domingo, 27 de dezembro de 2015

Injinji - Correr de luvas...nos pés!


As meias com dedos já existem há muitos anos, mas foi por volta do ano 2000 que 2 irmãos numa longa caminhada em montanha ficaram sem meias limpas e com uma prova de trail running no dia seguinte, Joaquin sugeriu a Randuz que corresse com umas meias de dedos arco-iris. Não sei se terão sido umas deste género, mas como em muito boas ideias esta nasceu de uma necessidade. Segundo consta, a prova deve ter corrido mesmo bem porque a partir dessa noite seria o início do que viria a ser a Injinji.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Suplemento ou não suplemento, eis a questão

Até que ponto os suplementos são necessários? Como sabemos que não estamos, por um lado a deitar dinheiro fora, e por outro a fazer mais mal do que bem, com possíveis efeitos secundários? A resposta é simples e directa. Não sabemos. 

domingo, 20 de dezembro de 2015

50 anos - 50 Kms

Como é ter 50 anos?

Na realidade não faço ideia o que significa ter 50 anos.

Quando somos putos sonhamos em ser adultos, poder tirar a carta, votar, ir onde quisermos sem precisar de autorização de ninguém, ser um cidadão na posse de todos os direitos. Depois quando já temos isso estamos ali um bocado em estado de graça. Vem a faculdade, somos os maiores, depois começa-se a ganhar algum dinheiro e as miúdas (e os miúdos para quem preferir), estamos no auge, o mundo foi feito para desfrutarmos e ainda nos sobra tempo para, nas horas vagas, fazermos planos para o melhorar e salvar.

Eiiii!!! Vão correr? Posso ir com vocês?


Bairro da Boavista, 20 horas.

O novo local da São Silvestre Pirata de Monsanto fazia franzir o sobrolho a muito lisboeta. Fomos muito bem recebidos por todas as pessoas. O pavilhão gimnodesportivo é um luxo. Os funcionários simpáticos e prestáveis. Na verdade não podíamos ter escolhido melhor local para o nosso convívio. 

Ainda estávamos a tirar as coisas do carro e a preparar-nos para correr começo a ouvir alguém a gritar lá de cima de um prédio. "Eiiii! Eiiii!" Nâo sabia se era comigo mas lá olhei. Talvez num 4º ou 5º andar alguém à janela. "Vão correr?" Vamos disse eu. "Posso ir com vocês?" Claro, vamos embora. A pouca iluminação e a distancia impediram-me de perceber bem quem era o meu interlocutor. A janela fechou-se e quando olhei outra vez, um pouco surpreendido com o facto, a luz já estava apagada.

Fiquei a pensar naquilo. Daquelas coisas improváveis que não acontecem noutros lados, demasiado digamos, correctos, socialmente correctos?              

Contei a alguns amigos e depois o episódio desvaneceu-se no meio de tanta coisa que estava a acontecer. Não me voltei a lembrar do companheiro que de repente queria vir connosco.

Algures a meio do percurso seguia à frente com o Boleto e oiço alguém dizer "Mas é que eu tenho 60 anos" O Boleto responde que isso não era nada, ele tinha 38... e olho para o senhor de 60 anos. Embora hajam algumas pessoas de 60 anos que pudessem estar ali connosco, seguíamos num ritmo calmo mas seguro, dificilmente estariam ali na frente do pelotão. Um senhor com o tradicional equipamento de estrada (calção curto e camisola de alças) sobressaía nitidamente do dress code do resto do pessoal (overdressed trail stuff). Será que era ele, o senhor que queria vir connosco? Quase sem arriscar pergunto-lhe se era ele que tinha perguntado se íamos correr e se podia vir connosco. E era, claro. Era o Sr. Artur.

Fantástico. O senhor Artur vive sozinho num 5º andar do bairro da Boavista e estava a fazer o jantar. Apercebeu-se daquela movimentação e não resistiu a fazer-nos companhia. O senhor Artur foi para mim a figura da noite. Representa o que de melhor tem o espírito da corrida. O senhor Artur não quis saber quantos Kms íamos fazer, nem o que íamos fazer. O senhor Artur só precisava de saber se podia vir connosco. 

Claro que o senhor Artur fez a voltinha dos 17 Km como se nada fosse. Mora à beira do Monsanto que é o seu jardim de treinos. Logo ali o convidei para vir jantar connosco a seguir, que deixasse o jantar dele e a solidão para o almoço do dia seguinte. 

No final mal tivemos tempo de nos despedirmos dele. Disse-lhe para ir a casa mudar de roupa e aparecer no pavilhão para jantar e conviver connosco. Mas o senhor Artur não apareceu. Quem sabe se para o ano podemos saber um pouco mais das histórias que tem para contar. 

