Desde Novembro que estava inscrito nesta maratona. Juntamente com o Sérgio estavam combinadas uma mini-férias que iriam servir para fazer a maratona e conhecer mais um pouco da fantástica Barcelona. Voos, apartamento, tudo tratado e arrumado à espera do grande dia. Que inevitavelmente chegou.
Sem mazelas de muito especial para além de algum cansaço acumulado das provas anteriores, mas que tentava compensar descansando durante a semana, lá fomos.
O apartamento estrategicamente seleccionado a 1km da partida permitiu uma chegada tranquila. Chegámos Sábado e em menos de um fósforo estávamos a levantar os dorsais e a almoçar na pasta party.
Com 20.000 participantes fica sempre a dúvida se vamos perder muito tempo nas burocracias e filas parvas. Mas não. Para levantar os dorsais estava irrepreensível. Até para levantar o dorsal de um amigo que à ultima da hora não pôde vir e do qual nem o número de dorsal tínhamos, foi fácil.
Em menos de 5 minutos estávamos cá fora a tentarmo-nos juntar ao resto do pessoal que tinha ficado na fila da pasta party. A fila tinha avançado bem e estavam quase a entrar para dentro do pavilhão onde infelizmente a fila ainda ia encaracolar um bom bocado antes de chegar a nossa vez. Para nosso bem aconteceu uma coisa daquelas que acontece nos países evoluídos e em que existe já uma cultura entranhada de respeito e de atenção às coisas importantes. Como o Sérgio tem miúdos pequenos, imediatamente um rapaz da organização veio buscar-nos à fila e foi-nos entregar no topo da fila onde esperámos pouco mais de 2 ou 3 minutos para ser a nossa vez.
Mesmo assim não ajudou muito a melhorar a imagem da má pasta-party, quanto a mim o calcanhar de aquiles de toda a prova. Não porque quando era a nossa vez se tenha acabado a massa e porque tivemos de esperar 10 minutos que voltasse a haver massa. Pior estavam os outros que ainda iriam esperar mais de 1 hora para usufruir daquele mau serviço. É que nem tabuleiros havia. A coisa consistia em levar um prato com massa numa mão e uma lata de refrigerante na outra enquanto atravessávamos a área de entrada para chegarmos a uma zona de mesas. Os talheres era melhor irem no bolso. Nada daquilo fazia muito sentido enquanto se tentava chegar às mesas a equilibrar um prato de plástico ondulante cheio de massa quente.
Em seguida fomos digerir a coisa para a feira da maratona. Aí sim as coisas já estavam à altura. Nada que se compare com uma grande maratona como Paris em que a feira faz cair os queixos ao chão, mas ainda assim muito decente com as principais marcas e muita novidades de fazer crescer água na boca e esvaziar os bolsos.
Vi o novo frontal da Petzl, o novo Suunto Ambit, Buffs fantásticos, muito material da Raidlight, da Salomon, tudo coisas a preços que a Troika não ia aprovar. Portanto lá seguimos e o resto do dia foi passado entre umas voltinhas de reconhecimento da zona, a compra de abastecimentos e a preparação do jantar.
Essa noite havia uma chatice adicional que merecia alguns cuidados. A hora adiantava às 2 da manhã para as 3. E a maratona partia às 8h30. Felizmente estávamos a menos de 10 minutos a pé da partida. Pelo que bastaria sair de casa um pouco antes. O problema com a mudança de hora é que hoje em dias os relógios, os telemóveis e muitas outras coisas, já mudam de hora sozinhos... ou não... quem sabe? E neste caso uma falha de 1 hora era fatal. Levantar uma hora mais cedo just in case também seria um desperdício já que já íamos dormir uma hora a menos. Felizmente o Sérgio tinha um telefone 1G que não tem cá pretensões de mudanças de hora. Eu também tinha o Ipod nano que não muda a hora sozinho, acho, sabe-se lá, mas não tinha despertador. O telefone estava na hora portuguesa ainda. O Garmin só mudava quando saisse do modo relógio e apanhasse satélite, embora já tivesse mudado para o fuso de espanha sem ninguém lhe ter pedido nada. De qualquer maneira fui dormir descansado, apenas curioso para ver como tudo se ia comportar. Lembro-me de acordar às 5h30 olhar para os 3 e todos tinham a mesma hora?!?!? Fiquei a tentar perceber quem tinha mudado ou não e não cheguei a nenhuma conclusão antes de adormecer de novo. De manhã o telefone acordou-me à hora que pretendia apesar de marcar uma hora a menos. Lindo.
Rapidamente nos despachámos e foi, tal como pensado, simples de chegar à partida e entrar nas caixas certas. O Sérgio ia ficar na caixa azul eu estava na vermelha (< 3h30). Despedimo-nos e mal chego à zona onde iria ter de esperar 20 minutos aparece o Melo. Lá estivemos na conversa até à hora da partida. Deixei-o logo ir-se embora para não me desgraçar. Eu ia ali para rolar e fazer Kms. Na semana seguinte tinha os Trilhos de Almourol à minha espera. Uma outra maratona de trail. Encaixei no meu ritmo e lá fomos. Eu e os outros 20.000. Avenidas largas, toda a gente com imenso espaço para correr. Os primeiros Kms são sempre a subir, sem grande declive mas a subir. Como se está fresco fazem-se bem até ao estádio do Barcelona que contornamos e iniciamos a descida que nos irá levar até perto da partida de novo.
