segunda-feira, 20 de maio de 2013

2º UTSM - 100Km por trilhos no Alto Alentejo

Barragem da Apartadura um local mágico
Foi com muito orgulho que voltei este ano a Portalegre. Para quem não sabe sou Alentejano e é muito bom assistir ao desenvolvimento destas iniciativas em regiões que estão habitualmente fora dos roteiros mais tradicionais. Mas felizmente este Ultra Trail não precisa de mais favores ou apresentações. Trata-se sem qualquer duvida da melhor prova de 100Km de Portugal, e vou dizer continental porque ainda não fui à Madeira fazer o MIUT. E mesmo sem contarmos com os quilómetros é uma das melhores provas do circuito nacional. Qualquer pessoa que lá tenha estado vos dirá o mesmo. É quase impossível organizar uma prova desta dimensão e com tamanha participação e envolvencia de toda a comunidade como ali vemos. Só há um caminho para o UTSM: levar cada vez mais e mais gente a ir a Portalegre descobrir a região, a simpatia,  a dedicação, a beleza dos trilhos e das serras e no final confirmar isso mesmo. O que ali se vive marca qualquer um. 

Por isso assim que abriram as inscrições fui dos primeiros a querer ir confirmar se o que tinha acontecido o ano passado era repetível este ano. E era.

Com o José Santos e o Luis Canhão lá seguimos ao final da tarde. O José para a sua 1ª 100K o Luis para o Trail de 42K e eu para repetir a prova do ano passado mas agora com muitas duvidas sobre como iria suportar tamanho esforço ainda às voltas com o adutor e com as dificuldades que tive no 1º trimestre desta ano. A coisa não tem estado famosa com muitos treinos em falta e com muito receio. Mas com a UTMB à vista era fundamental testar o corpo e ganhar confiança, ou não...

Jantar de equipa em Ponte Sôr
1º destino: Ponte Sôr; para preparar a barriga para o passeio pela serra num jantar com a minha equipa, Serviços Sociais da CGD. Se o ano passado éramos 6 bravos nos 100 Km este ano duplicámos a aposta e dos 23 mais de metade era para os 100 Km.
Suculentas proteínas
Só posso recomendar o Café Jardim de Ponte Sôr. Não porque o João Rebocho, que tem uma ligação afectiva àquele local, trabalhe comigo, até porque ele não esteve lá. Mas sim porque tudo o que comemos era de excelente qualidade e estava excelente. Para além do suculento e tenro bife que teria de fazer as honras durante 100 Km, ficou-me na memória o pudim. Simplesmente delicioso, o melhor pudim que talvez tenha comido na vida, um simples pudim. Parabéns à cozinheira e obrigado pelo belo repasto.

A partida este ano ia ser à meia-noite. Umas das alterações que a organização fez. Em termos logísticos este horário facilita bastante. Obviamente comparando com as 4 da manhã tem alguns inconvenientes também. Correm-se mais 4 horas de noite, perdem-se mais 4 horas de beleza e de paisagens. Os primeiros da frente irão fazer uma prova quase 50/50 de dia e de noite, enquanto os ultimos irão agradecer chegar ainda de dia. Enfim, quando uma prova dura tanto tempo não há soluções perfeitas. 

Antes da partida e na decisão de que roupa levar cometo um erro grave que me podia ter custado muito caro mais tarde. Assumo que as previsões do tempo iriam estar certas e deixo o meu casaco em Portalegre levando apenas o corta vento. A estupidez é um estado de espírito e para poupar umas centenas de gramas condicionei a minha prova ao acreditar que uma previsão iria acertar. A estupidez impediu-me também de sequer colocar o casaco no saco para eventualmente trocar em Marvão. O lado positivo é que o que não nos mata torna-nos mais fortes. Lição aprendida.