Sim, porque alguém com o espírito dele tem seguramente coisas para nos ensinar. Obrigado por ter vindo senhor Artur. Bom Natal!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Discovery Underground - Os 10 Kms mais improváveis do mundo


Menos de 24 horas depois desta aventura aqui fica o relato possível de uma experiência única.

Confesso que quando apareceu este desafio na comunicação social visitei a página de candidatura e ao perceber que era necessário um texto que demonstrasse a superação e o motivo pelo qual achava que devia ser escolhido para estar presente, simplesmente passei ao lado. Não me apetecia estar ali a desbobinar textos, pensar em razões e justificações.

Foi nos últimos dias do prazo que me voltei a lembrar deste desafio e que até já tinha o texto escrito. Há muito tempo escrevi um pequeno resumo do que foi o meu percurso na corrida. Um pequeno texto que facilita a vida a quem quer ler algo do que tenho escrito ao longo dos anos no meu blog. Não é fácil dar com as maiores aventuras que tenho vivido na corrida, no meu blog. Por isso escrevi esta página que não é mais do que um índice para as aventuras mais significativas, pelo menos para mim. Pode ter passado desapercebida a muita gente mas ela lá está no meu blog, em destaque. Chama-se Momentos Épicos. Uma singela página que vos pode levar tanto tempo a ler como eu demoro a correr 100 Km. E assim me candidatei a esta aventura, referindo o texto existente nesta página que é um 'best of' do que fiz desde que embarquei nesta vida, nesta nova vida.

Pelos vistos alguém mais (para além de mim) gostou do que leu e deu-me um bilhete para esta viagem única.

E de repente alguém nos segura pela mão, somos pequeninos, descemos uma escadaria que nos leva para debaixo do chão. Só isso já é desconcertante. Os pais dizem que ali naquele buraco, nas entranhas da terra, por debaixo da cidade, anda um comboio. Não conseguimos acreditar. Só podem estar a gozar. Mas continuamos a descer mais escadas, escadas rolantes, que descem sozinhas. È um mundo diferente debaixo do chão. A qualquer momento a Alice podia sair de uma daquelas portas, inacessíveis, e acharíamos perfeitamente normal.
Quando chegamos ao cais há uma linha férrea e o assunto fica sério. De facto a coisa parece verdade. Há mesmo uma linha ali. Como nos brinquedos lá de casa. E um túnel. Um comboio fantasma! De um lado e do outro um túnel escuro como breu. De onde vem? Dali ou dali? Quem não tem estas memórias? Quando desapareceu a magia de começar a ouvir ao longe o barulho de um comboio que aumenta e nos deixa pregados ao chão, até se materializar ali na estação? 

Só muito mais tarde o Metro passaria a fazer parte da minha rotina de estudante e a coisa passaria a ser banal. Mas o mistério daqueles túneis nunca desapareceria. Há umas portinhas no final de cada cais que dizem Passagem Proibida. Ahhhh! Que chatice. Espreitamos. Já lá vem? E esperamos pelo próximo que magicamente irá surgir. Nalgumas estações consegue-se ver a próxima e a lagarta a descer lentamente até chegar a vez da nossa viagem. 

Quem teve esta ideia de pôr pessoal a correr naqueles túneis? Compreendo a magia e a atracção e daí o sucesso de algo deste género. Mas imagino a dificuldade de avançar com algo tão fora do comum. Aliar a corrida à magia de o fazer num sítio que tem tanto de banal como de inacessível. Esta iniciativa nasceu em Espanha e embora saiba a motivação da mesma, desconheço a história por detrás do evento original.

Mas como diria a outra, isso agora não interessa nada. 
Alonga aí pró fotógrafo
Era uma noite apenas fresca de um Outono candidato a Outono mais quente de sempre. Já passa bem da meia noite, e à porta da estação de São Sebastião vai grande reboliço. O levantamento do kit de participante decorre sem confusão. Afinal eram apenas 100. Assinam-se termos de responsabilidade, recebe-se um capacete e uma t-shirt, material obrigatório e único aliás. Depois de descermos para a estação e antes de acedermos ao cais, uma minuciosa revista policial iria garantir isso mesmo. Nem garrafas de água, quanto mais telemóveis ou máquinas fotográficas.

A malta da montanha a marcar presença nas entranhas de Lisboa
O tempo lá ia passando entre brincadeiras e as ultimas fotografias. O Nelson Évora com grande espírito posava para centenas de fotos. À hora marcada somos agrupados de acordo com a nossa marca aos 10Km e à velocidade da revista policial descemos ao cais de embarque e depois para a linha. Um pouco por todo o lado os jornalistas, repórteres e cameras são mato. 

