Adeus Garmin 405!
Mais de 3 anos, mais de 500 treinos e corridas, mais de 5.500Km, mais de 550 horas, mais de 88.000m de elevação, mais de meio milhão de calorias. Foi o meu companheiro fiel que bastante me ajudou a atingir os meus objectivos. Já era tempo de descansar um pouco. Hoje um novo companheiro tomou o seu lugar. A tarefa não vai ser simples, fazer esquecer o fiel 405. Com todas as suas nóias e limitações, foi uma boa máquina.
Apresento-vos o novo companheiro de corridas. O Garmin 610. A ideia desta pequena análise não é fazer uma análise a fundo do relógio e das suas potencialidades. Isso já existe e não é possível fazer melhor que o DC Rainmaker na sua análise em todos os detalhes do relógio. É seguirem o link e lerem. Se não dominarem a língua inglesa, usem uma mente aberta a leiam a versão cómico-traduzida.
A ideia deste texto é dar-vos a minha opinião bem como destacar de forma simples o que é bom e o que é menos bom. Mau ainda não dei por nada. Também irei actualizando este texto sempre que achar necessário.
Como a minha experiência é do 405 este texto irá fundamentalmente comparar os 2 e não detalhar as funcionalidades.
O 405 era uma bela máquina. Usei todas as funções e espremi o tipo durante estes 3 anos. As únicas nóias que me chateavam um pouco eram:
- o aro é inutilizável com água, chuva, humidade ou suor. A ideia era boa mas em ambiente de prova ou com chuva é esquecer manipular o relógio. Não era assim tão grave. Bloqueava-se o aro e pronto. Claro que se fosse à noite, com o aro bloqueado a luz era mentira, por exemplo. No Inverno as camisolas de mangas compridas a roçar no aro tinham resultado imprevisíveis, etc. Enfim não era uma solução perfeita e por isso a Garmin abandonou a ideia
- o visor algo pequeno e com um LCD de qualidade duvidosa. Pouco nítido e embora fosse possível ajustar o contraste... não havia um ponto óptimo. Agora percebo que tal se devia à qualidade do LCD. Para perceberem melhor o que quero dizer com isto vejam esta imagem:
A qualidade do LCD e o contraste do 610 envergonham o 405 |
- a reduzida autonomia (8 horas anunciadas mas 6 e pouco era o mais razoável. Raramente me preocupou porque não fazia provas tão grandes
- o aspecto, quase de relógio normal mas ao mesmo tempo um pouco gigante. Ainda assim perfeitamente utilizável como relógio normal. Como era algo grande dava nas vistas e era preciso explicar que não era uma máquina de lavar roupa de pulso (era o que me fazia lembrar aquele aro à volta)
De resto era uma máquina perfeita. Alguns dos problemas que tive foram prontamente resolvidos pela assistência Garmin em Portugal com a troca por outra unidade. Este tipo de serviço que espero que a Garmin mantenha sempre, também é um grande descanso na escolha de um novo relógio.
O 610 em termos de funcionalidades não traz nada de espectacularmente novo relativamente à linha 4xx. Agora o visor e o interface, isso sim. Uma verdadeira pedrada no charco. Que evolução! Um dia todas as cebolas serão assim. Não é possível fazer muito melhor num espaço tão pequeno. Um visor resistivo, ou seja funciona com um pouco mais de pressão e não com o leve aproximar do dedo (como a ultima geração de smartphones). Isso é bom porque não é activado pela roupa e funciona igualmente bem com luvas. Mesmo a chover torrencialmente é possível usar o relógio sem qualquer problema e até conseguem usá-lo debaixo de água. Não é à prova de água mas respeita a norma IPX7 ou seja pode estar até 30 minutos a 1 metro de profundidade. Isto não quer dizer que dê para nadar com ele. Uma coisa é estar ali quietinho a 1 metro durante meia hora, outra coisa é suportar a água a bater-lhe, os mergulhos etc. Diria que no máximo uma chuvada em cima para o rapaz sentir a natureza é o ideal.
Uma coisa que não é significativa mas é positiva é o design. É o Garmin mais bonito até à data. Tem boa pinta. Impressiona o mulherio que, já se sabe, nestas coisas percebe do assunto. Primeiro o tipo dá nas vistas. Depois quando começam a mostrar o interface a funcionar. Faz sucesso.
Embora não seja muito mais pequeno, é mais baixinho que a linha 4xx, e como está bem conseguido, já entra na categoria de relógio de pulso e passa por relógio vulgar sem qualquer problema. Uma carga faz 4 semanas como relógio ou 1 semana com 45 minutos diários de treino. Gosto desta característica. O relógio está sempre convosco e se fôr preciso está logo ali pronto a registar um track. A conexão para carregar também foi reformulada. Agora já não usa aquela pinça enorme. Um encaixe que fica no lugar com ímanes é perfeitamente compatível com manter o relógio no pulso e correr.
Se corre ultra maratonas, precisa de mais autonomia no relógio ou vai estar longe de uma tomada durante uns tempos, saiba que a autonomia do relógio é um assunto do passado. O 610 suporta carga durante o registo do track e com um carregador USB de emergência é simples fazer com que a bateria do relógio dure para sempre. Veja a solução neste link.
