e histórias fantásticas de Mont Blanc e coisas de gajos a sério.

A Aldeia do Mato lá surgiu. Chuva nem vê-la como já tinha previsto. Os velhotes da aldeia viam passar aquela mancha de malucos coloridos e eufóricos um pouco sem perceberem o que se estava ali a passar. Dia ameno paisagem soberba e lá fomos. Logo na primeira subida estava dado o mote: o terreno estava totalmente empapado. E não era possível escapar. À minha frente alguem volta atrás para vir buscar o téni que ficou enterrado na lama.... que mau. Por essa altura os pés já estavam completamente empapados e gelados. Mais tarde viria a perceber as vantagens de ter os pés frescos e molhados :) Sendo impossível do mal o menos.
É para molhar os pés então bora lá e pronto.

Dali até ao paredão da barragem foi um tirinho, sobe e desce pelos eucaliptais, quintas e terrenos, os primeiros perdidos que não viram onde virar. Beleza natural, vivendas isoladas  com excelente aspecto, a barragem cheia cheia, respira-se saúde e qualidade de vida. O paredão é um deslumbre. A escala da coisa com as turbinas a despejar.

A seguir foi descer até lá abaixo para momentos inesquecíveis. A dimensão da descarga vista lá de baixo é alucinante. Seguimos junto ao rio mas em vez de fazer o estradão monótono subíamos e desciamos, passa por cima do tronco, por baixo do outro, escorrega aqui, trepa acolá. Tanto estávamos lá em baixo junto ao Zézere como voltávamos ao estradão. Os tipos da prova de BTT la´faziam parte do convívio. Sobe e desce, desce e sobe já estávamos no rio Nabão. Começamos a ver camiões do exército. O que seria agora? Uma ponte militar. Tinham montado uma ponte militar para atravessarmos o Nabão. Fantástico!!!

Toca a subir a pique. Altura para descansar. Subimos e subimos. Lá em baixo iamos ouvindo o som metálico do pessoal a atravessar a ponte militar. E a galhofa. Um ponto alto da prova.

Sobe sobe atleta sobe. Voltámos ao Zézere e Constança surge ao longe. A zona baixa junto ao rio toda alagada. Abastecer de sólidos. Estávamos a meio do circuito. A partir daí encaixámos na rota dos mini-trilhos. Deixámos Constança lá em baixo e começamos a subir para a zona dos charcos. De todo o tipo e feitio. Ora tanto enterrava os pés na lama como a seguir no próximo charco lavava os ténis.

Descemos para o Castelo de Almourol, ex-libris da prova. Magnifíco. Depois Tancos, mais comidinha e passa por debaixo da linha de comboio. A seguir veio uma zona de zigue zague que dificilmente geri sempre a correr mas lá foi.

A seguir veio o pior momento. Após subirmos as enormes subidas começamos a descer para Vila Nova da Barquinha. Neste ponto uma falha grave da organização, poucas fitas traçado confuso, zero pessoas da organização. Andámos ali às voltas e ninguém conseguia desatar o novelo. Muitas fitas junto ao rio mas era para a esquerda ou para a direita, para cima ou para baixo. Mais ninguem aparecia. Já eramos uns 10 que andávamos para ali feitos parvos.

Depois percebi o que devíamos ter feito. Mas à falta de outra opção lá perguntámos para onde era o Entroncamento e zunga estrada fora. Os populares diziam que o Entroncamento era muito longe, tipo 3 Km... lololol.

Lá ia perguntando para onde eram as piscinas e mal ou bem lá cheguei. Eu e mais uns quantos que me seguiram ao longe. Não considero grave ter-me perdido. Nem ter feito mais uns Kms (ou nem por isso). Pouco me importa. Estava feliz por ter feito 40 magníficos Km's numa aventura fantástica. Foram 40Km de água a correr, água nos pés, água no horizonte. Água, água, água. Parabéns a toda a enorme equipa do CLAC que trabalhou e bem para a nossa felicidade. O que falhou será melhorado para o ano.

Claro que preferia ter seguido o percurso certo e feito um melhor tempo mas fica para o ano. Cheguei sem qualquer mazela, banhinho quente nos balneários da piscina, um belo almocinho para recuperar forças e uma magnífica massagem que me deixou sem qualquer dôr. Que belo dia. Que fantástica aventura. Para o ano estou aí outra vez. Quero isso mais bem sinalizado e alguém da organização em Vila Nova da Barquinha a tirar teimas.