O enorme Luis Mota sempre presente
O ambiente à partida é um misto de nervos, felicidade, ansiedade, um caldo de emoções. amigos que se revêm, duvidas que crescem, estou pronto? vou aguentar? estou tramado, isto vai correr bem, isto só pode correr mal, etc. Ficam algumas imagens que valem por 1000 palavras.
A malta dos SS CGD na galhofa


 Logo de início partimos juntos, o José Santos, o Pedro Carola e eu. Optei por fazer uma corrida tranquila e ajudar os meus companheiros a fazer a sua primeira ultra 100K. Não ganhava nada em acelerar. Iria fazer a prova sozinho, sofrer muito mais e provavelmente nem iria melhorar o tempo do ano passado dado que este ano treinos e isso, tá quieto.

Num ritmo suave mas decidido lá seguimos pelos campos afora, vacas, aldeias, ribeira, num instante estávamos no PAC1 e daí a Alegrete foi mais um passeio nocturno pela serra. Ainda tivemos tempo de aumentar o nosso grupo e passámos a ser 4 com o Luis Madeira, um colega da minha equipa e mais um estreante nos 100 Km. Foi ao sairmos de Alegrete e começarmos a escalar para as Antenas que o tempo começou a mudar. O vento soprava cada vez mais forte, a humidade em forma de neblina impedia a luz do frontal de iluminar mais do que meia duzia de metros  à frente impedindo de ter uma visão do percurso ou antecipar as passadas seguintes. Era extremamente cansativo e irritante aquela mancha branca à frente da nossa vista horas e horas a fio que se iria prolongar até ao nascer do dia quando foi possível desligar o frontal.
Mas regressando à escalada surgem as primeiras alterações ao traçado deste ano, pelo menos as que me apercebi. Num dos novos trilhos prendo um pé num tronco e quando me apercebo estou a aterrar de 4 no chão. Levanto-me tão depressa como caí, verificação rápida, tudo 100%, sem estrago algum, retomo o lugar na fila e acelero um pouco para colar de novo aos meus companheiros. A pouco e pouco verifico melhor os estragos, relógio, luvas, tudo OK. Revejo a queda em câmara lenta e tento perceber como fiz para não ter estragado nada. Dá jeito cair assim. Doem-me os joelhos. O esquerdo está a sangrar. Ao fim de uns minutos o aspecto era feio. Peço um papel ao Zé que tinha um à mão. Limpo a coisa e está feito. Tudo resolvido quase sem parar.

A subida empina e o frio começa a instalar-se graças ao vento que nos fustiga nas zonas mais abertas. O nevoeiro não permite ter uma visão panorâmica da zona. Quando passamos perto de árvores o vento que as abana, obriga-as a molhar-nos. Imprimo um ritmo forte por forma a gerar calor suficiente. A subida não era muito íngreme por este novo traçado e permitia correr ocasionalmente. Com a minha má experiência do UTAT sabia bem os estragos que aquele vento e frio poderiam fazer. E sabia que nas Antenas a paragem teria de ser forçosamente rápida porque se deixamos o corpo molhado arrefecer, com aquele vento gelado é o fim da prova com uma hipotermia, como infelizmente aconteceu com o meu companheiro Álvaro Furtado e provavelmente com várias outras pessoas. Aqui, mesmo assim, ainda não me tinha arrependido da minha má decisão do corta vento.

Nas antenas foi tempo de emborcar vários chás bem quentes, sei lá quantos, resguardar-me o mais possível do vento, meter uns cubos de marmelada e rapidamente arrancámos pelo trilho de BTT abaixo, xixi adiado para um sítio em que o vento e o frio dessem tréguas.

Dali à barragem tinha feito 1 hora no ano passado. Eram 10Km descendentes por estradões, um pouco monótonos é um facto, mas permitiam um bom ritmo. Permitiam o ano passado, porque este ano as novidades quebraram a monotonia e tivemos de ir escalar uma parede enorme para animar. Aí percebi que os tempos do ano passado estavam condenados. Aquela era outra prova. A cábula que tinha feito para perceber como estava a correr a prova por comparação com o ano anterior era inútil. O Zé sempre que as coisas complicavam queixava-se: isto não tinhas trilhos técnicos? isto não era fácil?
Zé vai pedir o dinheiro de volta que os srs. enganaram-nos

Chegámos à barragem com o dia a nascer. Aquela zona é lindíssima. A passarada a acordar enchia o vale de sons e várias vezes me apeteceu ficar ali a ouvir, a ouvi-los apenas. Uns pareciam despertadores, outros toques de telemóvel, outros cantavam lindas melodias. Aquela malta acorda cá com uma boa disposição! Deve ser de morarem ali naquele sítio fantástico.