A vibração também é uma novidade e uma boa novidade. Por vezes o beep é demasiado fraco ou é abafado pela roupa ou vamos a ouvir musica. Com a vibração não escapa.
A cinta HRM (Heart Rate Monitor) é excelente. Muito mais leve, mal se sente e precisa de muito menos pressão para se manter no lugar. Excelente evolução para o bacamarte que vinha com o 405. A cinta HRM é fundamental para me ajudar nos meus treinos controlados pelo relógio já que tudo o que é velocidade e esforço é controlado à base do ritmo cardíaco. Para treinar com base em ritmo é preciso comprar um acessório para os ténis que vos dá uma velocidade instantânea bem mais precisa. A velocidade instantânea na corrida é muito pouco precisa porque vamos devagar demais para a margem de erro do sistema GPS. Na realidade com uma precisão de 3 metros, que já é excelente, entre 3 passadas é impossível saber a vossa localização precisa. Portanto é impossível ter uma velocidade instantânea precisa.
Agora as coisas piores das quais algumas são duvidosas e outras simplesmente parvas.
- Não é possível saber a percentagem exacta da bateria sem pôr a carregar. Assim que pomos a carregar surge a percentagem. Se estiverem longe do carregador a bateria restante é 1, 2 ou 3 pauzinhos. Isto é simplesmente estúpido. Não vale a pena pôr paninhos quentes. Ou então talvez haja uma verdadeira razão e o burro sou eu... já lá dizia o outro.
- O "vidro" do relógio no meio faz um barulho oco que não abona muito a favor da percepção de ser muito resistente. Enquanto não lhe pus um protector de écran não descansei. Dava a ideia que o plástico não ia resistir à primeira pancada. 6 por 2€ em protectionfilms24.com. De um dia para o outro da Alemanha. Qualidade média mas por 2€ não há milagres (portes incluídos). O site tem opções mais caras. Prefiro ir trocando sempre que fôr preciso. Vamos ver como resiste este que agora lhe pus. Não é fácil de colocar mas com 6... algum há-de correr bem. Ou não :) No meu caso o 3º ficou quase perfeito.
- A Garmin retirou a função Courses. Esta função permitia descarregar para o relógio um track GPS e depois segui-lo mostrando no écran uma bússola que apontava a direcção a seguir e o relógio queixava-se sempre que saímos do track ficando a bússola a apontar a direcção para se voltar ao track. Reconheço que era uma característica apenas usada por pessoal que explora todo o pontencial do relógio, ou seja uma minoria de pessoas. Mas se estava a funcionar na série 4xx é de uma estupidez atroz retirar a funcionalidade. Não esquecer que em termos de funcionalidades este é praticamente um 4xx com outro interface. A série 4xx não tinha mapa (nem este tem) sendo esta a unica função que a série 3xx tem a mais que a 4xx. O visor é de facto pequeno para um micro mapa. Mas esta função da bússola a apontar o track era rudimentar mas era qualquer coisa. E usei-a várias vezes para ir correr para sítios que desconhecia. Garmin, retirar esta funcionalidade... nem tenho palavras para descrever a vossa atitude.
A boa notícia é que qualquer uma destas coisas más (tirando a questão do "vidro") tem solução simples. Basta a Garmin assim o decidir e inclui-las numa próxima revisão de frmware. Para ser mais preciso a funcionalidade existe e está no relógio, tal como estava no 405, mas só é possível usar quando escolhemos a opção "Voltar ao Início" que é para ele vos guiar de volta ao princípio do track que começámos a gravar. Ou seja há aqui uma decisão consciente (cof!! cof!!) de tirar uma funcionalidade, que não consigo perceber.
No 610 nota-se uma vontade da Garmin em simplificar o relógio. O interface ajuda muito mas depois há uma série de outras configurações, detalhes e possibilidades que foram retiradas. Felizmente nada de grave ou muito útil e nada que não possa ser melhorado.
Fica-se com a sensação que o software é ainda algo em evolução. Ou seja, podem vir a ser incluídas outras funcionalidades que foram deixadas de fora inicialmente. Afinal este é o topo de gama actual da linha Forerunner (pelo menos até Janeiro quando sair o 910 que não será um competidor directo com o 610 porque se destina mais ao triatlo)
Concluindo. Em termos gerais é um excelente relógio. Vale a pena?
- Se está a pensar comprar um 4xx, sem duvida. A diferença de preço justifica. Claro que deverá ter em conta que faltam ainda uma ou outra coisa, que infelizmente podem nem vir a existir. Mas se não lhe interessa o que falta nem vale a pena pensar mais nisso.
- Se já tem um 4xx o upgrade já pode ser mais duvidoso. Não vai ter assim nada de muito evolutivo, pelo contrário vai perder algumas features. (Alô GARMIN?!!!?? Está aí alguém?). É ler do princípio e decidir se compensa
- Se está a começar na corrida ou se não quer gastar mais de cento e poucos euros então este não é o modelo indicado. Comece por um 110 ou se gosta de relógios gigantescos veja outras marcas ou a série 3xx