Em 2012 juntamente com o Luis Canhão descobri o UTAT, Foi uma revelação. A história dessa prova está neste post. Foi a maior aventura da minha vida, vi jeitos de ficar ali na montanha, sofri com o frio, com a dureza das subidas, com uma descida tenebrosa sem fim, mas tudo foi superado.
E quando nos esquecemos das partes más, fica uma vontade enorme de mostrar aos amigos os tesouros que há no Atlas. Não têm qualquer valor financeiro, o que os torna inestimáveis e muito mais valiosos.
Esta nova viagem ao UTAT surgiu de uma negociação duríssima com o Luis Trindade. Bora fazer a TransGranCanária que depois vou ao UTAT. Bora! E foi assim.
Depois foi só juntar o maior número de amigos possível. Queria passar a mensagem, quantos mais melhor. Nesta prova é possível conhecer um pouquinho de um país fantástico e quebrar alguns mitos, preconceitos e julgamentos errados sobre o que é Marrocos, obviamente apanhando pelo caminho um brutal e gigantesco empeno, com uma passagem aos 3660m de altitude e mais umas quantas acima dos 3000m. Desenganem-se os que pensam que o UTAT é uma prova vulgar, igual a tantas outras que temos aqui na Europa. Ah e tal 6500 D+, já fiz esta aquela e a outra. Desenganem-se. O Atlas vai cobrar o seu preço e só os mais fortes o vencerão. O tempo máximo de 36h denotam uma aposta da organização em que o maior numero de pessoas acabem a prova. E parece-me acertado dado que este ano em 112 participantes só houve 2 desistências. Chamam-lhe a mais dura prova naquela distância. Se não fôr verdade estão muito perto disso.
Assumi o risco de organizar, tanto quanto possível, uma viagem que ficasse gravada para sempre na memória dos amigos que nos quisessem acompanhar. Voo directo de Lisboa com regresso via Marrakech e pernoita num Riad tão bom quanto em conta. Passear na medina para limpar o ácido lático que restasse, comprar recuerdos para as Marias e para os Manéis e regressar ao lar sem problemas de maior ao fim de 6 dias/5 noites; umas mini-férias.
Não vai ser esse registo que vão aqui encontrar. Estes dias que passámos são património de cada um. Até porque seria exaustivo e aborrecido resumir por palavras tudo o que passámos e nos divertimos.
Mas quanto à prova vou deixar-vos um pequeno resumo do que é regressar ao UTAT 105Km.
Há 2 tipos de pessoas que gostam de correr em montanha. Os que ainda têm de ir ao UTAT e os que já foram ao UTAT. Dento deste ultimo tipo temos ainda os marados que regressam novamente para um 2º round (diria casmurros). Engraçado como só me comecei a aperceber da loucura que é regressar ali, quando nos abastecimentos me diziam o que vinha a seguir e eu respondia que já sabia pois já tinha feito a prova. Invariavelmente perguntavam-me se não tinha sofrido o suficiente da primeira vez. E de facto ia-lhes dando cada vez mais razão à medida que progredia na prova.
Depois de um começo calmo quanto baste em que tentei chegar com o Paulo Martins o mais fresco possível aos 30km, que é onde efectivamente começa a prova, enfrentámos a 1ª subida a sério. Dia muito agradável depois de ter conseguido passar aos 3100 metros ainda sem o sol nascer e só de t-shirt. Foi uma excelente estratégia. Nem sei como suportei a ventania horrível e gelada naquele primeiro pico, mas o certo é que a coisa acalmou e ali estávamos nós a subir forte e feio após cerca de 4h.
Há 2 tipos de pessoas que gostam de correr em montanha. Os que ainda têm de ir ao UTAT e os que já foram ao UTAT. Dento deste ultimo tipo temos ainda os marados que regressam novamente para um 2º round (diria casmurros). Engraçado como só me comecei a aperceber da loucura que é regressar ali, quando nos abastecimentos me diziam o que vinha a seguir e eu respondia que já sabia pois já tinha feito a prova. Invariavelmente perguntavam-me se não tinha sofrido o suficiente da primeira vez. E de facto ia-lhes dando cada vez mais razão à medida que progredia na prova.
Depois de um começo calmo quanto baste em que tentei chegar com o Paulo Martins o mais fresco possível aos 30km, que é onde efectivamente começa a prova, enfrentámos a 1ª subida a sério. Dia muito agradável depois de ter conseguido passar aos 3100 metros ainda sem o sol nascer e só de t-shirt. Foi uma excelente estratégia. Nem sei como suportei a ventania horrível e gelada naquele primeiro pico, mas o certo é que a coisa acalmou e ali estávamos nós a subir forte e feio após cerca de 4h.
O Paulo começa a quebrar e a ir-se abaixo, tonturas, vómitos e eu começo a ver o caso mal parado. Falta muito para acabar a subida pergunta ele aos 2000m. Fingi que nem ouvi a pergunta pois aguardáva-nos subida por mais 2h30, Cada vez mais difícil progredir e depois de pararmos algumas vezes não tive outro remédio senão deixá-lo ali a recuperar. Com uma bela vista e uma boa sombra a pretegê-lo do forte sol que se fazia sentir no vale. Contrariado e triste segui sozinho, Era o primeiro revés da nossa aventura.