Já há uns tempos que tínhamos apagado os frontais mas o sol estava ainda escondido. A luta contra o frio manteve-se na barragem. O vento gelava-nos e escondidos atrás da carrinha lá emborcámos mais chá quente. Olhei para os enchidos mas o cérebro só pensava em bebidas quentes. Não ficámos muito tempo. 
Solinho até ao PAC5 só no cimo da serra
O pelotão iniciou rapidamente a viagem para o PAC5. Neste troço mais novidades. Ribeira ó ribeirinha que corres tão fresca, pedrinha aqui pedrinha ali, salta aqui salta acolá... ó WTF siga os pés de molho. A água fresca refresca os pés que já de si nem vinham muito quentes. Tinha sabido bem o ano passado com o calor. Mas o vale é muito bonito e até já falávamos em pôr as pernas de molho e tudo.

A chegada ao PAC5 coincidiu finalmente com os primeiros raios de sol. Até que enfim o abençoado Sol. O ambiente era de festa por ali. Bifanas, queijo fresco, tudo demasiado salgado mas face ao contexto até se agradece. Boa disposição a rodos. Sentámo-nos ao sol a comer e a beber. Que bem que soube. Até me esqueci de comer o resto da sandes de presunto que o Zé me deu. O cansaço começava  a instalar-se mas era hora de descer ao vale antes da grande subida a Marvão.
Aqui ainda perdemos alguns minutos com o percurso numa zona em que faltava talvez uma fita. Para trás e para a frente o Pedro, que se tinha perdido mais atrás, acaba por chegar com a Teresa Afonso. Caminho encontrado seguimos todos à conversa. O caminho empina e os meus companheiros seguem mais atrás enquanto sigo à conversa com a Teresa. A conversa seguia animada porque desta vez nem dei pela dureza da subida.

Marvão
Em Marvão lá tentámos ficar como novos. Pelo menos por fora conseguimos. Ainda deu para secar um pouco o corta vento e a camisola de compressão. O dia estava a ficar tão bonito que até estava a pensar seguir só de t.shirt. Ainda antes de descer decidíamos o que deixar ali e o que levar. Felizmente decidi levar o corta vento. Era pouco mas podia dar jeito. Claro que quando cheguei lá fora e senti o vento que se mantinha frio mudei logo de ideia e toca de vestir a camisola de compressão por baixo da t-shirt. Umas malucas que ali estavam ficaram ainda mais loucas e tive de fazer uma pose :) Até vesti logo o corta vento e tudo. O vento frio continuava a chatear.


