quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Maratona do Porto 2014 - Celebrando a melhor e maior Maratona de Portugal



Com a desculpa de ter feito a minha melhor maratona aproveito para escrever um pouco sobre este ritual que é a Maratona do Porto.

A Maratona do Porto não é igual a nenhuma outra Maratona. Desde logo porque envolve ir ao Porto e muito por culpa da organização essa viagem não é como nenhuma outra viagem.

A Maratona do Porto é como um cabaz de Natal cheio de iguarias. Tem 42 195m como todas as outras, é um facto, mas tem muito mais coisas que só existem aqui. No dia em que faltar uma delas se calhar a Maratona do Porto passa a ser como qualquer outra Maratona e depois olha, se calhar vai-se, ou talvez não. Mas falemos do cabaz chamado Maratona do Porto.

Para se ir fazer a Maratona do Porto tem de se ir nos autocarros que a organização gentilmente subsidia aos mouros e que a Ana Pereira organiza de forma exemplar. Também me armo em organizador de coisas (pequenas e não desta dimensão) por isso sei a trabalheira que é lidar com centenas de pessoas, pagamentos, mails, duvidas, problemas, etc. Para quem vai parece fácil, mas sei que não é.
  
Obrigado Maria sem Frio nem Casa. Se não houvesse autocarros, para mim já não era a mesma Maratona. Espero que a organização continue a pensar como eu. Talvez um dia tenham de ser comboios ou aviões, mas a lógica é a mesma. Uma viagem descansado, à conversa, rever amigos, conhecer outros, indispensável no pacote.
Depois o Hotel Tuela e de um modo geral o grupo HF Hotels, pois acredito que tenham todos a mesma orientação estratégica. Há vários anos que fico no Tuela, (mas acredito que podia ser o Fenix ou outro qualquer). Simpatia, eficiência, preço justo e acima de tudo não se pretende “ordenhar” os atletas. A política de late check out até ás 15h demonstra que o grupo compreende as nossas necessidades. São estes pequenos gestos que fazem a diferença. Bem hajam, voltarei e espero que mantenham sempre esta orientação.
Por fim reencontrar os amigos e passar bons momentos, quer no jantar pré-maratona, quer no almoço pós-maratona. Este ano o almoço extravasou um pouco com uma enorme celebração das 50 maratonas do António Guerreiro e se o autocarro não saísse ás 17h da Rotunda da Boavista….

Mas são estes momentos únicos que ficam gravados e que também fazem parte do cabaz: Amigos + Endorfinas + Lello, Uma palavra também para o Restaurante Convívio que fica mesmo em frente ao Tuela e onde fomos muito bem recebidos. Às vezes não é preciso ir muito longe.

Por fim a razão de tudo isto, a Maratona. É bom ver que a Maratona do Porto é agora a maior Maratona de Portugal. Bairrismos à parte, a organização tudo faz para isso. Sempre uma atenção com um preço especial para os early adopters ou os maratono-dependentes (já vai nos 20€.... comportem.se!). Depois leva-nos de autocarro, oferece-nos uma pasta party que é logo onde começa o convívio e o reencontro de amigos, até singelos mimos como café e chá na partida e cerveja na meta. Dizia eu que estes mimos fazem a diferença porque tudo o resto já é de nível excelente.

"E para mim é este o cabaz da Maratona do Porto. É importante que nenhum destes ingredientes falte para que a receita funcione"


Quanto à maratona em si e a história da que foi a minha 13ª resume-se muito facilmente. Melhor tempo de sempre para o cota, com 3h12m. Assim a modos que 4m31/Km de média. Umas palavras para aqueles que acham que este tempo vale alguma coisa (sem desrespeitar ninguém pois cada um tem os seus limites e objectivos).

Depois do UTAT e se tudo estivesse bem, a minha ideia era encaixar nas ultimas semanas de um plano de treinos e fazer umas séries e uns treinos longos. Como todos os bons planos, este não foi cumprido. Claro que as desculpas eram de boa qualidade, sendo a ultima uma contratura num adutor num treino de séries de 2Km que me fez parar uma semana para massagens de Voltaren. Ainda vi a coisa mal parada mas a minha massagista pessoal esteve à altura. Tirando a habitual rotina de treinos semanais só houve mesmo tempo para descansar, ir à meia da Moita dar um arzinho de corrida e depois ir a Almeirim testar ritmos e perceber que poderia tentar fazer algo de jeito.
Há muitas estratégias para se correr uma maratona. Correr a primeira parte mais controlada e fazer a 2º mais rápida (negative splits), já fiz uma assim; correr sempre ao mesmo ritmo tipo relógio suíço, já fiz uma assim. Depois há também a estratégia que usei. Sabia que sem grandes treinos longos não ia conseguir manter um ritmo constante até final. Inevitavelmente iria quebrar por volta dos 30 ou antes.Assim e dado que no Porto os primeiros 7Km são a descer, a tática passava por rolar nos 4m20/Km e chegando cá abaixo tentar manter abaixo dos 4m30 o máximo possível. Depois era esperar que não estoirasse ou estoirasse o mais tarde possível.