O track já está publicado. Para quem não foi e o tempo e tal, e a distância etc. ROAM-Se DE INVEJA. Magnífico passeio.

Agradeço ao Paulo Fernandes das Lebres do Sado pelas fantásticas fotos que tirou durante todo o percursos e das quais aqui tenho apenas alguns exemplos. Aconselho que vejam todas as fotos que ele tirou clicando neste link. Usem F11 para full screen e desfrutem.

Para verem mais uns milhares de fotos visitem o blog da prova onde estão também os resultados. E para o ano não fiquem em casa nem percam tempo noutras provas.

segunda-feira, 1 de março de 2010

28 de Fevereiro - I Trail Terras do Sicó


Esta prova a 2horas de Lisboa mereceu, desde que foi anunciada, uma atenção muito especial da minha parte. Por um lado porque era organizada pela Associação O Mundo da Corrida, por outro lado porque estas coisas que estão a começar merecem um carinho muito grande de todos nós. Depois as outras questões que encontramos em qualquer outra prova de trail; a natureza, o tecnicismo, a dificuldade, etc.

Tratámos de juntar o útil ao agradável e lá agendámos um fim de semana familiar por terras de Sicó. Assim evitávamos sair muito cedo de Lisboa e fazer 4 horas de carro no mesmo dia... com mais 3 a correr... Assim sempre íamos mais descansados e podíamos desfrutar um pouco mais da zona.

Quanto ao desfrutar da zona, a porcaria da tempestade que se abateu sobre Portugal quase que estragava tudo, quanto mais apreciar a zona. Tivemos de esperar pelas primeiras horas do dia e seguir o fenómeno com bastante atenção, dados os ventos ciclónicos que estavam a anunciar, e todos nos lembramos bem do que aconteceu no Natal na zona de Torres Vedras.

Lá decidimos que a coisa estava a passar e metemo-nos ao caminho. Mas em vez de seguirmos pela A1 seguimos pela A8…. Há já uns tempos que queríamos visitar o Solar dos Amigos no Guisado… Que maravilha. Nem mesmo o facto de o restaurante estar às escuras e com um forte vendaval a ameaçar levar o telhado pelo ar, nos impediu de perceber que ali a gastronomia é assunto sério. Uma ou outra falha, mas trabalhar sem luz, com tanta gente à mesa e não deixar as pessoas apeadas… só isso já demonstra muita coisa. Comemos muito, mas muito bem. Bem demais para os 30Km do dia a seguir… mas adiante.

Chegados a Condeixa e depois de deixar a trouxa na Residencial Ruínas (que de facto tinha o conforto necessário para descansar o esqueleto por umas horas) lá fomos buscar o dorsal e trocar umas breves palavras com a organização. A chuva continuava a chatear aqui e ali, e pouco havia já para visitar dada a hora, a falta de luz em alguns locais, bem como o dia que chegava ao fim.

Não é que nos apetecesse muito jantar, depois do excelente almoço, mas lá nos dirigimos ao sítio que tinha sido referido por 2 ou 3 vezes no tópico do fórum, o restaurante Pariz da Ti Isaura em Campizes. E deixem que vos diga que foi outra experiência fantástica. A simpatia, genuinidade, e boa comidinha que nos serviram não serão esquecidos. Pena tenho de, na altura que o Eduardo referiu que eles também tinham quartos, não ter trocado imediatamente a reserva que tinha, para ali. Claro que na residencial Ruínas estávamos a 200 metros da partida mas ali tínhamos sido tratados como lordes. Bom, mas não se pode saber tudo à partida… portanto para o ano, se não fôr dormir ao pavilhão, é com muito gosto que ficarei em casa da Ti Isaura. E as enguias, que só provei no final, ficam também desde já reservadas. Só por isto já vale a pena voltar ao Sicó para o ano. E não estou a brincar ou a exagerar.
Não se esqueçam de organizar que eu lá estarei a fazer a minha parte.