Depois da sopinha e de um café até parecia que estávamos a começar. Parecia... A sensação desapareceu com as primeiras pedras da calçada descendente. Ai ui ui ai lá seguimos como se podia, o corpo a dizer "então há mais?" 
Faltavam agora 40Km. Até ao PAC7 soube bem a inovação que evitou a calçada, embora a subida fosse durinha. Já íamos ter calçada suficiente até ao PAC8.
Não posso deixar de referir que no PAC8 tive o melhor reabastecimento de sempre com uma simpática rapariga, moça vá, a aceitar o meu desafio de me reabastecer o saco de água sem eu tirar a mochila. Não se preocupe que sei usar este sistema, já enchi tantos hoje. Então vá, sem eu tirar a mochila. Ela e a amiga de roda de mim, senti-me numa box F1. E sem pingar para fora... acho, pois estava de costas:) Obrigado moças, que simpatia.
O que eu não sabia era que a partir do PAC8 o regresso estava mais suave. Foi a compensação das maldades que nos tinham feito antes. Mas a malta estava massacrada e qualquer desculpa servia já para não correr, ou era a subir ou o piso era mau ou bora descansar um pouco, isto à vez, já se sabe, o ritmo era bem lento.
Faltava algo que nos convencesse a correr porque por volta do Km 80 com um excelente piso, a descer, o Pedro estava a passar por um momento de já não dá. O sol estava cada vez menos presente. Ao contrário do vento que se manteve sempre frio, estava agora completamente coberto por gigantescas nuvens escuras. Via-se que estava a chegar borrasca.
Era o nosso incentivo. Avisei o Zé que estava de manga curta que só havia uma hipótese perante a carga de água que ia começar a qualquer momento: Corre ou vais gelar. O Zé estava dividido porque o Pedro estava para trás, mas nestas alturas não há 2 escolhas. Eu já não vinha quente devido ao baixo ritmo e ao vento frio, com aquela água gelada a cair a qualquer momento não tinha outra opção.
O meu corta vento seria como se não tivesse nada vestido ao fim de 5 minutos. O Luis também sem impermeável fez-me companhia e com pouca vontade mas sem opção lá começámos a correr. Ainda passámos por um posto intermédio com uma data de gente abrigada lá dentro. Chovia torrencialmente.
Querem água, perguntam lá de dentro? Obrigadinho, a que cai do céu chega, respondemos sem parar. Ainda considerámos voltar para dentro da tenda e esperar pelo Zé e pelo Pedro mas de nada adiantaria, com o vento que estava íamos arrefecer e atrasar ainda mais. Faltam 4Km para o PAC9. Siga. Chuva, e granizo foram os nossos companheiros durante mais de 2Km.


Toda essa parte era idêntica à do ano passado e quando vi que íamos abandonar o estradão e atalhar por dentro do mato sabia que a aldeia estava ali a 300m. Viramos e vemos grande reboliço a escalar o desnível de terra. Um grupo de espanhóis estava mesmo a finalizar a subida. Começam a gritar lá de cima, por ali, por ali, bla bla bla (em espanhol). O que é que aquele quer, dizemos um para o outro enquanto nos aproximamos  cada vez mais. Eu ia directo ao ponto onde se sobe. Mas o homem estava a ficar cada vez mais preocupado. Por aí no, va por ali e mandava-nos contornar. Enfim lá percebemos que nos íamos atascar completamente na lama e embora o sítio onde nos estivesse a mandar ir tivesse muito pior aspecto não se afundava à nossa passagem. Agradecemos a providencial dica e quando passámos verificámos infelizes pegadas de companheiros que não tiveram a mesma sorte que nós e irão seguramente fossilizar e constituir o parque jurássico de Portalegre daqui a 1 milhão de UTSM's. E que viva la España por nos salvar.
Depois na subida final o tempo acalmou e lá chegámos ao PAC9 com um sol mesmo a jeito para secar a roupa. No PAC9 enfardei pizza para além do razoável. Estava com uma fome gigantesca e nunca pizza gelada me soube tão bem. Ainda aproveitei uma deixa do Luis Madeira e ganhei uma t-shirt da organização. O Luis lançou a escada para a menina lhe oferecer a t-shirt que tinha vestida se fosse um L, não era... eu sou menos esquisito, o M serve-me. E serviu. Lá vim com uma t-shirt seca vestida e tive vergonha de lhe oferecer a minha da Meia de Almada toda fedorenta e a pingar. A sair do PAC com a t-shirt toda molhada nas mãos e sem pachorra de trocar o dorsal para a que tinha acabado de ganhar só deu para colocar por fora na mochila do Zé. Foi por isso que cheguei depois à meta sem dorsal...


Cheirava a meta mas só já as chuvadas nos faziam correr e foi debaixo dela que saímos do PAC9. Gostei muito do novo percurso até ao PAC10. E até gostei dos 200 e tal degraus, apanhei o ritmo e até gostava de ir assim até a meta. Daí para a frente faltavam 5Km que nos levariam ao estádio por debaixo da estrada nacional. Foi um percurso lento em que praticamente só andámos para garantir que não nos separávamos. Por isso tive pena que o grupo não tivesse chegado junto à meta. Acabou por ser a única coisa que não correu bem em toda a prova, mas fiquei feliz na mesma com o sucesso dos meus companheiros das ultimas 18 horas. Afinal a festa era deles pela sua primeira ultra 100 Km.

