Embora tivesse dormido uns breves momentos em que não estava alguém a montar uma tenda dentro do pavilhão, e montaram várias, já bastante tarde com o respeito pelos outros, bem típico de um tuga. Tal como tinha antecipado a partida às 4 da manhã não traria benefícios a ninguém. Não iria ser possível dormir algo que se visse, e bem que tentámos a partir das 9 e pouco da noite. Mas também seria pouco razoável esperar pelas 4 horas acordado.
Mas isso estava já enterrado. O ambiente era eléctrico. Para um observador ocasional parecia a partida de uma prova como tantas outras. Centenas de participantes iam-se encontrando e reencontrando, piadas, fotos, fotos sem fim. Lá fora a chuva iniciou uma pausa e a pouco e pouco íamos tomando a pista do estádio de assalto. Mas quando se olhava para muitos dos companheiros transparecia algo de diferente. Nunca tanta gente se estreou numa prova de 100Km em Portugal. Quase 200 pessoas à partida.
Eu nem pensava no que aí vinha. Já há 2 dias que só pensava em partir e começar a correr. Mas agora ali ,naqueles últimos instantes, a ansiedade tinha desaparecido. Sabia que tinha feito o trabalho de casa. Bem ou mal, tinha-me preparado. Nos ultimos tempos já sentia o corpo a pedir para abrandar e para trazer depressa o desafio. Queria ultrapassar o desafio. Era para isso que ali estava, que tinha treinado desde Fevereiro. É certo que tinha sido um treino ortodoxo. Não o vou descrever de novo. É lerem este blog desde a Maratona de Sevilha. Diria mesmo que está aqui todo o plano de treinos para uma prova como a de Portalegre. Diria que quem cumprir este plano estará naquela partida, naquele estádio, exactamente como eu estava. Desejoso de ultrapassar o desafio.
Os Xutos tocavam e o speaker debitava umas palavras distorcidas que só aqui e ali se percebiam. Eu refazia mentalmente a razão e o percurso que me trouxe até aquele instante. Dá uma satisfação enorme estar nestas grandes epopeias quando demorámos meses a planear, quando antecipámos mil vezes o momento, em treinos, noutras provas. Já lá dizia o poeta que o importante é partir. Sentia uma alegria enorme por estar a fazer parte daquela festa e sentir-me 100% pronto para vencer a batalha. Lembrava-me do João Cunha e do seu desafio "vamos fazer Ronda", lembrava-me de ter mudado para Portalegre em vez de Ronda, lembrava-me de todo o percurso.
Os Xutos tocavam e o speaker debitava umas palavras distorcidas que só aqui e ali se percebiam. Eu refazia mentalmente a razão e o percurso que me trouxe até aquele instante. Dá uma satisfação enorme estar nestas grandes epopeias quando demorámos meses a planear, quando antecipámos mil vezes o momento, em treinos, noutras provas. Já lá dizia o poeta que o importante é partir. Sentia uma alegria enorme por estar a fazer parte daquela festa e sentir-me 100% pronto para vencer a batalha. Lembrava-me do João Cunha e do seu desafio "vamos fazer Ronda", lembrava-me de ter mudado para Portalegre em vez de Ronda, lembrava-me de todo o percurso.
E quando o Bono cantava where the streets have no name lá fomos nós precisamente para esse sítio.
À passagem por uma zona com um ribeiro, cheia de pedras escorregadias e de pedras incrustadas no chão seguia com mais cuidado. Tenho sempre algum receio destas zonas, de poder acabar logo ali o trabalho de meses, de uma forma parva e totalmente desnecessária. Sinto uma pedra que se solta à minha passagem, e alguns momento depois um barulho de alguém a cair desamparado e a bater no chão. Volto atrás, juntaram-se logo várias pessoas. Era o Carlos que tinha acabado de se estatelar e estava ainda um bocado abanadado. Sangrava do sobrolho e do lábio. Alguém desencantou logo umas folhas de papel absorvente. O Carlos depois de se refazer da queda e sem grandes hipóteses de avaliar as feridas decidiu seguir. Fui ali ao pé dele e tentava ajudá-lo a perceber a dimensão dos cortes. Felizmente para ele as feridas não eram graves e o sangue rapidamente parou. Ficou apenas com cara de quem tinha andado à pêra :)
A chuva fazia-nos companhia. Nem sempre, mas por vezes grossa e fria. Ficávamos que nem pintos e arrefecia-nos para além do que era preciso.
