domingo, 1 de dezembro de 2013

I Trail Transfronteiriço de Barrancos - Pernas para que vos quero


Já há uns tempos que não escrevia sobre provas. Sem nenhuma razão especial. Uma das coisas boas de não se ser profissional é que não há compromissos. Não se ganha nada com isso portanto ide chatear o Camões, que a mim não me pagam para escrever. Mas tal como por vezes não apetece, por vezes apetece. E desta vez apetece-me escrever sobre a prova do Ico e sobre o facto de ter conseguido levar à sua terra umas valentes centenas de amigos. 

Não é fácil ir a Barrancos. Não foi à toa que eles mataram lá os touros décadas a fio sem ninguém passar grande bilhete ao assunto. Não há nenhum motivo adicional para ir a Barrancos para além de ir a Barrancos. Alguns sítios ficam a caminho de outros sítios. Outros ainda ficam no já agora. Barrancos não. Só dá Barrancos em Barrancos. Pode-se passar para Espanha mas do lado de lá a coisa não é muito diferente. É uma zona onde a terra e tudo o que a ela está ligado ainda está no centro da vida das pessoas. Talvez por esse motivo a natureza permaneça também ainda tão genuína, assim como as tradições e o apego das suas gentes. 

Gosto de ir a Barrancos. Já lá tinha ido uma vez fazer um treino com um grupo de amigos e fiquei fascinado com os locais por onde andámos. Como alentejano fiquei um pouco surpreendido com aquele Alentejo, cheio de... barrancos. Por isso não podia deixar de estar presente e assistir à concretização deste sonho do Ico Bossa. 

Em Barrancos encontrei tudo aquilo que prezo cada vez mais na corrida e sobretudo nos trilhos, trail ou como lhe quiserem chamar: os amigos, a hospitalidade, a boa comida e bebida, a natureza genuinamente preservada, e correr pelos montes e vales. E é de correr que esta prova é feita. Não tem nenhuma dificuldade adicional para além de terem de correr praticamente todo o percurso. Se conseguirem claro. 

Depois de uma noite no pavilhão gimnodesportivo da vila, em que estranhamente dormi bem, graças à roupa quentinha e aos tampões da 3M é certo, lá seguimos para a partida. Um compasso de espera pela partida às 10h, um pouco tarde mas compreende-se a intenção de dar tempo a quem optou por vir de mais longe logo no dia da prova. Afinal Barrancos fica longe de tudo, lembram-se?

Depois de umas subidas iniciais em torno da vila para aquecer do frio que se fazia sentir, o traçado leva-nos num sobe e desce de barrancos sem fim até entrarmos em Espanha. 
A entrada é virtual porque não se faz a mínima ideia onde acaba uma coisa e começa outra. Tive de perguntar a uns bombeiros se já estávamos em Espanha, e já estávamos. Haja fôlego para a sequência sem fim de subidas seguida de descidas até chegarmos a uma zona que alterna entre trilhos mais apertados e estradões com mais ou menos pedra que nos vão a pouco e pouco encaminhando para o nosso objectivo espanhol. Encinasola, uma espécie de vila gémea de Barrancos, mas apenas pela sua localização recôndita porque do pouco que deu para perceber da breve travessia que fizemos da mesma as semelhanças ficam por aí. 
Como em muitos (diria todos) outros casos o desenvolvimento é notoriamente superior do lado de lá da fronteira. O problema é genérico e antigo e não vale a pena estragar agora a conversa. De Encinasola regressa-se por um enorme estradão com muitos e muitos Kms de paisagens tipicamente alentejanas. Um pouco mais ondulante apenas. 

Quando se acaba o estradão estamos perto da ribeira do Murtega e claro a água vai proporcionar belas paisagens bem como as margens proporcionam belos trilhos para correr. Resta-nos passar pelo Monte da Ponderosa para o abastecimento final antes de enfrentarmos as ultimas adversidades, leia-se, galgar o ultimo barranco, que nos levará definitivamente a Barrancos. 

No final um troféu bem original que deve ter deixado as crianças bem orgulhosas do seu trabalho e de saberem que os malucos que andaram por ali a correr levaram para casa as suas obras como troféu. 

E o que fica quando cai o pano nesta 1ª edição? Fica um belo fim de semana cheio de amigos. Muitos do lado de lá, a trabalharem para a gente se divertir, é verdade, mas ainda assim lá estavam. E acredito que também devem estar contentes por tudo ter corrido tão bem. 


Quanto a nós, e creio que falo por toda a nossa comitiva, eu o Luis e o Zé, enchemos o papinho com esta viagem ao Alentejo profundo, primeiro de carro e depois a correr. No regresso juntámo-nos com a equipa vencedora da prova e seguimos a grande sugestão do Álvaro, ir comer à Adega Velha em Mourão. E que bela ideia para encerrar esta viagem. Um cozido de grão tão saboroso e genuíno como toda aquele local que parece preservado no tempo há décadas e décadas. Sem dúvida mais um dos pontos altos desta bela viagem. O Alentejo é um espectáculo!



Obrigado amigo Ico! Até à próxima. Obrigado amigos por um belo fim de semana!

Nesta ligação podem ver todas as fotos de Barrancos e nesta ligação as fotos do jantar na Adega Velha.