Quanto a mim ultrapassei o meu objectivo que era chegar ao fim sem problemas. Percebi que há muito trabalho pela frente, mas este foi o treino zero para o UTMB e correu bem. Daqui para a frente as coisas só podem melhorar.

Era tempo de festejar, tomar um banho e almoçar. O Luis tinha esperado para "almoçarmos" juntos e assim fizemos. Pena que as iguarias não estivessem ao nível de tudo o resto, mas também não se pode ser muito exigente nestas ocasiões. Mas a cerveja estava excelente como convém.


Quanto à prova, Portalegre está novamente de parabéns. A organização é gigantesca, tudo está previsto e (bem) pensado. Desta vez até a SIC lá esteve e finalmente o vídeo apareceu para podermos partilhar. Sigam este link. Há sempre lugar para melhorar mas tenho alguma dificuldade em mencionar algum aspecto que tenha corrido menos bem. A refeição podia ser bem melhor e o ano passado foi. Parece que a actualização online nem sempre correu bem, enfim pequenas coisas que irão manter a organização entretida ao preparar o UTSM 2014.

Por fim agradecer ao Luis Canhão por nos ter trazido moribundos para casa, a mim e ao Zé Santos. Foi graças a ele que viemos dormir nas nossas caminhas. Desejo-lhe também que para o ano ele não possa fazer o mesmo por ter participado na prova grande. A todos os que ousaram participar, tenham ou não atingido os seus objectivos, os meus parabéns. Para o ano gostava de ir ao MIUT, será que podem arranjar maneira de não faltar a Portalegre? :)

sábado, 11 de maio de 2013

Os 5 na Serra da Estrela

Cliquem na imagem para visitar a página do fotógrafo José Branco
Esta é a história de um passeio. Não se sabe se vão ser 5 mas "Os Cinco" foi uma colecção que me fez sonhar quando era miúdo e gosto da ideia de esta ser mais uma aventura dos 5. É um facto que a 1 mês do evento não faço ideia se seremos 5, 10 ou mais. Para já somos 3 e quando começarmos a correr no dia 8 de Junho logo se contam as cabeças, ou as pernas e divide-se por 2. 

Esta foto mostra a génese desta nova incursão à serra. Ao centro, de onde a estrada vem, fica o Covão d' Ametade: o local onde deixámos o carro o ano passado quando fomos em modo caminhada. Acabaríamos por regressar ao final da tarde, descendo o trilho e entrando no Covão pelas traseiras, depois de um dia inteiro de trilhos, em que passámos pela torre. Não ficámos no Covão dado que as condições de higiene eram nulas e nem para tomar um duche havia condições. A Câmara gere o local que disponibiliza de forma gratuita. Mas infelizmente o estado das instalações era vergonhoso e descemos para o Skiparque  onde por um preço muito acessível descobrimos um parque fantástico com  uma praia fluvial e excelentes condições a todos os níveis. Do parque partem imensos trilhos que nos levam por caminhadas sem fim.

Para completar o início da história faltam os trilhos. E trilhos é coisa que não falta por ali. A Câmara de Manteigas com uma fantástica iniciativa fez a sua parte. No site Manteigas Trilhos Verdes podem apreciar todo o trabalho desenvolvido. Não foi só marcar e disponibilizar os trilhos. É também todo o trabalho de ter online e de forma sistematizada toda a informação que precisamos para conhecer e planear belos passeios à distância. 

A partir da página dos trilhos (recomendo que tenham o Google Earth instalado para poderem ver os trilhos na página) podem clicar em cada um dos trilhos para verem toda a informação relativa a cada um. Têm também um pdf com todos os trilhos que permite ver o conjunto. 

Estes são os condimentos necessários. Daqui para a frente basta a vontade para a coisa nascer. 
Foi criado um grupo no Facebook para facilitar a comunicação entre quem quiser ir. Basta pedir para aderir. 

A ideia é irmos fazer 100Km no fim de semana do 10 de Junho.