A princípio evito aquele carril central que diz Perigo de Morte. Respect! Claro que a corrente estava já cortada, mas estava mesmo? Foram muito anos a ver muita faísca, Perigo de Morte.... Mas depois de ver um fotógrafo a apoiar a camera em cima do carril lá se perde o respeito à coisa. Que frisson!

A pouco e pouco os 10 grupos de 10 vão sendo arrumados em fila indiana ao longo da linha no cais. Não sabemos bem o que vamos encontrar mas a opinião geral é que vai ser difícil correr. Toda a gente da organização nos diz isso mesmo. Inclusive pessoas do Metro. Muito obstáculo no percurso, etc.

Ó p'ra mim em equilíbrio em cima do Perigo de Morte 
Os grupos iriam partir de 90 em 90 segundos. Estou no segundo grupo. Uma cortina gigante de ripas com o logotipo do Discovery Underground esconde a entrada do túnel. Iríamos ser literalmente engolidos por aquele túnel.

Não haveria cronómetros nas precisamente à hora marcada o Nelson Évora dá a partida para o 1º grupo que desaparece por detrás da cortina. 90 segundos depois arrancamos. A euforia é grande, Esqueço-me de iniciar o meu cronómetro. Obviamente ali em baixo não há sinal GPS mas como o Fenix 2 tem um acelerómetro interno ia ser possível registar a distância e o ritmo, com base no movimento do braço. Estava curioso para ver a fiabilidade deste modo que nunca usei. Só o liguei já no Saldanha, cerca de 700m depois. Ó desgraça!

Os túneis tinham iluminação própria que dispensava o uso de frontal. Só numa ou noutra zona uma lâmpada fundida dificultou um pouco a progressão. Ainda assim era só seguir em frente.

Seguimos pela faixa do meio. Há 3 zonas possíveis para correr. Qualquer uma delas salpicada aqui e ali por obstáculos. Ao centro entre as duas linhas que usávamos obrigatoriamente nas estações dado que ali não há bermas laterais. Mal saíamos de cada estação era optar pelo lado esquerdo ou direito onde era possível correr em cima de uma caleira técnica ou em baixo ao lado da linha. Ocasionalmente qualquer uma das zonas apresentava obstáculos que era preciso contornar ou saltar. À entrada de cada estação o ritmo era interrompido pela necessidade de mudar para o centro e de voltar para a berma à saída.

Ao fim de 1 ou 2 estações a mecânica da coisa estava estabelecida. Era possível correr, muito e bem. Os obstáculos repetiam-se, os cabos, as agulhas, o saltitar para mudar de zona. Era mesmo possível ultrapassar, nas bermas, um em cima da caleira e outro em baixo junto à linha. Mas dada a separação por tempos e o espaçamento entre cada grupo rapidamente encaixámos nos nossos ritmos.

Às vezes subia-se bem, outras vezes também se descia bem. O viaduto exterior depois das Olaias permitiu refrescar. Os túneis são muito abafados. Estariam à vontade mais de 20 graus ali dentro. Até tremia de ver o pessoal cheio de camadas de roupa. Mas esta gente nunca andou de Metro?

Imensa gente ao longo dos túneis, espaçados a cada 250m. Os Kms sempre marcados por alguém que segurava uma placa. As estações sucediam-se. Chelas, Olivais , Cabo Ruivo, Oriente... Em Chelas vejo o Paulo Fernandes, grande festa. Abastecimento líquido. Aceito uma água que transporto comigo como de costume.

O ritmo era alto e mesmo sem grande esforço não estava fácil. O corpo não encontrava um ritmo certo, as subidas eram traiçoeiras. Sem grandes pontos de referência sabíamos que estávamos a subir porque as pernas se queixavam. A atenção ao piso era constante e isso também consome energia. Não queria ir muito depressa, antes saborear cada momento daquela oportunidade única, correr num local completamente inacessível e que (pelo menos para mim) nunca se repetirá.

Nunca tinha passado do Oriente para a frente. Foi uma boa estreia. A experência aproxima-se do final. Km 7, 8... Ver as estações ao longe a aproximarem-se ou a surgirem depois de uma curva, qual maquinista de brincar. Imagens que guardarei para sempre.

E por fim chegámos ao Aeroporto. Grande recepção e aplauso. Novo abastecimento e subimos à plataforma. Ficámos por ali um bocado enquanto nos íamos reencontrando. A apreensão de todos era grande. Afinal tivemos de correr e bem. Grande ritmo para quem pensava que ia apenas fazer uma caminhada cheia de obstáculos. Safa! A minha experiência durou cerca de 50 minutos mas o primeiro a chegar só desfrutou de 38. O Garmin marcou 9,3 Km e se somasse os 700m que faltaram iria acertar na mouche. Alguns Suuntos por ali marcavam mais de 11 Kms.,,

Cá fora o autocarro encheu-se rapidamente e zarpámos rumo à partida onde era tempo de despedidas e voltar para casa. Era preciso descansar um pouco antes de voltar a Lisboa, dentro de umas horas, para o Grande Prémio do Natal.