Sentia-me forte, os pés a acusarem algum desgaste mas fisicamente estava muito bem. Apenas uma queda em que me recordei que não se deve correr com aneis pois podem prender-se em qualquer sítio e arrancar ou cortar facilmente um dedo. Chego ao Km 68 em pouco mais que 30º lugar e com menos 2h do que em 2012. De facto estou bem melhor. Peço ao podólogo para me dar uma vista de olhos nos pés. Seca-me uma bolha com um produto que não fixei o nome, liga as zonas mais massacradas com tape e fiquei fino. Arranco para a subida dos 3660m como novo, Mantive as 2 horas de diferença e ia fazendo contas. O percurso começa a parecer-me diferente de 2012. A princípio atribuí ao facto de em 2012 ser já de noite quando comecei a subir e este ano ainda dar para ir ver o pôr do sol lá em cima, coisa que nunca imaginei possível. Estava deveras surpreendido e embora soubesse que faltavam apenas 37Km de prova, teriam de ser calmamente feitos em 12h ou perto disso. Mas ainda o dia era uma criança...
Sentia-me forte, os pés a acusarem algum desgaste mas fisicamente estava muito bem. Apenas uma queda em que me recordei que não se deve correr com aneis pois podem prender-se em qualquer sítio e arrancar ou cortar facilmente um dedo. Chego ao Km 68 em pouco mais que 30º lugar e com menos 2h do que em 2012. De facto estou bem melhor. Peço ao podólogo para me dar uma vista de olhos nos pés. Seca-me uma bolha com um produto que não fixei o nome, liga as zonas mais massacradas com tape e fiquei fino. Arranco para a subida dos 3660m como novo, Mantive as 2 horas de diferença e ia fazendo contas. O percurso começa a parecer-me diferente de 2012. A princípio atribuí ao facto de em 2012 ser já de noite quando comecei a subir e este ano ainda dar para ir ver o pôr do sol lá em cima, coisa que nunca imaginei possível. Estava deveras surpreendido e embora soubesse que faltavam apenas 37Km de prova, teriam de ser calmamente feitos em 12h ou perto disso. Mas ainda o dia era uma criança...
Ataco a subida determinado a ver o por do sol lá em cima. Decididamente não reconhecia aquele vale. As paisagens eram de cortar a respiração. Sigo já na minha posição quase definitiva, afasto-me lentamente de companheiros mais lentos a subir mas não vejo ninguém mais acima. Não via, porque de repente alguém a descansar pergunta, Pires?
Era o Trindade que estava a descansar. Depois da felicidade de encontrar alguém para falar ao fim de 7 horas, fiquei preocupado. A pouco e pouco fui-me apercebendo que o Trindade não estava bem e como estava fora de questão, nesta altura, abandonar um companheiro em dificuldades lá seguimos juntos.
Esperava-nos uma das partes mais duras da prova. A duríssima ascenção aos 3660m seguida da irracional descida de pedra e cascalho solto com uma inclinação pouco razoável e que se prolongaria durante 2000m D-
O estado do Trindade agravava-se e não estava a ser fácil progredir. A ideia seria ir até Imlil, o 3º abastecimento da prova, aos 88Km. Também da minha parte, não sei se apenas pela descida ou pelo ritmo lento e paragens contínuas, os meus pés começaram a sofrer mais do que o desejável tendo torcido várias vezes o tornozelo que já vinha frágil da subida Loriga Estrela-
Nisto, do nada surge o Paulo Martins. Vinha cheio de pica, já tinha levado pontos na canela no PC aos 3500m e tinha renascido para a vida. Lá lhe expliquei que seguia com o Trindade e acabou por seguir mais rápido.
As 6 horas estimadas para chegar a Imlil transformaram-se em 8h. Em Imlil e depois de ter de tratar novamente dos pés aparece o Sérgio Cacheirinha. Traz más notícias. Deixou a Paula Penedo no Km50 totalmente infeliz. Ia abandonar e viu-se forçado a seguir sozinho. O Trindade opta por ficar a descansar mais um pouco e seguir depois com o Sérgio e eu que só queria ver o fim à coisa meto-me ao caminho. Estes 17Km seriam feitos em 4h30 muito por culpa dos 1400 D+ mas também dado que já ia muito massacrado dos pés. Já não estava a desfrutar da prova há muito tempo.
Ainda assim foi possível fazer a prova em 25h18m tirando 1h30 ao meu tempo de 2012. Teria sido possível fazê-la em menos de 23h mantendo-me nos 30 primeiros, se tivesse sido possível manter o ritmo? Quem sabe...
De qualquer forma, depois de tanta preparação e planeamento, para mim todos os objectivos foram largamente superados, o ultimo dos quais aconteceu já ao final da tarde quando a Paula Penedo entra no quarto e surpreende toda a gente quando anuncia que tinha acabado de cortar a meta. Estávamos convencidos que tinha ficado no Km50 mas qual quê. Quando recuperou a calma decidiu acabar o que tinha ali vindo fazer. E mais nada! Meteu-se ao caminho e ainda bem. Todos tínham superado os 105Km, todos tinham conhecido e vencido o Atlas.