O plano é o seguinte:

Sábado 8 de Junho
- Saída de Lisboa (ou de outro local) de modo a chegar por volta das 7-8h ao Skiparque no Sameiro, Manteigas
- Check-in no Skiparque, montar a tenda e seguir para os trilhos
- Correr o dia inteiro em autonomia (50-60K)
- O trilho termina no Skiparque onde podemos refrescar na água fresca do Zêzere
- Churrasco e descanso para repor energia pela noite dentro
Domingo 9 de Junho
- Acordar, pequeno almoço e seguir para os trilhos 
- Correr o dia inteiro em autonomia (40-50K)
- O trilho termina no Skiparque onde podemos refrescar na água fresca do Zêzere
- Desmontar a tenda e jantar num restaurante da zona antes de regressar a casa

Para maximizar o tempo que passamos a correr e não nos perdermos mais que o necessário, vou criar um track que podem descarregar para os vossos GPS's. As marcações dos trilhos são razoáveis. O ano passado tivemos algumas duvidas nalguns locais e andámos um pouco às aranhas. Assim não há duvidas. O track é feito com base dos trilhos do site pelo que há a garantia que são tudo trilhos corríveis sem obstáculos naturais ou artificiais, terrenos privados ou o que fôr. 

Resumidamente no primeiro dia iremos fazer o maçico central subindo à torre. Skiparque->Sameiro->Manteigas->Torre->Manteigas-Sameiro->Skiparque.

Rota da Azinha
Saímos do Skiparque pelo final da Rota da Azinha que nos vai levar até ao Sameiro. Este pequeno troço passa mesmo ao lado do parque e segue junto à estrada nacional até ao Sameiro, sempre ao lado do Zêzere. No Sameiro vamos despedir-nos do Zêzere até ao final da tarde quando regressarmos.

Rota do Sameiro
Podem ver todos os detalhes da Rota da Azinha neste link

Depois de passarmos a estrada e entrarmos no Sameiro não vamos fazer a volta pequena mas sim começarmos a trepar até ao cimo da serra que separa o Sameiro de Manteigas. Aí iremos saltar para outra rota.

Para verem todos os detalhes da Roda do Sameiro sigam este link

No cimo da serra vamos trocar de trilho. Vamos passar para a Rota das Faias. Aqui não resisto a plagiar o que está no site acerca da Rota das Faias.

Rota das Faias
A Rota das Faias possibilita a descoberta de algo novo e surpreendente a cada instante, desde a vegetação esplendorosa a paisagens fulgurantes, que juntamente com a agricultura e a pastorícia proporcionam um passeio perfeito para quem deseja conhecer a serra, as suas gentes e costumes.
Mais do que um trilho pedestre, a Rota das Faias é uma experiência sensitiva, onde os odores a rosmaninho, hortelã-brava, alfazema e tomilho se fundem com magníficos quadros que rodeiam o olhar de quem os observa.

A sua denominação advém do facto deste percurso mergulhar no interior de uma densa floresta de faias, plantada pelos Serviços Florestais de Manteigas no início do século XX.

Para além desta espécie, também há a destacar o castanheiro, a giesta, o Pinheiro-do-Oregon e os imponentes carvalhos monumentais que rodeiam a Capela de S. Lourenço, lugar de culto de reminiscências pagãs, relacionadas com a adoração das árvores e do Sol – no solstício de Verão, quem está em Manteigas vê o sol nascer sobre S. Lourenço.

Na paisagem natural sobressai o Vale Glaciar do Zêzere, em forma de “U”, a Torre, o Cântaro Magro, o Cântaro Gordo e as Penhas Douradas. Podem ver este texto e muito mais informação sobre este troço neste link. Aqui vai ser sempre a descer até Manteigas. Maravilha.

Rota do Sol
Vencida que está a primeira montanha do dia vamos entroncar na Rota do Sol. Um pequeno troço de ligação que nos vai levar até Manteigas. É um percurso circular do qual faremos a parte superior à ida e a parte inferior à vinda. Serve apenas de ligação com a Rota do Carvão, o principal obstáculo do dia. Destaco o seguinte da descrição da Rota do Sol: O caminheiro pode contemplar uma paisagem marcada pela influência de uma agricultura tradicional, com vinhas, socalcos, hortas, lameiros e levadas, deslumbrar-se com as casas típicas da serra (em xisto ou em granito), caminhos e muros ornamentados e aromatizados pelo rosmaninho que embelezam e particularizam a paisagem.

