E pimba! Já cá mora mais uma. Mas comecemos pelo princípio. Esta maratona tinha vários objectivos. A saber e por ordem de importância:
1 - Passar um fim se semana divertido com amigos e família no Porto;
2 - Fazer a viagem no Alfa;
3 - Terminar a minha 2ª maratona;
4 - Melhorar o tempo da maratona de Lisboa (3h43m).
Desta vez descarreguei e segui, desde Agosto, um plano de treinos para 3h30. Um pouco mais exigente é um facto, mas dado que em Lisboa tinha feito 3h43, não ia treinar para 3h45. Portanto por mais que suspeitasse que 3h30 não era uma marca ao meu alcance, teria obrigatoriamente de seguir esse plano.
Na 6ª à noite, mesmo antes de ir dormir (só para terem uma ideia do nível de planeamento e sofisticação da coisa) estive a olhar para os tempos por km da maratona de Lisboa, passei tudo para um Excel, simulei, experimentei e concluí que era impossível fazer 3h30m. 3h30 são sensivelmente 5m/km durante os 42 Km! Não tenho essa capacidade. Talvez numa meia. Mas numa maratona....
Então olhando para o Excel (que nem é um Excel porque uso e recomendo o Open Office :) delineei uma estratégia que me iria permitir fazer entre 3h35m e 3h40m. Na altura fiquei a olhar para a folha de cálculo a pensar, 3h40m., raios isto são apenas menos 3m do que Lisboa.
Mas ao mesmo tempo 3m são 3m e só dá valor a estas diferenças quem anda nestas vidas. Portanto a estratégia passava por fazer os primeiros 8 Kms a 4m50s, depois aguentar o máximo a 5m e acabar o que sobrasse a 5m20s. Não se esqueçam que tinha os tempos da minha maratona anterior como referência.
Isto iria dar no mínimo 3h35m e no máximo... no máximo logo se via.
De qualquer forma não ia ser um escravo de tempos. Aliás tornei a levar a máquina fotográfica e lá fui fazendo a reportagem possível. O tempo é para mim um aspecto secundário.
Sábado lá zarpámos para Entrecampos onde apanhámos o Alfa. Só se ouvem coisas boas deste comboio e não me arrependi de dar uns (bons) cobres à CP para ir de comboio. Claro que para 4 pessoas irem ao porto no Alfa não compensa nada. 1 sim, 2 talvez, o resto é lucro da CP. O unico aspecto positivo é o conforto, o descanso e a viagem de regresso, após a maratona, no relax total. O Alfa é de facto excelente. O único senão é não conseguir ter uma velocidade sustentada por volta dos 200 Km/h. Os momentos em que atinge os 220 Km/h são poucos e depois lá vai ali nos 140-170, tirando as excepções em que vai mesmo devagar. De qualquer forma valeu a viagem. Gosto imenso de combóios e foi também uma experiência fantástica para as míudas. A CP marcou pontos para a geração seguinte. Oxalá haja CP na geração seguinte. Arranjei-lhes 2 clientes.
Chegados ao Porto outra boa surpresa. O Metro do Porto é porreiro pá. Depois de deixarmos as malas no simpático, central e em conta, Hotel S. José, mesmo ao lado da rua de Sta, Catarina e à beira do Bolhão (e da respectiva estação de metro), lá fomos levantar os dorsais e almoçar a Pasta Party. À noite uma bela de uma francesinha no Capa Negra e tivemos de recolher aos aposentos cedo porque as perninhas já estavam a pedir descanso. O Metro foi um bom companheiro e gastámos bem o passe diários que comprámos.
Domingo 7h45. Pequeno almoço light que a partida era às 9h. Vá mais uma viagem de metro para a partida. A chuva molha parvos teimava em cair. Muita gente. Boa organização. Café e chá à disposição. Bom toque. Um cafezinho, muito bom, a 5 minutos da partida. Ahhhh!!!
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Venham lá esses 42195 |
Partida. Mais uma maratona. Estava totalmente em paz e nada ansioso. O truque foi encarar a prova não como 42Km mas sim como uma prova de 10Km que afinal era uma meia que depois teria de ir aos 30 e a partir daí se me tivesse portado bem e feito os trabalhos de casa, tinha de conseguir chegar á meta, até porque ali junto ao Douro não há Metro.