Rapidamente veio o primeiro abastecimento. Ainda noite cerrada. O terreno alterou-se, estávamos agora a correr por estradões largos de eucaliptal e subíamos suavemente para Alegrete. Daquelas subidas que maçam. Não dá para andar porque fica muito lento mas correr é duro. Quando a coisa empinava aproveitavam-se os bastões e passa-se a marcha rápida apoiada.
Alegrete surge rapidamente e dá o mote para o resto da prova. Embora ainda não fossem 6 da manhã a vila parecia em festa tal a quantidade de gente que estava pelas ruas, desde logo à porta da muralha que passámos para entrar na vila após a subida. O coreto era um mar de gente da terra, lá em cima, cá em baixo. Havia cafés abertos. Que vida fantástica que a prova deu à terra. Recuperadas algumas forças e repostos os níveis era altura de começar a subir para as antenas. A subida para as antenas era bem mais simples do que o previsto. Até que se começasse a subir com uma inclinação digna desse nome muitos Kms passariam. Durante essa subida começaram-se a definir os companheiros naquele ritmo. O Carlos aparecia e desaparecia bem como o trio que tinha ganho o 2º lugar por equipas 1 semana antes nos 101Km de Ronda... O Herculano, o Mimoso e o Ricardo... gente doida que colecciona provas de 100Km todas as semanas.
Acabei por chegar às antenas bem dentro do horário que tinha planeado. Tinha traçado alguns objectivos. Embora esta fosse a minha primeira prova de 100Km não quis deixar de traçar três objectivos, a saber:
- acabar - este é óbvio e era o único que teria de ser cumprido a todo o custo
- acabar antes da meia noite - 20h de prova. Isto permitia ainda acabar com o evento 24h a correr a decorrer. Imaginava eu que estivessem algumas pessoas nas bancadas do estádio e que fosse um evento de algum modo participado pela população da cidade.... enfim.
- acabar de dia - 17h de prova. Isto permitiria não voltar a usar o frontal. Lembro-me bem de o guardar na mochila por volta das 6 e pouco da manhã e de desejar não o voltar a ver nesse dia. Seria bom sinal.
Ora neste exercício puramente teórico de definição de objectivos parecia-me que se chegasse às antenas (30Km) ao fim de 5 horas, com a grande dureza que tal pressupunha, o resto seria canja para fazer em 12-13h. Estava a chegar às antenas com 4 horas de prova apenas. É certo que tinha achado a subida bem mais fácil do que tinha imaginado. Um ultimo troço duro de algumas centenas de metros e pouco mais. Só isto Portalegre? Bah! Mas não embandeirei em arco. Nunca tinha feito mais de 60Km. O que iria acontecer para além desta distância? Lembro-me bem da forma como cheguei ao fim no Oh Meu Deus de Vila de Rei, 60Km... Mais 40Km? Ui, ui...
Nas antenas perdi algum tempo pois tive de fazer manutenção aos pés. São o meu ponto fraco e tenho de fazer manutenção preventiva sempre que pressinto alguma zona a ser massacrada recorro a doses maciças de vaselina que aplico mesmo por cima das meias. Recomendo! Aproveitei para tirar também algumas pedras e terra que se vão acumulando. Com isto o Carlos que vinha mais ou menos a par na subida ganhou alguma distancia.
Seguia-se um trilho de BTT que nos trouxe das antenas até 300 metros mais para baixo num fósforo. Saltos e mais saltos, um pouco de risco aqui nesta zona mas estava a saber bem descer depressa pelo trilho das biclas.
Até ao Km 38 segui sozinho. Sentia-me bem. Não me passava pela cabeça que tinha de correr 100Km ou que faltavam 70 e tal Kms. Quando pensava no que faltava pensava apenas em termos de tempo e do que me faltava desfrutar. Sabia que havia de estar o resto do dia a correr, o que me importava quantos Kms faltavam. Ainda não eram 9 da manhã, tínhamos o dia todo pela frente e não fazia ideia de como iria acabar. Enquanto isso corria sempre que conseguia e naquela zona não havia desculpa para não o fazer. Não tirei muitas fotos por dois motivos. Até meio do dia o nevoeiro não deixava ver nada de jeito. Quando o nevoeiro se dissipou apercebi-me que a lente estava suja e não havia em mim um cm2 seco com que a pudesse limpar. O aspecto horrível com que as fotos ficavam foram-me fazendo esquecer de usar a máquina.