Antes da caminha e embora o SLB estivesse a jogar ainda foi preciso desmoer a comida da Ti Isaura numa pequena volta por Condeixa. Gostei da ribeira que ia cheia e que desaparece por debaixo da praça principal para aparecer uma centena de metros bem à frente. Gostava de investigar melhor a coisa. Mas a praça era pequena e era preciso ir ver o Tri Maria. Ainda testei a estanquicidade das minhas botifarras no lago (passou no teste mas sem distinção raio do material mais em conta)

Na manhã seguinte, percebi que a organização era tão boa que até tinha conseguido uma manhã linda, céu azul, sol a brilhar. Quase fazia esquecer o frio que se sentia. Não encontrei ninguém conhecido na zona da partida, tirando 2 ou 3 colegas da equipa. O resto do pessoal com que gostava de ter conhecido e com quem tinha gostado de trocar algumas palavras devia andar ocupado com coisas bem mais importantes para fazer. Assim lá tivemos de partir. Quase 300 pessoas para um trail de 30 Km. Muito bom!!!!
Os primeiros Km’s em pelotão, com passagem por dentro de Conímbriga, um mimo. Se os romanos imaginassem o raio dos lusitanos a espezinharem-lhe a casa...
Depois de passarmos a 1ª ribeira as coisas começaram a aquecer, ainda com pernas para as primeiras subidas. A paisagem desfilava diante de nós. Gostei muito daquela 1ª parte antes de passarmos junto a novo ribeiro (seria o mesmo?)  e começarmos a amarinhar pela serra acima num trilho de muita pedra solta que nos impedia de desfrutar da paisagem em condições. Não era possível correr ali. A forte inclinação e colocar mal um pé podiam deitar tudo a perder. Pelotão ainda muito compacto.
Este trilho é a loucura de qualquer geólogo tal a variedade, qualidade e quantidade de pedras, aflorações rochosas, pisos empedrados, pedras empisadas eu sei lá. Depois de uma zona muito engraçada de pedras semi enterradas no Km6, estávamos quase a conquistar o 1º pico veio uma forte descida que fizemos a grande velocidade (relativa claro) que exigia uma atenção constante. Cada passada exigia uma escolha de fracções de segundo para decidir onde assentar cada pé. Dada a forte inclinação e o estado do piso, era um misto de risco, loucura e rapidez de reflexos para manter todo o corpo síncrono na escolha dos melhores spots. Seguíamos em pelotão de 5 ou 6 em fila serra abaixo. A delicadeza, velocidade e precisão de cada passo trouxe-me a imagem da minha avá a tricotar. Os pensamentos que nos passam pela cabeça nestas alturas.
Muito cansativo, não fisicamente mas porque o oxigénio não é muito e qualquer erro aquela velocidade não costuma ter um final feliz. A partir daí segui sozinho, às vezes lá me encostava aos tipos da frente outras vezes os de trás apanhavam-me mas lá íamos progredindo.

Ao Km 11 um bom reabastecimento onde parei durante 1 ou 2 minutos. Estava um pouco abatido. Tinham sido 3 Km’s sempre a subir e depois um troço daqueles para descansar (leia-se subida em modo caminheiro). Também tinha um dedo a chatear-me a cabeça e só tínhamos 1/3 da prova feito. Mas lá segui a subir  mais 1 Km até novo pico. A partir daqui vinha a zona das lajes escorregadias. Bem tramadas mas com jeito havia espaço para as evitar. Bem traiçoeiras que eram ali a pedir para pormos os pezinhos e zuuuutttt!

Lá em baixo começamos a cruzar-nos com os craques que já tinham ido ao pico seguinte (aero-geradores) e voltado para baixo. Bela subida para estragar a média. 2Km em que poucas vezes saí do modo caminheiro. Nova descida onde oiço alguém dar-me força. Troquei a garrafa de água e no meio do cérebro nebulado lá vi o Tiago que estava naquele ponto. Atabalhoado agradeci e segui a pensar… “olha, era o Tiago”.. ;) nestas alturas o pouco que há está a ser usado a 100%.


Já com 18 Km era altura de ligar o modo eco-run. As subidas íngremes sucediam-se com as descidas que já me faziam doer os dedos dos pés (sou um desgraçado dos pés que é outro dos meus pontos fracos). Já a pensar nos trilhos de Almourol e a pensar que era maluco por me ter inscrito em 2 seguidos. Aquelo já me estava a custar tanto. Outro no próximo fim de semana? Tás PARVO?