O meu objectivo tinha sido atingido. Sei que não terá corrido da melhor forma a todos, eu incluído, mas globalmente a viagem de descoberta do Atlas foi um enorme sucesso. Acredito que todos adoraram ir fazer o UTAT e que nunca esquecerão estes dias fantásticos que passámos, a generosidade e simpatia dos marroquinos e dos berberes, a excelente organização, a boa comida, as parvoíces e as galhofas, os boches, os douradinhos e outras palermices semelhantes, as quinquelharias marroquinas, o chupa chupa Maria, o mestre Massoud especialista em telemóveis, e tudo o resto.
Agora sei que mais alguns compreendem porque esta prova me marcou tão profundamente. Voltaremos?
Para além de algumas das fotos da viagem que podem ver neste link aqui ficam algumas fabulosas imagens. E vocês? Atrevem-se a desafiar o Atlas?
Era o Trindade que estava a descansar. Depois da felicidade de encontrar alguém para falar ao fim de 7 horas, fiquei preocupado. A pouco e pouco fui-me apercebendo que o Trindade não estava bem e como estava fora de questão, nesta altura, abandonar um companheiro em dificuldades lá seguimos juntos.
Esperava-nos uma das partes mais duras da prova. A duríssima ascenção aos 3660m seguida da irracional descida de pedra e cascalho solto com uma inclinação pouco razoável e que se prolongaria durante 2000m D-
O estado do Trindade agravava-se e não estava a ser fácil progredir. A ideia seria ir até Imlil, o 3º abastecimento da prova, aos 88Km. Também da minha parte, não sei se apenas pela descida ou pelo ritmo lento e paragens contínuas, os meus pés começaram a sofrer mais do que o desejável tendo torcido várias vezes o tornozelo que já vinha frágil da subida Loriga Estrela-
Nisto, do nada surge o Paulo Martins. Vinha cheio de pica, já tinha levado pontos na canela no PC aos 3500m e tinha renascido para a vida. Lá lhe expliquei que seguia com o Trindade e acabou por seguir mais rápido.
As 6 horas estimadas para chegar a Imlil transformaram-se em 8h. Em Imlil e depois de ter de tratar novamente dos pés aparece o Sérgio Cacheirinha. Traz más notícias. Deixou a Paula Penedo no Km50 totalmente infeliz. Ia abandonar e viu-se forçado a seguir sozinho. O Trindade opta por ficar a descansar mais um pouco e seguir depois com o Sérgio e eu que só queria ver o fim à coisa meto-me ao caminho. Estes 17Km seriam feitos em 4h30 muito por culpa dos 1400 D+ mas também dado que já ia muito massacrado dos pés. Já não estava a desfrutar da prova há muito tempo.
Ainda assim foi possível fazer a prova em 25h18m tirando 1h30 ao meu tempo de 2012. Teria sido possível fazê-la em menos de 23h mantendo-me nos 30 primeiros, se tivesse sido possível manter o ritmo? Quem sabe...
De qualquer forma, depois de tanta preparação e planeamento, para mim todos os objectivos foram largamente superados, o ultimo dos quais aconteceu já ao final da tarde quando a Paula Penedo entra no quarto e surpreende toda a gente quando anuncia que tinha acabado de cortar a meta. Estávamos convencidos que tinha ficado no Km50 mas qual quê. Quando recuperou a calma decidiu acabar o que tinha ali vindo fazer. E mais nada! Meteu-se ao caminho e ainda bem. Todos tínham superado os 105Km, todos tinham conhecido e vencido o Atlas.
O meu objectivo tinha sido atingido. Sei que não terá corrido da melhor forma a todos, eu incluído, mas globalmente a viagem de descoberta do Atlas foi um enorme sucesso. Acredito que todos adoraram ir fazer o UTAT e que nunca esquecerão estes dias fantásticos que passámos, a generosidade e simpatia dos marroquinos e dos berberes, a excelente organização, a boa comida, as parvoíces e as galhofas, os boches, os douradinhos e outras palermices semelhantes, as quinquelharias marroquinas, o chupa chupa Maria, o mestre Massoud especialista em telemóveis, e tudo o resto.
Agora sei que mais alguns compreendem porque esta prova me marcou tão profundamente. Voltaremos?
Para além de algumas das fotos da viagem que podem ver neste link aqui ficam algumas fabulosas imagens. E vocês? Atrevem-se a desafiar o Atlas?
Confesso que adoraria experimentar este empeno fenomenal!!! :D
ResponderEliminarGaranto que vais adorar
EliminarFantástico. Muitos parabéns a todos.
ResponderEliminarAbraço
Parabéns por mais uma grande aventura! Já agora, Paulo, quais foram os "pneus" para a prova?
ResponderEliminarQue grande aventura que deve ter sido! O video está fantástico!
ResponderEliminarUnleash the runner in you