O plano foi mais ou menos cumprido. Arranquei com o Zé Santos e com o Paulo Martins. O Zé ia tentar seguir comigo enquanto desse. O Paulo queria fazer uma média de 4m45 mas rapidamente se juntou à festa. Arrancámos à frente do balão das 3h15 e nunca o vi a não ser pelas costas. Cá em baixo em Matosinhos junta-se o João Paulo Maia que ia para 3h30 ou mais se não aguentasse. Até ao Km 17, 18 tudo estava a correr como pensado. Já cá em baixo sucediam-se os Kms a 4m26, 4m27. O grupo ia unido. So far so good, como diria o optimista a cair de um prédio de onde se atirou. O Paulo Martins dançava à nossa frente e corria de costas, mas a euforia estava perto do fim. O Zé foi o primeiro a descolar do grupo ainda antes da meia. Depois descolou o João Paulo e por fim o Paulo Martins. O Nuno Neves que também se juntou a nós com o João Paulo Maia mantinha-se rijo e fazia-me companhia. 
A meia foi feita com 1h34, uma boa marca que poderia dar 3h08 em modo relógio suíco. Curiosamente a estimativa que o meu Fenix 2 tinha dado após Aleirim para o tempo à Maratona. Como não era dia de relógio suíço não me deixei impressionar. Aquele tempo à meia não iria apenas duplicar no final. Restava saber qual era a fatura a pagar.

No regresso de Gaia vi o balão das 3h15 quando dei a volta. Estava demasiado perto. Pensava que lhes estivesse a dar 4 ou 5 minutos mas não. Que estranho. Antes ainda de voltar a passar a ponte deixo cair a garrafa de água e como ia precisar dela depois de tomar o gel, baixo-me para a apanhar e saltam umas cãibras nos gémeos. Mau!!! Com calma recuperei. O Nuno ajuda-me a segurar na garrafa enquanto tomo o gel. Depois do tunel por volta do Km 33 o Nuno fica ligeiramente para trás. Faltam já menos de 9km e agora é o costume. Cerrar os dentes e enquanto o corpo der, vai dar. Ainda consigo meter 2 Kms abaixo dos 4m30 e fico impressionado.

Por volta do Km 35 ,naquela zona onde estão uns putos de cabeça cheia a fechar a noite num bar com musica a bombar está uma senhora que me diz assertivamente, daqui para a frente é só cabeça. E é daquelas coisas que precisamos de ouvir embora saibamos que são verdade. E aquelas palavras ecoaram durante uns tempos. O cansaço é enorme a agarramo-nos a tudo. E sem grandes problemas físicos dava a ordem ao corpo. Ouviram? A cabeça diz que é para manter o ritmo. SIGA!!!!

Passo o Pedro Pires que me incentiva e me elogia o esforço. Ao km 40 as cãibras ameaçam aparecer. Pareço o pirata das pernas de pau a correr. Não vai ser agora raios! Faltam menos de 10 minutos. A cerveja fresquinha está à espera. Não sei o tempo que vou fazer. O corpo e o cérebro já estão em serviços mínimos, Olhar para o relógio e mudar para o écran do tempo e fazer contas está fora de questão. Será provavelmente um bom tempo. Chegar! É preciso chegar. Consigo afastar as cãibras, reduzo um pouco o andamento. Tudo é melhor que parar agora. Sem dores e um pouco mais lento sigo nos 4m40 e subo a avenida da Boavista.

Está feita a 13ª e bem feita. Viro à esquerda e olho para o relogio na meta 3h12! Eh Lecas! Belo tempo. Festejo a chegada como deve ser e está feita a minha melhor maratona. Agora era só beber umas enquanto iam chegando os muitos amigos e o corpo não arrefecia. Foi uma grande maratona. A estratégia resultou e o record caiu. Um dia tenho de treinar a sério para fazer a maratona! 

Parabéns a todos, e foram muitos, os que se estrearam na melhor maratona do país. Boa escolha. Uma palavra para o Luis Canhão, finalmente maratonista, now you know it! Agora é sempre a melhorar.

P.S. O meu fenix 2 diz que valho 3h07 na maratona. Um dia vou-lhe dar razão. Um dia...

6 comentários:

  1. Mais um valente escrito. Grande Maratona...parabéns por ambos. Revi-me na estratégia (embora uns segundos por km mais lento) :) ....e a prova só teve uma pequena diferença...eu estourei mesmo aos 37km...faltou-me a senhora aos 35km a dizer que "agora é só cabeça" :) ...acabei de rastos, vê lá que nem a cervejinha que tanto gosto consegui enfiar no bucho no fim :) ..
    Um abraço

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  2. Parabéns, Paulo. Estava com saudades dos teus fabulosos textos. E quanto à Maratona, acho que, com a evolução que tens tido, as 3h não são impossíveis. Tens trabalhado bem para isso. Grande abraço.

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  3. Fim de semana perfeito e grande tempo!
    Parabéns!
    Um abraço.

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  4. Paulo...a Maratona do Porto...simplesmente é isto tudo! Não diria melhor!

    E não é por acaso que cresce a cada ano.

    A minha singela contribuição enche-me de orgulho. O pouco que possa contribuir para a engrandecer e mostrá-la ao mundo, faço-o! Orgulho de Portugal ter uma Maratona como o é a Maratona do Porto.

    E para ti Paulo Pires, Parabéns pela tua Maratona, e parabéns por tão bem descreveres a melhor Maratona de Portugal!

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  5. Muitos parabéns, que grande tempo! Quero ver se consigo ir fazer a maratona do Porto em 2015

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  6. Parabéns, grande tempo.

    Espero um destes dias fazer esta distancia.

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