Os abastecimentos melhoravam a disposição. Umas graçolas para descontrair. Uma fruta, vertia uma lágrima pelo queijinho e siga.

Gostei muito de toda aquela descida (óbvio) pelo meio das quintas, muros, até que ao km 22 ainda, antes de entroncarmos com os caminheiros, uma cãibra na perna direita aparece e me cumprimenta. Paro, alongo, tento recomeçar, cãibra. Paro, alongo e lá tento seguir sem acordar a bicha. Meio manco sem saber se eram as subidas ou as descidas que a estavam a enfurecer lá consegui prosseguir. Alguns Km’s depois desapareceu tal como apareceu. As cãibras são assim. Felizmente consegui que não se instalasse pois caso contrário é muito doloroso.

Depois foi começar a apanhar caminheiros já no Km 23 ao mesmo tempo que o traçado começava a descer para Condeixa. Cómico foi ir a passar por uma data de caminheiros e começar-me o telefone a tocar. Desde que uma vez caí, sozinho, num treino nocturno, percebi a importância de levar sempre um mini-gingarelho para qualquer eventualidade (para os amigos é o micro fone). Tinha combinado com a Dora fazermos um ponto de sincronismo para se perceber quanto tempo poderia fazer. Claro que sem parar de correr lá atendi e fomos ali umas centenas de metros a falar "Como é que isso vai, Onde estás, Quanto tempo, etc. etc." Desconcertante no mínimo :)

O ultimo abastecimento cheio de caminheiros parecia uma festa, tal era a algazarra que por ali ia. Já nem parei nesse. Queria chegar e acabar com a coisa rapidamente. Faltavam 2 Km e pouco para a meta. Um companheiro diz-me que afinal não eram 30km e picos mas sim 32Km e qualquer coisa. Estranhei. Disse-lhe que levava o percurso no relógio e que tínhamos estado a seguir a coisa sem tirar nem pôr e que estávamos a pouco mais de 2Km. Que não. Que tinham alterado o percurso para 32Km e tal. Achei aquilo tudo estranho e lá segui um pouco apreensivo. Não me apetecia fazer mais 2 Km… Mas como se veio a confirmar o companheiro estava baralhado. Não houve alteração alguma. E foram 30Km e 200 metros.

A meta lá estava. A minha trupe teve dificuldade em estacionar à ultima da hora pelo que cheguei ali uns minutos antes da apoteose familiar…  Mas nada que um atleta não saiba ignorar até porque ficaram um bocado tristes de não me ter visto chegar.
Mas foi bom na mesma.

Mau mesmo só o meu Garmin que embaciou e dificultava-me imenso saber a quantas ia. Ignorei o assunto. Apenas o facto de saber que ia no trilho certo me dava conforto e claro o passar dos Km’s um após o outro. Tenho de ver se resolvo este problema da humidade dentro do relógio que teima em surgir nos momentos mais inoportunos. Mas deixem que vos diga que o trilho era tão técnico que entre ver a vista e onde se punham os pés não havia tempo para perder com mais nada.

Depois do banho com água a roçar o mínimo exigível, mas ainda assim sem estar fria. Lá fomos comer a feijoada. Devem ter pago pouco cachet ao S.Pedro porque mal acabámos de comer e nos preparávamos para ir arruinar um pouco mais as ruínas a chuva começou a tirar a barriga de misérias e só parou para aí em Leiria. Gostávamos de ter ficado mais um pouco e visitado Conimbriga... mas como para o ano há mais e este ano não pudemos ir lá, para o ano O Mundo da Corrida vai conseguir arranjar na mesma umas entradas para visitar a cidade.

No caminho para baixo ainda tentei convencer a Dora que o carro conhecia bem a A1 e que ia só fechar os olhos um bocadinho para ajudar a feijoada a digerir mas não tive sucesso. 

Só falta mesmo dizer que fiz um tempo oficial de 3h7m e a discrepância para o tempo de 3h3m do track que registei se deve a ter o GPS em auto pausa que pára o cronómetro quando paro. Mais uns segundos de lag para a partida oficial, devo ter estado uns 3 minutos nos vários reabastecimentos. 

Até para o ano no II. Obrigado ao Mundo da Corrida. Visitem a página da Associação e chorem por não terem lá estado ou deliciem-se em rever as imagens. Seguramente a não esquecer.