O tempo é do cacete. Tive de ir ao 1º post aqui do meu blog consultar quando tinha começado esta aventura (isto sempre serve para alguma coisa, afinal). E começou 26 de Março de 2007. Incrível, já lá vão quase 2 anos e 9 meses. Já era para ter feito uma maratona mas os astros não se tinham conjugado, ainda. O Sol não estava alinhado com o centro da Galáxia (e outras balelas do género) até que hoje tudo encaixou. Tudo fez sentido.
Os meses de preparação. A dedicação. O apoio de todos. A borboleta lá bateu as asas e pronto. Já estou no team dos maratonistas. Cumpri uma das maiores etapas desportivas a que me propus. (a outra deve ter sido uma corrida de caricas aí com 7 anos)
Demorei um ano a fazer uma meia maratona e pensava que seria o topo da carreira. Mas muitas meias depois, quando começamos a ir para as meias como quem vai ali fazer um treino e já volta, estava na altura de me deixar de desculpas parvas a mergulhar no objectivo.
Ao contrário da Maratona de Sevilha para a qual cheguei a treinar e estava tudo agendado, mas desisti após o 1º treino longo, esta era para levar até ao fim. E foi CATANO!!!!
Embora tivesse tentado cumprir o plano de treinos (mais ou menos...) estava obviamente um pouco ansioso com a forma como a coisa iria correr. Tinha feito a minha parte e estava confiante, desejoso mesmo de provar que uma maratona não é nenhum bicho de sete cabeças (nem de 2). É um bicho só com uma cabeça que se transpõe facilmente com treino e dedicação.
Deixo-vos um pequeno resumo desta que ficará para sempre registada na minha memória, a minha 1ª maratona.
Primeiro vinha aí um temporal desgraçado. Eu já estava apreensivo com a subida final, mais um temporal... Com santos assim não é preciso demónios. Mas afinal era treta. O S. Pedro meteu uma cunha. Tirando um ventinho um pouco chato para lá, mas muito amigo para cá, estava um tempo fantástico.
1200 atletas na Maratona. 900 estrangeiros e 300 tugas. Que pena. Mas não vou perder tempo com este assunto que só isto dava o livro do costume.
O novo percurso tem um grande problema. Os 4 Km's finais são um TERROR!!! Aos 38Km gramar com aquele muro até ao Feira Nova. Enfim... estão a ver o filme.
Mas se esquecermos isso, gostei do percurso. A 1ª meia é feita às voltinhas por Lisboa com subidas e descidas que só ajudam a matar o tédio. E vão injectando aquela adrenalina que ajuda a manter o corpo atento e preparado para responder.
Mesmo nas descidas fui sempre a cortar gás na máquina. Antes da partida um sábio conselho de ultima hora:
- Se fores cansado reduz o andamento. Se te fores a sentir muito bem REDUZ O ANDAMENTO :)
Assim fiz. Treinei para ficar abaixo das 4h mas não ia ser um escravo do cronómetro. No dia anterior fiz as minhas continhas. 4h = 5m42s/Km. Como o muro final vai estragar tudo o melhor é rolar em 5m12s no mínimo. Mas sentia-me tão bem que me foi difícil na 1ª metade conter-me nos 5m/Km. Mas segui o conselho: REDUZ O ANDAMENTO. Afinal era a minha 1ª maratona. Não tinha pressão de qualquer tipo, nem compromissos. Era chegar ao fim. E se conseguir ficar abaixo das 4h fixe!
Almocei nos Restauradores. Uma barrinha e mais meio litro daquele liquido vermelho Vitamin qualquer coisa. Que saudades!!! A ultima vez que tinha bebido aos litros daquilo foi em Nova Iorque. Agora já está em Portugal também. Cheguei ao início da meia maratona já almoçadinho e fresquinho que nem uma alcachofra. E sabendo 3 coisas importantes:
- Até ao muro no Km 38 é sempre plano;
- Até Belém é vento contra, cansa mas dá para secar a roupa. Mas depois com o vento pelas costas vai ser uma maravilha até ao muro;
- Épá quando chegar ao muro faltam 4 Km. Nem que me caiam as perninhas todas. Faço aquilo a rastejar CARAGO!!!
Foi tempo de começar a cruzar com os companheiros que iam à frente na maratona e com o pessoal da meia. Mesmo com o vento contra ia super feliz. Estava a sentir-me hiper bem. Tragam-me o muro que parto isso tudo!!!!
Por volta do Km 28 meti conversa com um companheiro estrangeiro que não me largava há bués. Ofereci-lhe uma barrinha de marmelada. Foi excelente porque desde aí viemos a falar sobre tudo e sobre nada. Ele era basco do lado francês, era a 1ª vez em portugal e a 1ª maratona. Fantástico. Agora é até ao fim. Ainda bem que o francês é uma das linguas em que me ajeito bastante bem.
