Depois de alguns meses a sonhar com esta aventura, de alguns dias a planear detalhadamente o trilho, de algumas horas roubadas ao sono a escrever o guião da coisa neste post - Os 5 na Serra da Estrela, este era daqueles que merecia um desfecho final. Claro que é impossível contar aqui o que foi este magnífico fim de semana, como diz o outro, só quem lá esteve é pode contar como foi e guardar na memória todos os detalhes da coisa. Mas posso sempre deixar aqui umas pinceladas para quando formos (mais) velhotes nos podermos recordar, ainda que vagamente desta aventura. Cá vai alho!
4 e meia da manhã estávamos a sair da Charneca. Destino inicial, Coina. Objectivo recolher o Alexandre. A mala do carro já quase cheia de tralha minha e do Zé. Com a A33 em poucos minutos estávamos a seguir para o próximo destino, Ponte Sôr, para reagrupar para um café matinal. Às 6 da manhã estávamos em Ponte Sôr onde esperámos para juntar o grupo. Seguimos depois em ritmo calmo até ao Ski Parque no Sameiro, Manteigas.
Esta primeira etapa atrasou-nos um pouco pois acabámos por começar a correr às 10h, com 2 horas após o desejável. Demasiado cedo para ter stress lá seguimos calmamente. Até ao Sameiro a coisa é plana e só depois de uma volta pelo Sameiro começaram a surgir as primeiras dificuldades. Era preciso galgar o colo da serra por detrás da povoação a pouco mais de 1400 metros de altitude.Subida dura e prolongada, ritmo lento. Na face voltada a Norte a serra é careca com a típica vegetação rasteira. O tempo alternava entre sol a espaços e nuvens com vento e pingos nos intervalos. Ora veste o casaco ora tira o casaco. Mau!
O grupo seguia animado. A espaços lá vinha uma queixa porque era muito a subir....lol
Nalguns cruzamentos não era fácil perceber qual o trilho a seguir principalmente se as alternativas seguiam em direcções semelhantes e não a 90º ou mais. O Luis levava um Dakota com cartas da zona e era sempre o tira teimas final.
No cimo da 1ª serra perto de um observatório somos brindados com a primeira pérola do dia. A rota das Faiais. Um trilho descendente em Z por meio de um bosque de faias. As faias com as suas folhas verde claro, batidas pelo sol, davam um ambiente com uma luz esverdeada. O chão fofo de folhas velhas do inverno. Uma paisagem de sonho que nos levou até à base da serra. Só por aquele momento já tinha valido a pena a viagem.
Manteigas estava ali ao pé e depois seguia-se a rota do carvão. que consiste inicialmente numa escalada com uma inclinação brutal até às Penhas Douradas. Jà tínhamos percebido há muito tempo que a coisa no cimo da serra não estava fácil. Embora houvesse sol aqui e ali o cimo da serra estava envolto numa nuvem... E caminhávamos a passos largos para lá.
Mas começámos a entrar na nuvem, que estaria acima dos 1000 metros uma paragem para reabastecer. O tempo tinha mudado abruptamente. Um vento ainda protegido pela serra fazia-se já sentir. A temperatura desceu abruptamente. A humidade molhava tudo. Dali já saiu tudo bem abrigado. Só podia piorar.
Seguia-se a rota do maciço central. Inicialmente trilhos bem marcados facilitavam a progressão. A navegação era muito simples. Um olhar ocasional para o GPS garantia o rumo certo. Já totalmente desabrigados o vento soprava agora mais forte. O frio gelava a cara. O nevoeiro impedia mais de 10 metros de visibilidade- Por um lado era preciso correr para gerar calor e contrariar o frio que se sentia, por outro lado correr o suficiente para manter o corpo quente iria esfrangalhar o grupo.
Por essa altura era já evidente que não iríamos conseguir chegar à torre. O track era cicular mas a 6Km da torre bifurcava para uma ida à torre e regresso ao mesmo sítio.
