Com a desculpa de ter feito a minha melhor maratona aproveito para escrever um pouco sobre este ritual que é a Maratona do Porto.
A Maratona do Porto não é igual a nenhuma outra Maratona. Desde logo porque envolve ir ao Porto e muito por culpa da organização essa viagem não é como nenhuma outra viagem.
A Maratona do Porto é como um cabaz de Natal cheio de iguarias. Tem 42 195m como todas as outras, é um facto, mas tem muito mais coisas que só existem aqui. No dia em que faltar uma delas se calhar a Maratona do Porto passa a ser como qualquer outra Maratona e depois olha, se calhar vai-se, ou talvez não. Mas falemos do cabaz chamado Maratona do Porto.


Depois o Hotel Tuela e de um modo geral o grupo HF Hotels, pois acredito que tenham todos a mesma orientação estratégica. Há vários anos que fico no Tuela, (mas acredito que podia ser o Fenix ou outro qualquer). Simpatia, eficiência, preço justo e acima de tudo não se pretende “ordenhar” os atletas. A política de late check out até ás 15h demonstra que o grupo compreende as nossas necessidades. São estes pequenos gestos que fazem a diferença. Bem hajam, voltarei e espero que mantenham sempre esta orientação.


Mas são estes momentos únicos que ficam gravados e que também fazem parte do cabaz: Amigos + Endorfinas + Lello, Uma palavra também para o Restaurante Convívio que fica mesmo em frente ao Tuela e onde fomos muito bem recebidos. Às vezes não é preciso ir muito longe.

"E para mim é este o cabaz da Maratona do Porto. É importante que nenhum destes ingredientes falte para que a receita funcione"
Quanto à maratona em si e a história da que foi a minha 13ª resume-se muito facilmente. Melhor tempo de sempre para o cota, com 3h12m. Assim a modos que 4m31/Km de média. Umas palavras para aqueles que acham que este tempo vale alguma coisa (sem desrespeitar ninguém pois cada um tem os seus limites e objectivos).
Depois do UTAT e se tudo estivesse bem, a minha ideia era encaixar nas ultimas semanas de um plano de treinos e fazer umas séries e uns treinos longos. Como todos os bons planos, este não foi cumprido. Claro que as desculpas eram de boa qualidade, sendo a ultima uma contratura num adutor num treino de séries de 2Km que me fez parar uma semana para massagens de Voltaren. Ainda vi a coisa mal parada mas a minha massagista pessoal esteve à altura. Tirando a habitual rotina de treinos semanais só houve mesmo tempo para descansar, ir à meia da Moita dar um arzinho de corrida e depois ir a Almeirim testar ritmos e perceber que poderia tentar fazer algo de jeito.
Há muitas estratégias para se correr uma maratona. Correr a primeira parte mais controlada e fazer a 2º mais rápida (negative splits), já fiz uma assim; correr sempre ao mesmo ritmo tipo relógio suíço, já fiz uma assim. Depois há também a estratégia que usei. Sabia que sem grandes treinos longos não ia conseguir manter um ritmo constante até final. Inevitavelmente iria quebrar por volta dos 30 ou antes.Assim e dado que no Porto os primeiros 7Km são a descer, a tática passava por rolar nos 4m20/Km e chegando cá abaixo tentar manter abaixo dos 4m30 o máximo possível. Depois era esperar que não estoirasse ou estoirasse o mais tarde possível.
O plano foi mais ou menos cumprido. Arranquei com o Zé Santos e com o Paulo Martins. O Zé ia tentar seguir comigo enquanto desse. O Paulo queria fazer uma média de 4m45 mas rapidamente se juntou à festa. Arrancámos à frente do balão das 3h15 e nunca o vi a não ser pelas costas. Cá em baixo em Matosinhos junta-se o João Paulo Maia que ia para 3h30 ou mais se não aguentasse. Até ao Km 17, 18 tudo estava a correr como pensado. Já cá em baixo sucediam-se os Kms a 4m26, 4m27. O grupo ia unido. So far so good, como diria o optimista a cair de um prédio de onde se atirou. O Paulo Martins dançava à nossa frente e corria de costas, mas a euforia estava perto do fim. O Zé foi o primeiro a descolar do grupo ainda antes da meia. Depois descolou o João Paulo e por fim o Paulo Martins. O Nuno Neves que também se juntou a nós com o João Paulo Maia mantinha-se rijo e fazia-me companhia.