E estava tudo a correr bem, já tinha passado do Km 32 onde fui um pouco abaixo e comecei a sentir algum cansaço. Depois ao Km 36 novamente. Ele até me parecia mais fresco e contido que eu que já ia um bocado a patinar. Quando ele viu que eu tinha um GPS e que estava a controlar o andamento de forma mais ou menos rigorosa disse-me para tomar conta do barco. Ele nem sabia que havia um muro no final. Eu é que o ia a conter, mas de repente sem que nada o fizesse prever teve de parar com um problema no joelho. Ora porra. Lá se foi o meu apoio moral.
O muro. E chegou claro. Para falar verdade estava desejoso já (claro que 50 metros de muro me fizeram logo mudar de ideias). Estava farto do ram ram daquela avenida sem fim. Que seca. No muro apeteceu-me andar para aí 200 vezes. Mas tinha medo, tinha muito medo do que se seguiria. Cãibras? Vou conseguir voltar a correr? Afinal isto é sempre a subir até quase ao fim. Olha siga. Não há andarilhos. Tuc tuc tuc tuc. O sofrimento foi grande. Mas pelo menos não havia cãibras. Quando vi o Feira Nova gritei para dentro FDP!!!! Já te comi toda!!!!
O túnel que se segue e onde começa a descida para os Estados Unidos teimava em fugir. Sacana. Quando lá cheguei já ia tão cansado que nem saborei a descida. O cronómetro fazia-me os olhinhos brilhar. 3h e trinta e tal... Uaauu!!! Falta 1Km ou menos. Fantástico.
Estava tão feliz que tentei pôr em prática o que tinha pensado mais atrás quando ia feliz e folgado. Telefonar à Dora que estava a sofrer na meta com uma ansiedade enorme. Tenho um telefone piririco que uso nos treinos mais off-road (desde que uma vez caí, percebi que pode ser importante pedir ajuda) mas aquilo nunca é usado e estava bloqueado (mesmo não tendo carregamentos obrigatórios é preciso fazer sei lá o quê de vez em quando, parvoíces dos operadores). Nem sei se foi por isso se era eu que já nem via bem os números, mas lá ia eu a fazer a subida dos Estados Unidos (mais um muro) e a tentar marcar um número no telémóvel lolololll. Queria dizer que se preparassem, que não ia fazer nada 4h, que estava mesmo a chegar.
E quando dei por mim estava a cortar a meta. A Dora aos saltos por me ver bem e feliz. Eu só conseguia fazer saltar os olhinhos :)
Não houve mazelas de maior, para além de algum cansaço. Agora vou ali ver aquela revista que nos deram que tem as maratonas todas mundiais para escolher a próxima. Sevilha é perto e dizem que é uma maratona fantástica com um apoio popular ao contrário da parvalheira tuga. Acho que Nova Iorque abriu há pouco tempo e ainda tem vagas.... Sonhar ainda é grátis!!!
Não vos maço mais (se é que alguém tem pachorra de ler estas coisas), quero apenas agradecer a todos os que contribuíram para ser possível eu ter chegado a este dia. E muitos nem imaginam que o fizeram. Só eu sei. Entre muitos, primeiro ao Botto que foi o gajo responsável por tudo. Foi ele que me trouxe para esta vida. Fantástico!
Quero agradecer ao Peyo, um companheiro basco de ocasião, talvez nunca mais o veja na vida mas os Km's que fomos juntos à conversa foram também um forte contributo para chegar ao final. Espero que passe uns dias felizes por cá com a sua noiva e que tenha uma vida feliz cheia de maratonas.
A todos os que me cumprimentaram durante a prova e que me desejaram sorte, e alguns eu vergonhosamente não sei o nome, obrigado. Espero que vos tenha corrido tão bem ou melhor que a minha.
Aos meus amigos que me deram os parabéns porque pensam que isto é um grande feito. Deixem-se disso. Calcem mas é uns ténis e toca a calcar alcatrão. Obrigado!
À minha família, pela compreensão, pelo apoio, ao longo destes meses, sacrificando algumas vezes o apoio que dou nas tarefas do costume. Sei que também estão orgulhosos de mim e que vibraram com tudo isto.
Obrigado a todos. Esta foi só a 1ª de muitas outras. Prometo nas próximas não vos maçar com tantas letras.
P.S. Na imagem acima está também o meu irmão. Mais um maduro das corridas que me motivou muito para começar a correr. Espero que agora seja eu a motivá-lo para que um dia atinja também este patamar.
O tempo medido pela minha cebola foi de 3h42m. O track está já disponível.
Já estão online os resultados
aqui.
Entretanto até Domingo no Grande Prémio do Natal OH OH OH.