Como é ter 50 anos?
Na realidade não faço ideia o que significa ter 50 anos.
Quando somos putos sonhamos em ser adultos, poder tirar a carta, votar, ir onde quisermos sem precisar de autorização de ninguém, ser um cidadão na posse de todos os direitos. Depois quando já temos isso estamos ali um bocado em estado de graça. Vem a faculdade, somos os maiores, depois começa-se a ganhar algum dinheiro e as miúdas (e os miúdos para quem preferir), estamos no auge, o mundo foi feito para desfrutarmos e ainda nos sobra tempo para, nas horas vagas, fazermos planos para o melhorar e salvar.
Na realidade alguns mais ligados à política não passam desta fase, pelo menos da boca para fora.
Na realidade alguns mais ligados à política não passam desta fase, pelo menos da boca para fora.
O primeiro pânico vem quando nos aproximamos perigosamente dos 30. Epá! Vamos deixar de ter 20 e tal? O mundo está perdido. E afinal não o vamos conseguir salvar. Tem demasiadas injustiças a começar pelo facto de estarmos a ficar velhos. De repente temos 30 e a coisa complica-se. Na realidade connosco está tudo na mesma, mas sempre que referimos à malta mais nova que temos 30 anos... fica aquele silêncio. Quase que se ouve o outro gajo a pensar “ah ah ah estás tramado cota” e a nossa cabeça a contra argumentar “epa trinta é perfeitamente igual a vinte e tal…” Lembro-me bem de que quando era puto também imaginava que um velho de 30 anos estava condenado. Era uma idade de tio, vá. Com sobrinhos e primos. Uma cena de cota, claro.
E enquanto estamos entretidos nos trintas, casamos, nascem crianças, vão à escola. E continuamos exactamente iguais. A única diferença é que distraímo-nos com a vida e já temos de dizer que temos 40.
- para os putos já podíamos ser avós. É uma idade que simplesmente não consegue ser processada. Como é que temos 40 anos e ainda não somos ricos, não nos reformámos e não andamos no nosso cabriolet com gajas com grandes decotes e cabelo ao vento? Somos uns falhados. Para além de estarmos acabados.
- para os gajos de vinte e tal simplesmente já morremos para a vida; ou estamos orientados e safamo-nos em casa, ou então é o degredo.
- os gajos de trinta continuam a rir-se embora já tenham percebido o embuste que é esta cena da idade. Riem-se baixinho já com aquele riso nervoso de quem vem a seguir.
Para mim os quarentas significaram o início de uma nova etapa. Claro que só o vim a perceber muitos anos mais tarde. Segundo dizem, é normal acontecerem este tipo de coisas por esta altura. Para mim foi o que podem testemunhar com este blog cujo nome era quase premonitório, dado que ao princípio nada tinha de facto mudado. Mas para muitos é a tal cena do cabriolet… Cada qual tenta mudar de vida como pode.
Já com muita experiência acumulada desta cena das décadas, sabia perfeitamente que a cena dos 50 era uma grande treta. Outro dia no programa do Alvim sobre o livro do Salgueiro do qual falei neste blog, ligou uma fulana a dizer que quando fez 30 anos notou uma degradação brutal a nível físico. Como é possível?
Está tudo na vossa cabeça e na maneira como encaram a vida. Não há uma idade para nada acontecer por magia. Se nada fizerem de diferente irão sentir o lento degradar do vosso corpo. Se tirarem o som da televisão quando estão no sofá a ver as novelas e as séries (que são apenas novelas faladas em amaricano, cheias de stunts e efeitos especiais mais caros) até conseguem ouvir o caruncho a roer-vos por dentro.
Na realidade não sei bem que idade tenho. Por acaso o meu 50º aniversário coincidiu com uma fase da vida em que fisicamente nunca estive tão bem. Há uma ou outra peça que já tem algum desgaste mas creio que é normal nesta altura. Mas nada disto é surpreendente. Apenas uma constatação do que venho dizendo ao longo destes anos. Quando percebi, criei este blog para passar a mensagem.
Este blog não é uma fogueira de vaidades. É panfletário? É sim senhor. De facto apregoo a salvação de uma vida de problemas, através da corrida, e de um modo geral do exercício físico. Posso ser um caso mais extremo mas apenas isso. Nada que muitos de vocês não saibam já. Este caminho não tem um fim em si. Vai-se construindo à custa de muito esforço, muita dedicação. Tento fazê-lo com amigos, sobretudo com a família. Não é isento de riscos, que são o tempero da vida, mas é preciso equilíbrio. Não quero destruir nada do que já tenho, antes construir mais, com ajuda. Não é fácil não nos deixarmos deslumbrar e enfaralhar a lista de prioridades. O objectivo não é o tal cabriolet, ou então será para alguns...
Dedico este singelo texto ao Eduardo Lourenço, autor do vídeo, e a todos os amigos que participaram nos 50 Kms que fizemos no dia em que fiz 50 anos. Foi um dia inesquecível graças a todos vós amigos.
Este blog não é uma fogueira de vaidades. É panfletário? É sim senhor. De facto apregoo a salvação de uma vida de problemas, através da corrida, e de um modo geral do exercício físico. Posso ser um caso mais extremo mas apenas isso. Nada que muitos de vocês não saibam já. Este caminho não tem um fim em si. Vai-se construindo à custa de muito esforço, muita dedicação. Tento fazê-lo com amigos, sobretudo com a família. Não é isento de riscos, que são o tempero da vida, mas é preciso equilíbrio. Não quero destruir nada do que já tenho, antes construir mais, com ajuda. Não é fácil não nos deixarmos deslumbrar e enfaralhar a lista de prioridades. O objectivo não é o tal cabriolet, ou então será para alguns...
Paulo,eu que há tenho 59 e algumas artroses , continuo a achar que amanhã há tanto mais a fazer, não sei se mais que hoje, ou que ontem, mas sempre qualquer coisa, este alimentar a vida de sonhos, projectos, empreendimentos. E é isso que nos faz VIVER. Desejo que não saiba ter idade em anos, mas que os anos lhe tragam a experiência, a novidade, a capacidade de inventar a vida a cada dia. Seja sempre feliz ao lado da sua maravilhosa familia. Beijinho grande.
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