A paisagem natural é marcada pela floresta mista, de folhosas e resinosas, que pode ser observada ao longo de grande parte da rota. Na derivação que liga Sameiro a Manteigas, destaca-se o Cabeço de Satanás de onde é possível desfrutar de uma paisagem abrangente e fascinante sobre os bosques que envolvem o vale do Zêzere.

Rota do Carvão
Chegados a Manteigas espera-nos o verdadeiro desafio do dia. A Rota do Carvão. Não vamos mais parar de subir até alcançarmos a Torre. Mas vai ser uma subida cheia de beleza natural: A beleza da paisagem natural que o percurso proporciona é comprovada pela presença de Matos e Matagais e por Florestas de Folhosas, em contraposição com as esculturas naturais concebidas nas escarpas rochosas, como a Fraga da Cruz - majestoso cabeço granítico, o Fragão do Corvo e a Pedra Sobreposta. Este percurso, além de atravessar as Penhas Douradas – pequena aldeia de montanha que teve a sua origem no tratamento em altitude de doenças do foro respiratório, dá a conhecer a Nave da Mestra – depressão topográfica que apresenta um largo plano rodeado por um maciço granítico muito fracturado. O privilégio de se conhecerem estes locais é completado pelo Vale das Éguas, pelo espelho de água do Vale Rossim, pela Charca do Perdigueiro, pela panorâmica incrível para o Vale Glaciar e para o acumular de serras que se estendem até Espanha.

Rota do Maciço Central
Não iremos fazer a Rota do Carvão de uma só vez. Nenhuma subida à serra fica completa sem visitarmos a Torre, o ponto mais alto da Serra e a Rota do Carvão não chega à Torre. Por isso sensivelmente a meio e perto do ponto mais alto desta rota aproveitamos o cruzamento com a Rota do Maciço Central para darmos um salto à Torre e beber uma fresquinha. Faremos apenas o troço que liga à Torre e regressamos depois por esse mesmo troço até à Rota do Carvão. Retornados a essa Rota resta-nos descer até Manteigas desfrutando das belas paisagens que proporciona a mais fantástica das Rotas do site.

O caminho de regresso será muito mais calmo e pacífico, maioritariamente descendente. Em Manteigas passamos para a parte de regresso da Rota do Sol que, sem grandes desníveis, nos vai levar a meia altitude ao longo do vale do Zêzere até ao Sameiro. No Sameiro apanhamos o pequeno troço que nos leva até ao nosso destino final, o Skiparque.

No parque será o descanso dos guerreiros. Temos o rio Zêzere numa fantástica represa que com a sua água fresca vai auxiliar a recuperação muscular. É também altura de tomar um retemperador banho quente e preparar o espírito para um belo churrasco que vai saber pela vida. Depois descansar o máximo que no dia a seguir os trilhos aguardam por nós.

Após cozinhar todos estes troços dos vários trilhos o track do dia 1 está pronto e disponível no gpsies.com para todos. Não me responsabilizo pela precisão do track. Apenas que foi feito com troços das Rotas referidas pelo que será de total confiança e no terreno não haverá qualquer tipo de obstáculo.

Aqui fica a altimetria do percurso:

Subida acumulada 2.347 metros
Descida acumulada 2.348 metros
Acumulado Total 4.700 metros 


Podem aceder ao track no site do Gpsies usando este link. Podem fazer o track de helicóptero usando este link. Vejam se a volta agrada. O tempo estimado para efectuar o percurso vai depender muito do ritmo imposto. Idealmente num ritmo calmo deveremos demorar entre 8 e 9 horas.