É difícil classificar esta experiência. Posso dizer que adorei esta viagem louca, só tenho dificuldade em arrumar a coisa numa caixinha com um rótulo. Foi algo completamente 'fora da caixa'. Não era preciso ter ido a correr, iria se calhar até desfrutar mais numa visita guiada, mas a correr foi o que se arranjou. A organização foi irrepreensível com tudo a decorrer como planeado a anunciado. A preocupação com a segurança foi grande. Creio que toda a equipa deve estar muito satisfeita como tudo decorreu, pelo menos do que me foi dado a ver.

Não posso dizer que é para repetir porque seguramente não irá acontecer. Pela excentricidade da coisa é algo que se faz uma vez na vida e pronto. Tive essa oportunidade, foi daquelas vezes em que consegui estar no sítio certo na hora certa. Valeu bem a pena Discovery Channel, Nos e Metro, Obrigado pela fantástica experiência!

Por volta das 5h lá adormeci. 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Que a Força esteja convosco - Crossfit de trazer por casa

Nem todos os livros têm de ser complexos e massivos, exaustivos e detalhados. Pelo contrário.

Já há uns tempos que conheço as Dicas do Salgueiro. Lembram-se do anuncio  do Van Damme a fazer a espargata nos camiões TIR?


E do vídeo do fake Chuck Norris a parodiar o do Van Damme?



De repente era um mar de gajos a fazer espargatas em cima de tudo. Mas o do Salgueiro que fazia a espargata em 2 carrinhos de supermercado foi dos melhores. Mesmo cena tuga. Muito bom.

Na altura fui investigar quem era o Salgueiro, vi alguns dos seus vídeos e achei desde logo que estavam muito bem feitos (no livro confirmei porquê). Entretanto as solicitações são tantas e o tempo é tão pouco, só voltei a ter contacto com o Salgueiro quando ouvi a Prova Oral sobre o lançamento do seu livro. Gostei muito de ouvir o programa. Aconselho a que ouçam também. O Alvim é um puto fixe e gosto sempre de ouvir o programa dele. Sigam este link e relaxem. Já voltam para acabar de ler o artigo. O Bruno Salgueiro é um comunicador nato (no livro confirmei porquê também). Partilhei esse facto com alguém e claro, lá levei com o livro quando fiz anos.

O livro é muito interessante. Bem escrito, num tom informal, o autor conta-nos a sua história e faz uma excelente ligação ao leitor com uma abordagem muito bem conseguida. Depois de traçar as linhas base que devem ser seguidas, quer em termos de motivação, quer de alimentação, deixa-nos com uma ementa enorme de exercícios que podem fazer em qualquer lugar sem recorrer a outro aparelho que não seja o vosso próprio corpo e peso, ou com exercícios para quem tenha acesso a um ginásio. Tem um plano de treinos mensal que recorre apenas a conjuntos desses exercícios, que agrupados de várias formas, permitem desenhar um número infinito de sessões de treino. Treinos curtos de alta intensidade que podem adaptar ao vosso nível, aumentando gradualmente o número de repetições, o tempo ou a velocidade de execução, ao longo do tempo. Treinos que vos vão levar ao limite seja qual for o vosso nível. Muito ao estilo do CrossFit embora não seja um livro sobre CrossFit.

Já há uns tempos que, semanalmente, incluí 30 minutos de uma destas sessões em aula, com exercícios mais focados nos Glúteos, Abdominais e Pernas, o famoso GAP, bem conhecido das moças que frequentam ginásios. Claro que numa aula, com o instrutor a puxar por nós, não temos tanta hipótese de desmotivar. Mas aqui é possível uma progressão maior e levar o treino até muito mais perto do nosso limiar, algo que na realidade as 'aulas com gajas' já vão deixando a desejar. 

Como sabe o pessoal do trail, o treino de força é um complemento fundamental para atacar as subidas, as descidas, e de um modo geral reforçar todo o vosso core, dando mais estabilidade em corrida, etc. Um core forte vai permitir-vos correr mais fortes durante mais tempo.

Conclusão, um excelente e simples manual, fácil de ler e de usar. E se for bem usado, para além de dar cabo de vocês, vai-vos dar excelentes armas para melhorarem a vossa performance.


Por fim deixo-vos um dos primeiros vídeos que vi do homem e que para além de ser excelente e cheio de bons conselhos, constitui a base de todo e qualquer tipo de treino. Vejam e sigam.