Bela moldura humana. Muito muito muito espanhol. Logo a seguir à partida uma subida ingreme leva-nos à rotunda da Boavista, e a partir daí esperavam-nos 7 Km de descida suave. É uma fase muito importante pois permite aquecer bem os músculos enquanto descemos em direcção ao mar. Aproveitámos para rolar em 4h50m sem grandes dificuldades. O Sérgio que se tinha isolado lá mais à frente acabou por ser apanhado, mas reduzimos para os 5m e deixámos outra vez de o ver durante muito tempo. Seguíamos, eu e o Rogério, nos 5m num grupo castiço de pessoal na brincadeira e o tempo ia passando sem grande problemas. O creme de aquecimento que o Zé Alves me tinha posto nos joelhos começava a fazer-se sentir. E de que maneira. Bolas que aquilo estava a deixar-me os joelhos em brasa. Não sabia se aquilo me estava a fazer bem ou mal, mas lá me convenci que devia ser bom. Também não havia nada a fazer. E então quando o sol abria em força, parecia que os joelhos iam incendiar-se.
Eu lá seguia feliz, a tirar fotografias e mais fotografias. A chuva tinha desaparecido, o sol brilhava no meio das poucas nuvens. E a máquina não parava no bolso. Tal como no Alqueva testei o conceito de ir a tirar fotos durante a prova. É um bom exercício contra a monotonia. Nem todas ficaram bem e apaguei muitas tremidas. Algumas poucas ficaram excelentes. Espero que vos permita reviver o momento, para quem foi, e ter uma ideia do que é a prova, para quem não conhece. Mais abaixo podem ver o percurso com as fotos no Google Maps ou no Google Earth (preferível para quem tiver instalado).
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Era tempo de passar a Ponte D. Maria para Gaia e dirigir-mo-nos para o ponto de regresso aos 21 Km. Estava a conseguir manter os 5m/km, ou perto disso e estávamos quase a fazer meia maratona. O plano estava a ser cumprido. Regresso à ponte D. Maria para passarmos para o lado do Porto de novo. Aí comecei a ver que o Rogério não estava a conseguir manter o ritmo e estava a ficar para trás. Ainda mais atrás vinha o Reis e segui descansado pois ele iria seguir com o Reis ou receber algum apoio se fosse preciso.
Eu estava a sentir-me bem e estava fora de questão abrandar ou ir lá atrás falar com ele. Apenas porque estava certinho no meu ritmo e poderia estragar tudo se abrandasse. Não dá para abrandar. Até porque estava apenas a meio e tão preocupado como os demais com o que ainda estava para vir.
Depois de passar de novo para o Porto ainda tivemos de fazer mais umas pontes antes de voltarmos para trás. Estávamos no Km 26 até ao 28 Km e picos foi tempo de começar a cruzar com pessoal mais acelerado . Alguns companheiros surpreenderam-me pois levavam um bom avanço sobre mim. Eu olhava para o relógio e via que o meu ritmo cardíaco ia estranhamente baixo e continuava a conseguir rolar nos 5m. Impressionante! Às tantas começo a ver o Sérgio ao longe. O que se estaria a passar? Não pensava que o voltasse a ver, mas ele estava logo ali. E aproximava-se a passos largos. Quando passei por ele perguntei-lhe se estava tudo bem. Não estava obviamente. Em condições normais eu não conseguiria aproxima-me e ultrapassar o Sérgio com tanta facilidade. Respondeu-me "mais ou menos". Naquelas alturas pouco dá para fazer. O fòlego é pouco, conversas só cansam mais. Ficar por ali poderia dar cabo de mim ou colocar ainda mais pressão nele. Pouco mais pude fazer do que esboçar-lhe um "força, está quase" e manter o meu ritmo. Eu próprio já estava a ficar em piloto automático...
A minha sina de seguir sozinho estava a revelar-se novamente. Estava então por volta do Km 30 e naturalmente o ritmo ia começar a degradar-se. Já começava a sonhar com o Castelo do Queijo e com o Km 40... mas ainda era um sonho muito longínquo. O ritmo variava agora entre os 5 e os 5m15s. Por um lado ir mais devagar era penoso e acelerar um pouco até sabia bem. Mas já não havia força para manter um ritmo vivo sustentado. Mas foi só no Km 36 que comecei de facto a penar e a ver o Castelo do Queijo ao longe que nunca mais chegava. Nesta fase passei pela ultima pessoa conhecida que tinha cruzado e que ia bem mais à frente e que não imaginei ser possível ultrapassar. Até porque pensava que estivesse bem mais preparada do que eu, mas ia a passo. Só tive tempo para um breve "força estamos quase lá". Devo-lhe ter dado mesmo força, porque ao consultar os tempos finais vi que fez só mais alguns minutos do que eu. Ahhh! Nada como um bom incentivo :)
Durante algum tempo ainda tive de lutar contra o vento que surgiu de repente. Obrigadinho pá. Estavas mesmo a fazer falta. Não se arranja antes aí uma chuvinha?