Ia eu muito descansado a pensar na vida e a apreciar a cidade aparece o Pedro Ferreira de trás. Estava a ver que não te apanhava. Vinha com um ritmo acima do meu e super entusiasmado. Acompanhei-o durante uns tempos mas ele estava muito forte. Disse-lhe para seguir que eu não ia conseguir segui-lo. Dizia que não e desafiava-me a continuar. Optei por ir atrás dele ali a 4 ou 5 metros a ver se ele seguia e me deixava descansar. Mas não consegui. Começámos a aproximar dos 20Km local onde nos estávamos a cruzar com outros atletas e as coisas tornaram-se um pouco mais apertadas e já não fugiu. E lá acabámos por encaixar novamente os ritmos e seguimos juntos. Estavam a passar por nós um monte de lebres das 3h15 sendo que uma ficou mais para trás e foi ali ao pé de nós durante muito tempo. Por um lado apetecia acelerar um pouco e tentar seguir com elas. Mas era pura loucura sem qualquer preparação tentar fazer 3h15. Já era bom à meia elas estarem ali naquele sítio a afastarem-me muito muito lentamente.
Depois de ter passado ali um momento de mais cansaço o gel Gu que tinha tomado começava a fazer efeito e estava-me a sentir bem e até estava com ideias de ir atrás daquela lebre perdida das 31h5. Pergunto ao Pedro quase de forma retórica, então estás bem? A resposta supreendeu-me. Épá não! Então? Isto não está muito bem. Segue tu. Não senhor. Trouxeste-me até aqui agora tens de gramar comigo, disse-lhe. Seguimos mais uns Kms mas o Pedro estava nítidamente em quebra. Seguíamos agora a mais de 5m/km e eu tentava animá-lo, ainda lhe dei mais um Gu, esperava a ver se lhe passava aquele mau momento e se melhorava um pouco. Mas não.
Lá para o Km 26 num reabastecimento perdi-o de vista. Ainda abrandei um pouco a ver se ele reaparecia mas depois acabei por seguir com a noção que podia estar a prejudicá-lo com o meu incentivo. Possivelmente queria ficar sozinho e baixar o ritmo sem a minha pressão. Nestas alturas não há muito a fazer. Lá segui, um pouco triste porque ia ter de acabar sozinho e porque gostava imenso de acabar a prova com ele também. Após esta zona e por volta do Km 30 o mais banho de multidão enfurecida. Tanta gente junto daquele edifício que parece um supositório gigante, que fazia arrepios na espinha. A multidão dos dois lados da estrada quase que se juntava e ficava apenas um pequeno corredor no meio para passarmos. A gritaria era enorme e puxava por nós. Anims, anims, Paulo. No meio daquela confusão ouvia o meu nome porque levava o verdadeiro dorsal. Um 2º dorsal, facultativo, para pôr nas costas, onde está apenas o nome. Precisamente para que a multidão possa apoiar-nos. Excelente ideia.
Aproximávamos agora da zona do mar e de toda a zona habitacional junto ao mar. Uma zona gémea do parque das nações. Com muito mais espaço e sem a pressão do cimento que se sente aqui por Lisboa. Áreas gigantes de jardins e avenidas genuinamente largas com 1/10 dos prédios do Parque das Nações. Pode ser muito bom para quem lá mora, mas naquela altura preferia estar no Parque das Nações onde dificilmente se vê o sol. Estava uma brasa e aquela torreira estava a esgotar as ultimas reservas de energia. Tinha feito uma 1ª parte muito rápida com uma meia maratona para 3h15 e estava a pagar o preço. Seguia em dificuldades, daquelas alturas em que se pensa Para que é que eu me meto nisto? E agora como é que vou chegar ao fim? Arrrhggghh!! Estou tramado com F maíusculo.
Em seguida as ramblas ajudaram a quebrar a monotonia e trouxeram algumas sombra de volta. Só já pensava em chegar ao Cólon para depois pensar na subida até à Praça de Espanha. 2Km de sofrimento até à meta. E foram. Já conhecia bem aquela subida e contei cada lojinha até que por fim a meta à vista. Na curva antes da meta vejo a Dora, a Sandra, as miúdas a celebrar. Olho em frente e vejo o cronómetro da meta 3h20. Que coisa?!! O pouco oxigénio disponível ainda me deixou perceber que ia bater o meu record do Porto por 5 minutos. Já há muitos Kms que nem olhava para o relógio. Não queria saber de tempos. Não queria ver os Kms a passar, devagar. Mas aquele tempo acendeu as luzes todas. Acelerei como se aqueles 100 metros servissem para melhorar fosse o que fosse. Só não queria que mudasse para o minuto seguinte. E não mudou. E sem treinar e sem saber como tirei 5 min. ao tempo do Porto. 3h20. E agora? Tenho de ir fazer 3h15 ao Porto? Mau!!!
Ainda mal refeito da chegada já o Melo andava por ali a passear. Tinha feito 3h14. Excelente tempo de campeão. Vou aproveitar para tirar um foto com ele antes que já nem o consiga ver à chegada.
Chegada sem problemas, num instante fui ter com elas e voltámos para a meta em busca do Sérgio que tinha passado a ouvir música e não viu ninguém. Reencontro, grande festa. Lá fomos para casa tomar um merecido e infindável banho e vingar a coisa com um grande almoço. Barcelona esperava por nós nos próximos dias. E lá fomos gastar o ácido láctico rambla acima e rambla abaixo.
Não é fácil juntar tanta coisa num fim de semana. Férias, amigos, descobrir cidades, fazer maratonas e bater records. Mais uma para não esquecer. A minha 7ª maratona.
Venha o Almourol!
Estas e outros fotos no facebook seguindo
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este link podem ver as minhas passagens em vários pontos do circuito a partir da meia maratona em diante. É a mesma tecnologia usada na maratona de Paris.