No regresso de Gaia vi o balão das 3h15 quando dei a volta. Estava demasiado perto. Pensava que lhes estivesse a dar 4 ou 5 minutos mas não. Que estranho. Antes ainda de voltar a passar a ponte deixo cair a garrafa de água e como ia precisar dela depois de tomar o gel, baixo-me para a apanhar e saltam umas cãibras nos gémeos. Mau!!! Com calma recuperei. O Nuno ajuda-me a segurar na garrafa enquanto tomo o gel. Depois do tunel por volta do Km 33 o Nuno fica ligeiramente para trás. Faltam já menos de 9km e agora é o costume. Cerrar os dentes e enquanto o corpo der, vai dar. Ainda consigo meter 2 Kms abaixo dos 4m30 e fico impressionado.
Por volta do Km 35 ,naquela zona onde estão uns putos de cabeça cheia a fechar a noite num bar com musica a bombar está uma senhora que me diz assertivamente, daqui para a frente é só cabeça. E é daquelas coisas que precisamos de ouvir embora saibamos que são verdade. E aquelas palavras ecoaram durante uns tempos. O cansaço é enorme a agarramo-nos a tudo. E sem grandes problemas físicos dava a ordem ao corpo. Ouviram? A cabeça diz que é para manter o ritmo. SIGA!!!!
Passo o Pedro Pires que me incentiva e me elogia o esforço. Ao km 40 as cãibras ameaçam aparecer. Pareço o pirata das pernas de pau a correr. Não vai ser agora raios! Faltam menos de 10 minutos. A cerveja fresquinha está à espera. Não sei o tempo que vou fazer. O corpo e o cérebro já estão em serviços mínimos, Olhar para o relógio e mudar para o écran do tempo e fazer contas está fora de questão. Será provavelmente um bom tempo. Chegar! É preciso chegar. Consigo afastar as cãibras, reduzo um pouco o andamento. Tudo é melhor que parar agora. Sem dores e um pouco mais lento sigo nos 4m40 e subo a avenida da Boavista.
Está feita a 13ª e bem feita. Viro à esquerda e olho para o relogio na meta 3h12! Eh Lecas! Belo tempo. Festejo a chegada como deve ser e está feita a minha melhor maratona. Agora era só beber umas enquanto iam chegando os muitos amigos e o corpo não arrefecia. Foi uma grande maratona. A estratégia resultou e o record caiu. Um dia tenho de treinar a sério para fazer a maratona!
Por volta do Km 35 ,naquela zona onde estão uns putos de cabeça cheia a fechar a noite num bar com musica a bombar está uma senhora que me diz assertivamente, daqui para a frente é só cabeça. E é daquelas coisas que precisamos de ouvir embora saibamos que são verdade. E aquelas palavras ecoaram durante uns tempos. O cansaço é enorme a agarramo-nos a tudo. E sem grandes problemas físicos dava a ordem ao corpo. Ouviram? A cabeça diz que é para manter o ritmo. SIGA!!!!

Está feita a 13ª e bem feita. Viro à esquerda e olho para o relogio na meta 3h12! Eh Lecas! Belo tempo. Festejo a chegada como deve ser e está feita a minha melhor maratona. Agora era só beber umas enquanto iam chegando os muitos amigos e o corpo não arrefecia. Foi uma grande maratona. A estratégia resultou e o record caiu. Um dia tenho de treinar a sério para fazer a maratona!
Parabéns a todos, e foram muitos, os que se estrearam na melhor maratona do país. Boa escolha. Uma palavra para o Luis Canhão, finalmente maratonista, now you know it! Agora é sempre a melhorar.
P.S. O meu fenix 2 diz que valho 3h07 na maratona. Um dia vou-lhe dar razão. Um dia...