A dada altura olho para trás e estava sozinho. Paro e aguardo um pouco para ver se aparece alguém do meio do nevoeiro. Nada. Confirmo no GPS que estava no trilho. Só o Zé não tinha o tack no GPS e naquela zona o trilho já era quase impossível de seguir. Não é obrigatório seguir o trilho correcto. Afinal temos o track no GPS e a margem de erro nem sempre garante que seja fácil estar em cima do trilho mesmo que no relógio estejamos lá. É sempre preciso a ajuda do terreno. Falhar o trilho tem apenas o problema de dificultar a progressão, arbustos, o nevoeiro que não deixa planear o percurso à distancia, o ritmo mais lento que impede gerar calor suficiente para combater o frio. São estes os problemas de se falhar exactamente o trilho correcto no terreno.
Não aparecia ninguem. 1 minuto, 2 minutos, começa a não fazer sentido. Começo a sentir o frio a arrefecer-me. Decido voltar para trás ao encontro de alguém. Não dava para estar parado ali desabrigado. Não fazia muito sentido, não tinha corrido assim tanto.Logo surgem o Zé e o Alexandre. Puuf!
Não deu para sentir um arrepio na espinha mas percebi que naquelas condições teríamos de seguir todos juntos. A segurança de todos era muito mais importante que qualquer outro objectivo. Estava fora de questão deixar alguém para trás ainda que acompanhado. Ora ao ritmo do grupo não íamos ter tempo de ir à torre e chegar antes das 22h ou 23h à tenda. Mais montar a tenda, tomar banho, acender o lume, jantar, etc. Fora de questão. Viemos para nos divertir e desfrutar.
O grupo reúne-se e rapidamente prescindiu de passar na torre. Parámos para reabastecer antes de voltar. Eu não tive pena nenhuma de não ir à torre. As condições estavam a piorar cada vez mais à medida que subíamos. A paisagem naquela zona é horrível, só arbustos rasteiros, trilhos é mentira, nevoeiro, frio, para quê sofrer? Bora mas é voltar para baixo. Mines, banho quente, churrasco!!! Yupie!
Mal começámos a descer e a sair da nuvem voltou em jeito de piada a ideia de que se calhar devíamos ter ido à Torre :) Claro que era só uma piada. Todos sabíamos que mesmo passando todas as dificuldades não chegaríamos ao parque num tempo razoável.
A Rota do Carvão iria levar-nos até Manteigas. Primeiro numa descida em Z com uma enorme inclinação, trilhos totalmente cobertos e de difícil progressão. Uma ou outra marca ocasional lá permitia ir confimando que estávamos na direcção correcta. Desembocámos junto a uma ribeira com uma cascata e foi tempo de reagrupar. Dali a Manteigas por um estradão foi sempre a andar, perdão, a correr. Manteigas lá comprámos pão, umas loiras (com espuma) para acalmar o espírito e siga para o parque que se faz tarde. O regresso seria a uma cota mais baixa mas ainda deu para falhar conscientemente o trilho e depois para o retomar foi o cabo dos trabalhos, por silvas ou cascalheira, não foi fácil retomar o caminho certo.
Sameiro, Ski parque, o dia 1 estava quase terminado. 47Km com 2500D+ foi ainda assim um belo dia de treino. O track do que acabámos por fazer está neste link.
Faltava, claro, a melhor parte. Montar as tendas, 2 segundos, bem medidos, um MEEEEEGA banho quente que soube por 3 vidas e toca a grelhar a carnucha, provar o tinto dos 14,5 etc. etc.
Levámos a mesa para o pé do grelhador do parque e ao pé dos nossos companheiros de parque que tinham ido fazer o mesmo que nós mas com rodas, foi um tal de grelhar carnes, beber copos, conviver e rir até o corpo pedir para ir dormir.
