terça-feira, 27 de junho de 2017

O melhor que o Algarve tem - Parte 2 de várias

(voltar à parte 1)

10 de Junho - Balurcos de baixo - Barranco do Velho - 80 Km

Tirámos uma foto manhosa e seguimos. À noite todos os gatos são parvos e pouco há para ver. Com 5 a 6 Kg às costas é sempre complicado correr. Lá se ia tentando nas descidas. A princípio o corpo estranha o peso, e também vai tudo carregado com mais comida, água, etc.
A lua cheia dispensava o uso de frontal, por completo. Só quando largávamos a correr e o piso não era uniforme é que era necessário ligar por alguns instantes o frontal. O grupo seguia animado. A paisagem era aborrecida e não ajudava a progressão. Soprava um vento agora um pouco mais fresco.

O plano da noite era simples. Havia cerca de 50 Km para fazer (ao invés de 80, por não termos ido a Alcoutim) e nesta altura, depois de um dia de trabalho, e em que nos esperava uma directa, sem duvida que nos parecia a melhor ideia. Com paragens para comer, descansar, etc. seriam 10 horas, o que nos colocava em Cachopo por volta das 8h30. Aí poderíamos dormir até à hora de almoço, almoçar tranquilamente na aldeia, e esperar na piscina da fonte pelo acalmar do calor para seguimos viagem. De uma assentada faríamos 4 sectores da via Algarviana: Furnazinhas, Vaqueiros, Cachopo e Barranco do Velho onde iríamos dormir.

Ao longo da noite o pessoal agrupava-se conforme as conversas, os que seguiam mais à frente eram depois apanhados nas áreas de descanso. A meio da noite ainda ponderámos encostar o esqueleto algures, mas nos locais mais promissores não cabiam 7 gajos. De modo que acabámos sempre por seguir. As aranhas estão por todo o lado e depois de percebermos como refletem as luzes dos frontais nunca mais paramos de vê-las. Estão por todo o trilho e são aos milhares. Quando não as vemos sentimos as suas teias que esticam de um lado ao outro do estradão. Quem vai à frente é quem mais teias vai acumulando. 

Em Vaqueiros nova paragem e o Luis Matos e o Trindade optam por ficar a descansar um pouco no adro da igreja. O sino ajudou... Iriam ter a Cachopo mais tarde. 

Pouco depois de sairmos de Vaqueiros o dia começa a nascer. Estamos a pouco mais de 15 Km do desejado descanso. O sol abrasador faz adivinhar um dia de fornalha na serra. 

Mal chegámos a Cachopo e após um recuperador pequeno almoço que serviu também para encomendar o almoço, fizemos uma ocupação selvagem da casa do meu sogro. Qualquer canto de chão chegava para esticar o esqueleto e repor algum sono. 

O almoço no Chaveca foi uma excelente introdução à gastronomia que nos esperaria nos próximos dias. Neste Algarve esquecido e despovoado, come-se boa comida, os ingredientes são de qualidade e as pessoas são hospitaleiras, acolhedoras e simpáticas. Nada a ver com o outro.


© João Faustino
Depois de almoço e já com mais de 38ºC dirigimo-nos sob um sol abrasador até à piscina de Cachopo junto à fonte férrea. Aí iríamos tentar descansar mais um pouco, nos intervalos da gritaria das crianças e com uns banhos pelo meio, até o braseiro na serra acalmar um pouco. Aí também concluímos o plano para esse final de dia. Já ao almoço tínhamos encontrado uma responsável por alguns setores da via que nos tinha tirado a duvida sobre o local para jantar em Parizes, local esse alinhavado no autocarro para baixo. Não íamos conseguir chegar a Barranco do Velho a horas de encontrar alguma coisa aberta, por isso Parizes a meio caminho e com 2 restaurantes segundo o guia da via, parecia a melhor aposta para fazer uma paragem para jantar. Afinal ainda tínhamos 30 Km para fazer até chegar à cama...

Toca de telefonar para o Fortes que logo ao telefone mostrou a sua simpatia em nos receber. "Querem comer uma sardinhada? Asso umas chouriças e assim... " Oh amigo Fortes. Vamos já a correr p'raí!
.
© João Faustino
A paisagem mudou completamente a seguir a Cachopo. Grandes vales para transpor, grandes estradões ora para subir ora para descer, paisagens imponentes. Às tantas começamos a ver Parizes lá no alto. Depois de cruzarmos mais uma ribeira o trilho aperta e inclina para o ataque final.
© João Faustino
Havíamos de ser recebidos quase como família e ter uma refeição daquelas que nunca se esquecerão. Chouriças assadas feitas pela mulher do Sr. Fortes, sardinhas de peniche, tinto da casa, medronho dos melhores (provavelmente o melhor da viagem) que manjar. O Sr. Fortes queria por força ir-nos levar a Barranco do Velho. Havia festa em Barranco e ele não compreendia muito bem porque é que estes clientes chanfrados se iam meter nos trilhos depois de jantar para ir dormir a Barranco do Velho.

Mesmo de noite apercebemo-nos da mudança da paisagem. Trilhos mais fechados, ladeados por arbustros. As nossas amigas aranhas que já tinham sido estrelas na noite anterior tornam a aparecer em força. Agora com os trilhos mais apertados e os arbustros mais altos a ladear era uma festa. E que belos exemplares fomos encontrando trilho afora.

Vamos vendo a estrada nacional ao longe que ora aparece ora desaparece na paisagem. E de repente desembocamos na festa que o sr. Fortes tinha referido. Era cerca da 1h30 da manhã. A festa estava a dar as ultimas e só sobrava o bar e um grupo de bêbados que entoava as modinhas do costume ao som de um acordeão. Nada como refrescar o final da etapa com umas geladinhas.
Estávamos no Centro Comunitário Nossa Senhora da Conceição, umas excelentes e modernas instalações em plena serra. Perguntei a uma senhora que estava a vender as senhas do bar se tinham um local para pernoitarmos, não precisávamos de muito dado que tínhamos saco cama. Tranquilizou-me dizendo que tinham um local para descansarmos. Não estava era à espera que fosse num canto do parque de estacionamento... "Ali não bate o sol de manhã, podem estar à vontade" Ó desgraça.... às 6 da manhã não bate o sol em lado nenhum... Com umas instalações tão gigantescas fiquei sem perceber tamanha generosidade.

A diferença entre dormir ali e no meio do trilho era nenhuma. Lá fomos para debaixo de um alpendre encostar a um cantinho, era mais acolhedor, mas o chão eram ladrilhos. Caraças dureza é isto. Mas o cansaço era extremo e pior ou melhor, mais convencidos ou menos, não havia livro de reclamações. A noite foi como se imagina dura, ainda assim o corpo repousou. Pelo menos não estávamos na serra a correr ou a andar.

Vejam mais fotos neste post do  Eduardo Lourenço no Facebook 

(continuar para a parte 3)

2 comentários:

  1. Via Algarviana... ou Via "Aranha"!?! :)

    ResponderEliminar
  2. Agora fiquei com curiosidade de saber todas as receitas que andaram a provar. Eu sei, este não é um blog gastronómico.

    ResponderEliminar