As Lampas, as Lampas. Essa prova especial. Todos dizem que é especial. E é mesmo. Por um lado foi a 35ª edição e não há muitas assim que possam puxar dos galões de antiguidade. Depois são os atletas que lá vão. Verdadeiros atletas. Não tem vedetas e nem precisa. Ali as vedetas somos todos nós. É uma prova popular, organizada por atletas e para atletas. Não chama a atenção do profissional porque ali não se vai para fazer tempos ou ganhar prémios. Ali vai-se porque é a Meia das Lampas, das Rampas para os amigos.
Desta vez passei pelo Centro Sul e carreguei o carro de atletas do Parque da Paz e lá fomos. Uma das coisas que gosto desta prova é que se trata de uma meia sem parvoíces, enchentes, filas, empurrões, gritarias, autocarros e outras desnecessidades ainda piores. É chegar estacionar, conviver com os amigos todos que lá vão ao mesmo, aquecer, cumprimentar o Fernando que anda numa fona, preocupado com o que pode ir correr mal, aquecer e lá vamos nós.
Simples, sem espinhas. E lá fui. Foi apenas a 2ª vez que fui às Lampas. Engraçado como o cérebro nos prega partidas. Não me lembrava das maldades que o percurso tem. Só me lembrava das coisas boas. Lembrava-me de algumas subidas, mas tantas? Andaram para aqui a cavar ou quê? Eu já tinha alisado isto tudo na minha cabeça. Mas não. Toca a andar no carrossel. A malta queixa-se das rampas mas embora sejam duras, é esta dificuldade adicional que faz desta uma meia diferente. Em vez da pasmaceira das rectas do costume aqui há que gerir o esforço. As rampas desgastam mas quebram a monotonia de uma prova em que é sempre a fundo. Aqui há que meter 2ªs e mesmo 1ªs. Se uma meia do costume é uma autoestrada sem nada para ver, esta é uma estrada de montanha em que temos de trabalhar com a caixa.
O team a ser puxado pelo Zé Augusto |
Após a primeira subida e descida para nos pôr na ordem, vem aquela cobra enorme que sobe sobe, parece o balão sobe. Desde essa altura que começo a notar uma companheira que não mais me iria largar até ao final. Verifico agora tratar-se da Maria de Fátima. Eu passava nas subidas ela passava nas descidas. Ou vice-versa. O carrossel prosseguia com o imprevisto das rampas, uma a seguir á outra. A dureza das rampas começa a fazer mossa. Mas sem que fizesse outra coisa que não fosse tentar resistir à tortura de cada rampa, a verdade é que a Maria de Fátima lá surgia. Às tantas percebo que mais um campeão se junta a nós. O Manuel Faísca mais os seus 67 anos, juntamente com o Zé Augusto. Eu ia ali um bocado por arrasto mas a tentar não desligar daquele comboio.
O puto e os mais crescidos |
O grupo seguia forte e eu um pouco mais atrás tentava perceber se teria andamento para os acompanhar. Recomeça a sucessão de subidas e descidas. Custa a todos e isso faz com que não nos separemos. Eu às tantas ainda digo ao Zé Augusto que eles iam depressa demais para mim, mas que ia tentar acompanhar aquele ritmo enquanto houvesse forças. Faltariam talvez uns 4Kms para o final.
2 factores ajudaram estes 4Km. O Nuno Gomes que seguia, desde o princípio, à minha frente talvez uns 100, 200 metros e que fugia nas subidas e se aproximava nas descidas começa a ficar cada vez mais perto. Aqui percebo que estamos a andar bem e que o vamos apanhar não tarda. Ele tinha feito 1h45 em 2010. Eu estava demasiado cansado para olhar para o relógio e fazer contas mas ou ele estava pior este ano ou era eu que ia para um bom tempo depois de 1h50 em 2010. Ao mesmo tempo o companheiro Manuel Faísca que conserva uma excelente visão para além de uma excelente forma vislumbra ao longe o campeão mundial da sua categoria, 70 anos, o grande Bernardino da minha equipa. Refere que são bons amigos quando não estão a correr e fixa o seu objectivo. Estamos aqui estamos a apanhá-lo. E assim aconteceu. Faltava uma subida acentuada e depois 2 Km a rolar até à meta. Apanhámos o Nuno a subir e quando metemos a 5ª para fazer a recta final (que não era bem um recta claro) o Bernardino foi inevitavelmente apanhado. Eu cheguei 1º ao pé dele e fiquei por ali a fazer um pouco de companhia. Em situação normal não é muito fácil chegar perto do Bernardino de modo que é sempre um prazer ir na sua companhia. Como ele não estava bem não pressionei e segui ao meu ritmo. Sentia-me agora muito bem e aumentei o ritmo para tentar apanhar novamente o Manuel Faísca e o Zé. Mas já não era possível apanhá-los antes da meta.
Quando vejo o cronómetro da meta a marcar 1h43m até pensava que estava a ver mal. Acelerei que nem um doido para ficar no minuto 43 e assim foi.
Quase que atropelava o Orlando mas valeu a pena. Tirei 7 minutos ao tempo de 2010. Foi obra. Sofrida, mas foi obra. No fim água à descrição, um belo saquinho de prendas com uma mochila, um livro de caricaturas do Expresso, batatas fritas Titi!, bolinhos, e muita melancia. Coisas que dificilmente se vêem nas provas supostamente "melhores". Mas são estas pequenas coisas que nos fazem sentir bem e com vontade de voltar.
As marcações estavam um mimo com os kms a baterem ao centimetro com o meu GPS e os abastecimentos assinalados 100m antes.O Fernando feliz com tudo a correr pelo melhor.
Só campeóes! |
Parabéns a toda a organização.
Uma crónica à Paulo Pires ! Daquelas que são feitas com engenho e arte e nos deixam sempre bem dispostos.
ResponderEliminarObrigado Paulo, pela apreciação que fazes desta 35ªMMSJL. Isso deixa-nos com uma agradável sensação e vontade de continuar.
Fernando Andrade
Bela 35ª Fernando. Estão todos de parabéns. É continuarem assim.
ResponderEliminar