2º Dia

No segundo dia os planos são,  acordar cedo e zarpar novamente para os trilhos. Desta vez não vamos ao Sameiro, nem vamos sequer passar para o lado Oeste do vale do Zêzere. Vamos manter-nos sempre no lado Este. Saímos do Skiparque subindo ao lado da pista de ski até ao cume da serra. Vai ser uma magnífica subida logo para aquecer os motores. É a Rota da Reboleira que tem vários trilhos que rasgam a encosta a várias cotas. Vamos usar esta rota como ligação para a rota seguinte, antes disso ainda vamos descer de novo até ao Zêzere para voltarmos a subir. 
Aí passaremos para o Rota do Poço do Inferno. Devido aos cumes xistosos mais altos, formados pelas rochas corneanas (fenómeno que ocorre quando o magma quente e plástico ascende atravessando as rochas pré-existentes), predominam paisagens íngremes, onde nascem linhas de água como a cascata do Poço do Inferno. Esta cascata natural tem cerca de 10 metros e chega a transformar-se em gelo nos Invernos mais rigorosos. É um monumento geológico de extrema beleza e um dos pontos de maior interesse desta rota, sendo um dos ex-líbris do Concelho de Manteigas e da Serra da Estrela. Quem sabe o dia vai permitir que nos refresquemos na bela cascata...

Depois de nos refrescarmos seguimos viagem para a Rota do Javali. Nesta Rota surgem estruturas de relevante interesse, como a Casa do Guarda-florestal dos Carvalhais ou o Viveiro Florestal das Moitas. No que reporta a linhas de água, destaca-se a Ribeira de Leandres, que corre rápida por entre escarpas e vales encaixados e o Poço do Inferno. Estes espaços naturais contribuem para o desenvolvimento da vegetação local e permitem contemplar uma bela mancha florestal que enche os horizontes de cor - tons suaves de castanho no Inverno/Primavera, verde com flores brancas no Verão, amarelo e laranja que se fundem na folhagem de Outono. Na viagem para lá faremos apenas o topo superior de ligação à Rota dos Póios Brancos.


A Rota dos Poios Brancos deve a sua designação ao facto de atravessar, no seu ponto mais elevado, o aglomerado granítico dos Poios Brancos, que nas primeiras neves do ano se veste de branco, dando um sinal claro à povoação de Manteigas que o inverno chegou. 
Os Poios Brancos correspondem a um Tor – forma granítica típica em que os blocos se acumulam in situ, respeitando o sistema de diaclases do granito. Neste local encontra-se a cadeira do Viriato, como um autêntico trono feito pelas mãos da natureza.
Esta Rota servirá para ligar à Rota Glaciar.


Vamos descer até Manteigas com paisagens que vão ficar na nossa memória. Finalista das 7 maravilhas naturais de Portugal, o Vale Glaciar do Zêzere faz-se percorrer pelo seu interior ao longo da Rota do Glaciar, desbravando um caminho de singular beleza. O percurso acompanha o refrescante Rio Zêzere, entre quadros que emolduram o azul do céu e o verde do Vale. 
Ao longo da Rota do Glaciar é possível contemplar o Vale Glaciar do Zêzere, um dos melhores exemplos da modelação da paisagem pelos glaciares, em forma de “U”. Apesar de se tratar de um vale glaciar e por isso muito aberto, as encostas são muito íngremes, cobertas de bolas graníticas e caos de blocos, principalmente na base das linhas de água.

A partir daqui vamos ligar à Rota do Javali, Poço do Inferno e por fim a Rota da Reboleira que nos vai levar  de volta ao parque onde o Zêzere nos aguarda para mais uma sessão de crioterapia. Ao final da tarde desmontamos as tendas e vamos celebrar um fim de semana de trilhos tirando a barriga de misérias para uma tasca com boa comida e bebida porque de certeza que merecemos. Só resta regressar a casa para descansar e desfrutar do dia 10 de Junho em paz. Enfm!

Este é o resumo do 2º dia:


Subida acumulada 1.932 metros
Descida acumulada 1.962 metros 
Acumulado Total 3.894 metros


Podem aceder ao track no site do Gpsies usando este link. Podem fazer o track de helicóptero usando este link. Vejam se a volta agrada. O tempo estimado para efectuar o percurso vai depender muito do ritmo imposto. Idealmente num ritmo calmo deveremos demorar entre 6 e 7 horas.