Desde que partimos que a chuva era uma constante. O tecto de nuvens estava muito baixo e no nosso sobe e desce constante sempre que entrávamos nuvem adentro, lá vinha ela chatear. Nos vales dava para secar enquanto não tornávamos a subir.
Antes de chegar à barragem onde estava novo abastecimento começo a ver um companheiro ao longe que me parece o Carlos. Estávamos agora numa zona muito bonita que contornava a barragem e aproximava-me dele a pouco e pouco. Apanho-o ainda antes de chegarmos à ponte e desabafo, bolas estava farto de vir sozinho, ainda bem que te apanhei. Passámos aquele abastecimento onde belas chouriças fumegavam num grelhador eléctrico. Fiquei abismado a pensar que raio de inversor eles para ali tinham que suportava um grelhador eléctrico??! Uma fatias de choriço, nem me lembro se a 1ª mini de muitas que estavam para vir e siga.
Ainda partimos juntamente com o trio campeão mas na sucessão de subidas que se seguia acabei por ficar com o Carlos e outro companheiro que se juntou a nós. Embora pudesse seguir um pouco mais rápido a verdade é que prefiro seguir com companhia à conversa e nesta prova o tempo era o menos importante, desde que estivesse a fazer uma média confortável. A experiência do Carlos em várias ultras com mais de 100Km transmitia-me também muita confiança. E lá seguíamos com ele a enumerar as Ultras do curriculum, as muitas peripécias vividas e eu a tomar notas. Os Kms voavam.
Ainda partimos juntamente com o trio campeão mas na sucessão de subidas que se seguia acabei por ficar com o Carlos e outro companheiro que se juntou a nós. Embora pudesse seguir um pouco mais rápido a verdade é que prefiro seguir com companhia à conversa e nesta prova o tempo era o menos importante, desde que estivesse a fazer uma média confortável. A experiência do Carlos em várias ultras com mais de 100Km transmitia-me também muita confiança. E lá seguíamos com ele a enumerar as Ultras do curriculum, as muitas peripécias vividas e eu a tomar notas. Os Kms voavam.
Começamos a ver Marvão surgir ao longe depois de passarmos Porto da Espada e de termos feito o 3º pico do dia. As núvens tinham desaparecido de vez, ou pelo menos as de baixa altitude. O sol espreitava agora entre nuvens altas e já nos tinha obrigado a abandonar os casacos. A vista era deslumbrante. Um vale gigantesco é o que nos separa de Marvão. Estamos quase à mesma cota e vamos ter de transpor todo aquele vale da única forma possível, descer a encosta e subir a de Marvão. Já tínhamos passado dos 50 Kms mas pouco importava. Agora só já pensava em chegar a Marvão, tomar um banho e trocar de roupa e comer qualquer coisa revigorante e quente.
Claro que entre o pensar e o fazer era toda uma dificuldade que faltava. Foram quase 2 horas para fazer aquele vale e chegar por fim a Marvão numa das mais duras, senão mesmo a mais dura escalada da prova. 10Km em 2 horas. Ainda conseguimos reagrupar com o trio maravilha mas eles fizeram uma rápida paragem no abastecimento e deixaram-nos para trás definitivamente.
A paragem em Marvão teve tanto de bom como de mau. O que deveria ser o melhor abastecimento tinha vários problemas a decorrer. Desde logo o banho anunciado pela organização não existia. Quando se vem a imaginar sensações que depois se desvanecem de repente fica aquele sabor amargo. Mas nada poderia já afectar-me. Estávamos ao Km 60 com 8h30 de prova. É certo que tinhamos perdido meia hora para os 30Km com 4h mas o que era isso de meia hora. Peanuts.
Não houve banho mas houve troca de roupa. Meia secas, mas não arrisquei trocar pelos meus ténis mais quentes de Gore-Tex, pelo contrário, percebi que os devia ter usado na primeira parte da prova sempre a chover e com os pés molhados e ter agora os mais frescos à minha espera. Não ia arriscar.
Vá lá que ainda consegui comer a penúltima sopa. Soube que nem ginjas. O abastecimento estava semi-abandonado, diria em auto-gestão. Depois de comer e encher o saco de água pusémo-nos a andar dali.