E o Queijo lá foi conquistado. Raio do Queijo! Claro que antes de subir a Boavista ainda foi preciso ir à rotunda seguinte ver novamente o camaroeiro gigante antes de voltar para a recta da meta. A 2 Km da meta já pouco importa se estamos a subir, a patinar ou a escalar. Todos os meses de preparação e a dedicação que tivemos estão ali à distância de uma unha negra. Vamos conseguir vencer mais uma. Muita gente da organização, e não só, está espalhada pela avenida abaixo e incentiva o pessoal (como se fosse preciso) mas sabe bem na mesma. O cheiro a meta é já insuportável. Antes mesmo de curvar para a meta (que não fica na avenida mas sim 50 metros para dentro, encontro o que vinha à procura já há uns tempos no meio de tanta gente: um grupo de malucas a festejar no cimo de um palanque, retribuo efusivamente e sigo para a meta que corto com 3h36m. 7 minutos menos que em Lisboa há quase um ano. Já não soube obviamente ao mesmo, claro. Mas é sempre um sabor de vitória imenso. Tanta coisa que podia ter corrido mal desde Agosto. Tanto investimento. Mas isto é como tudo: a conjugação de dedicação, investimento, uma pitada de casmurrice, 2 colheres de maluqueira, tudo nas proporções correctas e sai uma maratona bem feitinha, sem lesões, sem frustrações e com um óptimo sabor. Consumir bem quente e de preferência regar com uma barraquinha de imperial geladérrima. Que néctar dos deuses e que ideia fantástica. Imperial a gastar para maratonistas. YES!
Tal como nos trilhos do Alqueva deixo-vos com o trilho e as fotos que tirei durante a prova (85) no
Google Maps (qualquer browser dá) ou no
Google Earth (tem de estar instalado). Vejam lá se não parece mesmo que estiveram lá?
Foi com agrado que soube que esta é agora a maior maratona de Portugal. Por uma unha negra em numero de atletas que terminaram, é um facto: 1180 no Porto contra 1153 em Lisboa (lolol) mas isso é pouco importante. Até porque deve haver outros critérios e cada um puxa a brasa à sua sardinha. Mas a concorrência, desde que saudável, só faz é bem. Vamos ver se Lisboa consegue superar-se e assumir de novo a liderança. O ano passado estiveram mal nalguns aspectos, desde logo a vergonha com a Pasta Party que era só para estrangeiros. Palermas! Valerá a pena poupar uns fios de massa e uma colher de carne picada, causando a indignação dos atletas nacionais? Sovinice ou Visão Estratégica? A ver vamos.
O Porto merece ter uma prova destas e espero voltar, mais cedo do que tarde. Um abraço ao Rogério pela sua 1ª maratona e porque foi quem lançou o desafio em Abril, prontamente aceite por mim, para irmos ao Porto. Ao Sérgio que embora não seja um cliente assíduo destas andanças também meteu na cabeça que estava na hora de ir testar e superar os seus próprios limites. Eu não sei se me atrevia a uma incursão de igual calibre, em 2 rodas, safa! Que o facto de não ter corrido exactamente como pretendiam que vos sirva de incentivo para a 2ª. Obrigado pela vossa companhia. Quanto a mim já se sabe que não há duas sem três. Amanhã volto à estrada que no fim de semana há mais e há que começar a pensar qual vai ser a estratégia para preparar a próxima. Ainda antes de Paris, oiço Sevilha a chamar por mim....
Notas negativas finais: À CP/Metro do Porto porque vergonhosamente roubam os visitantes não lhes permitindo devolver os cartões Andante na estação da Campanhã. É uma atitude vergonhosa que não vale pelos 50 centimos por cartão que extorquem às pessoas. Só a mim comeram-me 8 cartões, pelos quais faço o sacrifício de gastar mais uns cêntimos num selo do correio e oferecer à Administração do Metro do Porto e à sua família. Os 4 € irão seguramente ajudar-vos a passar um Natal mais desafogado neste período de cortes. São estas atitudes mesquinhas que vos devem equilibrar o défice de milhares de milhões de Euros. Parabéns.
Também uma nota muito negativa à televisão que pagamos nas nossas facturas de electricidade e a um suposto serviço público que faz pelo desporto nacional quase tanto como um bom coveiro de 1ª categoria. É uma pena não haver nunca hipótese de transmitir este tipo de acontecimentos. Estiveram 8 mil pessoas nas provas, seguramente muitas dezenas de milhares de familiares directos em casa e muitas outras dezenas de milhares de pessoas que gostam também de outros desportos, para além do enjoo futebolístico do costume.
Quantos facturas de electricidade são precisas para transmitirem uma maratona portuguesa, organizada por portugueses, para portugueses e estrangeiros?
Deixo esta pergunta às gerações futuras porque esta já está como há-de ir.
Ora vão lá mas é treinar que isto de estar muito tempo na net faz mal á vista :)