Ainda antes de começarmos a descer, um turbilhão de emoções estremece-me quando ligo para casa. Soube mesmo bem falar com as minhas princesas. Sabiam que estava em Marvão. Em casa estavam a seguir a prova ao rubro. A genial ideia da organização de ter uma folha de cálculo da google a ser actualizada nos postos de controlo, bem como um chat que juntava todos os familiares e amigos com a organização foi, como tinha previsto, simplesmente genial. Toda a gente podia seguir a nossa prova em directo, saber onde estávamos, sofrer com as nossas passagens, preocupar-se quando estávamos a demorar demais a chegar ao próximo abastecimento. Lá em casa sabiam bem mais que eu. Sabiam quem ia à frente, onde estavam os meus amigos e companheiros, onde está este? testava eu, e aquele? e o outro?
Fiquei emocionado com a chamada. E ganhei forças extra para acabar. Já não tinha duvidas que ia acabar a prova. Faltavam 40 Km. Nada conseguiria impedir-me. Estava agora em terrenos nunca dantes corridos mas parecia que estava a começar. Mal começamos a descer surge uma calçada medieval que é a nossa companhia até cá abaixo à Portagem. Foi o princípio de uma fase muito massacrante que nos havia de arrasar os pés Kms e Kms até Castelo de Vide.
Os próximos 30Km haveriam de ser transpostos agora em 5h45, uma média arrasante, que demonstrava já também algum cansaço mas sobretudo a dureza do piso e também das fortes subidas que nos haveriam de fazer passar 3 picos. Mas guardo sobretudo na memória a massacrante calçada medieval que, se me dessem um Caterpillar arrancava de bom grado encosta abaixo. É que foram muitos Kms daquela porcaria. Não deixa correr, causa um atrito enorme dentro dos ténis, gera um calor enorme nos pés, o piso é duro como um par de cornos, dos rijos, e tudo somado são muitos kms de frustração, em que não consegui fazer o que mais gosto e fiquei com os pés feitos num bolo. Foi só gerir o prejuízo até me conseguir ver livre daquela trampa.
O Carlos já vai a gerir o esforço. Eu não consigo ir tão devagar. Casa passada que dou é desconfortável, os pés foram muito massacrados. Nesta fase percebo que correr é menos penoso. Seja porque mentalmente estou a ir para o final mais depressa, seja porque os pés ficam mais anestesiados com a corrida, tenho de seguir a correr e afasto-me um pouco do Carlos. É altura de cerrar os dentes e seguir. Já falta pouco. Mas não faltava. No Km 88 não estava nenhum abastecimento, apenas pessoal da organização a avisar que estava aos 92 Km depois de uma terrível subida e respectiva descida. E aos 92 Km após parar um pouco no abastecimento sou apanhado de repente por um ataque de frio que me fez vestir o corta-vento e sair a correr para aquecer. Nem enchi o saco de água. No abastecimento avisaram que vinha aí um novo pico para transpor. Que era o ultimo.
Ia eu a tentar controlar-me do ataque de frio quando vejo um carro vir pela estrada de terra em direcção a mim. Olho sem ver nada. O vidro abre-se e pergunto-me que raio me quer este agora. Lá dentro um sorriso enorme por me ver. Tive de juntar forças para pensar. Era um colega meu que tinha ficado de me ir ver a passar algures no percurso. Já tinha ido a Castelo de Vide mas falhou a intersecção. Andava agora às voltas ali por aquela zona e do nada deu comigo. Comprimento-o, agradeço mas digo-lhe que estou com um ataque de frio e que não posso estar ali parado, tenho de correr para aquecer. Despedimo-nos mas havia de o encontrar mais 2 ou 3 vezes. Perseguiu-me e tirou-me várias fotos. Até correu 200m quando deixou o carro a tapar um acesso. Foi uma ajuda que me levou até ao início da descida para Portalegre.
Nesta altura talvez com 95 Km e Portalegre lá em baixo só faltava deixarem-nos cortar a meta. Mas a organização aqui complicou sem necessidade. Já em plena descida para a cidade, era a brincar. Ainda nos fizeram voltar a subir um morro e contornar toda a cidade. Tinha-me juntado primeiro a um companheiro e depois fomos apanhando vários outros pelo caminho. Com mais dores ou dificuldades todos acabaram por se juntar no nosso comboio. Éramos 5 a maldizer tudo e todos. A cada cruzamento que não era para o estádio era uma lamentação enorme. Os 100Km já tinham passado e não havia meio de embicarmos para o estádio. Mais uma descida, mais uma subida, mais um trilho a descer, mais uma curva. Há muito tempo que vinhamos a ouvir o speaker da prova mas estava difícil de acabar. Mas era já inevitável. A UTSM estava a dar as ultimas. Os meus objectivos iam ser todos superados. 16h43. O sol estava a pôr-se no horizonte. Na volta ao estádio preparámos a chegada à meta. Os maçaricos iam à frente (eu e um companheiro), escoltados pelos 3 companheiros já mais que batidos nestas coisas de 100 Km e mais. Deve ter sido uma bela foto. Lembro-me de uma senhora com a máquina a fazer o retrato na meta. Mas infelizmente nunca apareceu tal foto. Fiquei com pena. Não ter uma foto de finisher da UTSM a minha primeira Ultra 100K. Ainda por cima tínhamos ensaiado a coreografia da chegada e tudo. Acontece aos coxos. Não devia, mas acontece.
Felizmente a organização estava atenta e este ultimo parágrafo está desactualizado...
Abraços, cumprimentos, festa. Tinha passado um belo dia a conhecer todas aquelas serras em pormenor. Era tempo de ligar para casa a anunciar a chegada. Depois desfrutar de tudo o que a organização tinha planeado para nos servir. Massagem, um revigorante banho quente, um jantar que me soube como um manjar dos deuses e esperar pelos companheiros de equipa que faltavam chegar.
Sentia um misto de alívio, cansaço, felicidade e conquista. Não tinha mazelas e tirando os pés massacrados pelo piso senti que tinha feito uma prova num ritmo confortável. Nunca sofri demais, nunca pensei que não ia conseguir, pelo contrário. Fisicamente estava confortável. Massacrado mas confortável. Acho que o sabor do sucesso abafava muito do cansaço. Ainda tentámos vir directos a conduzir para casa, já altas horas depois de chegarem todos e se recomporem mas o cansaço ameaçava a viagem e depois de Coruche encostámos para fechar um pouco os olhos. Às primeiras horas da manhã estávamos em Lisboa, depois de um magnífico Sábado a correr em Portalegre.
Como imaginam este é um pálido retrato de tudo o que aconteceu durante a prova. Não teria tempo, nem vocês paciência, de vos contar todas as histórias, emoções e sensações que vivi. O meu conselho é preparem-se minimamente e façam uma Ultra de 100 Km ou mais. Qualquer pessoa minimamente preparada acaba esta prova dentro do tempo máximo (25h). O ultimo classificado deve ter corrido muito pouco. É uma lição para o nosso corpo e para a nossa mente. Basta fixar objectivos razoáveis, treinar e fazer.
O + da UTSM
A simpatia e dedicação, a organização, o uso da internet, a partilha de informação, o jantar, não ter faltado comida nem bebida para ninguém, nem para quem precisava de comer mais um pouco e beber um pouco mais :), a dureza da prova, a minha 1ª ultra 100K, o voltar para ver a organização fazer ainda melhor, o preço, a hospitalidade, o Alegrete, as mines, e foram tantas, nos abastecimentos e nos cruzamentos, os enchidos, o tinto e a febra nos abastecimentos, a boa disposição de toda a gente por todo o lado, o João e as suas fotos ao Km 92, o casal de velhotes espanhol no ultimo pico sai de dentro de um carro e à chuva me vem perguntar se preciso de gel, barras, qualquer coisa, a água gelada que me deram, o Carlos e a sua companhia, a corda para rapel, o sucesso desta 1ª edição, a felicidade da organização por nos ver felizes, a genuinidade de tudo e de todos.
O - da UTSM
Os Kms de calçada, os Kms de calçada e os Kms de calçada, a hora da partida, a falta de respeito de quem monta tendas dentro de pavilhões com toda a gente a dormir e o traçado dos Kms finais. Tudo coisas que se resolvem facilmente.
Agora amigos, o limite é o céu! Nunca esqueçam que o que importa é partir!
Fotos e videos para todos os gostos aqui. Se encontrarem a minha foto de finisher avisem :(
E já avisaram. A organização estava atenta, mais uma vez, e num instante disponibilizou a foto.
Obrigado por mais esta :)