Ainda sem saber bem como ia haver forças para o dia seguinte, estava na cara que os 40 do dia seguinte eram uma utopia. O ritmo seria tal como hoje lento e quase de certeza ainda mais lento. Acresce o facto do pessoal se querer despachar para voltar ao lar doce lar e ainda havia umas 4 horas de viagem para baixo mais paragem em Ponte Sôr para reabastecer. Mas um dia de cada vez, amanhã logo se vê.
A noite iria ser calma e o tempo estava previsto melhorar. Haja esperança!
No dia seguinte...
(continua)
Todas as fotos no facebook: Dia 1 e Dia 2
Mas começámos a entrar na nuvem, que estaria acima dos 1000 metros uma paragem para reabastecer. O tempo tinha mudado abruptamente. Um vento ainda protegido pela serra fazia-se já sentir. A temperatura desceu abruptamente. A humidade molhava tudo. Dali já saiu tudo bem abrigado. Só podia piorar.
Seguia-se a rota do maciço central. Inicialmente trilhos bem marcados facilitavam a progressão. A navegação era muito simples. Um olhar ocasional para o GPS garantia o rumo certo. Já totalmente desabrigados o vento soprava agora mais forte. O frio gelava a cara. O nevoeiro impedia mais de 10 metros de visibilidade- Por um lado era preciso correr para gerar calor e contrariar o frio que se sentia, por outro lado correr o suficiente para manter o corpo quente iria esfrangalhar o grupo.
Por essa altura era já evidente que não iríamos conseguir chegar à torre. O track era cicular mas a 6Km da torre bifurcava para uma ida à torre e regresso ao mesmo sítio.
A dada altura olho para trás e estava sozinho. Paro e aguardo um pouco para ver se aparece alguém do meio do nevoeiro. Nada. Confirmo no GPS que estava no trilho. Só o Zé não tinha o tack no GPS e naquela zona o trilho já era quase impossível de seguir. Não é obrigatório seguir o trilho correcto. Afinal temos o track no GPS e a margem de erro nem sempre garante que seja fácil estar em cima do trilho mesmo que no relógio estejamos lá. É sempre preciso a ajuda do terreno. Falhar o trilho tem apenas o problema de dificultar a progressão, arbustos, o nevoeiro que não deixa planear o percurso à distancia, o ritmo mais lento que impede gerar calor suficiente para combater o frio. São estes os problemas de se falhar exactamente o trilho correcto no terreno.
Não aparecia ninguem. 1 minuto, 2 minutos, começa a não fazer sentido. Começo a sentir o frio a arrefecer-me. Decido voltar para trás ao encontro de alguém. Não dava para estar parado ali desabrigado. Não fazia muito sentido, não tinha corrido assim tanto.Logo surgem o Zé e o Alexandre. Puuf!
Não deu para sentir um arrepio na espinha mas percebi que naquelas condições teríamos de seguir todos juntos. A segurança de todos era muito mais importante que qualquer outro objectivo. Estava fora de questão deixar alguém para trás ainda que acompanhado. Ora ao ritmo do grupo não íamos ter tempo de ir à torre e chegar antes das 22h ou 23h à tenda. Mais montar a tenda, tomar banho, acender o lume, jantar, etc. Fora de questão. Viemos para nos divertir e desfrutar.
O grupo reúne-se e rapidamente prescindiu de passar na torre. Parámos para reabastecer antes de voltar. Eu não tive pena nenhuma de não ir à torre. As condições estavam a piorar cada vez mais à medida que subíamos. A paisagem naquela zona é horrível, só arbustos rasteiros, trilhos é mentira, nevoeiro, frio, para quê sofrer? Bora mas é voltar para baixo. Mines, banho quente, churrasco!!! Yupie!
Mal começámos a descer e a sair da nuvem voltou em jeito de piada a ideia de que se calhar devíamos ter ido à Torre :) Claro que era só uma piada. Todos sabíamos que mesmo passando todas as dificuldades não chegaríamos ao parque num tempo razoável.
A Rota do Carvão iria levar-nos até Manteigas. Primeiro numa descida em Z com uma enorme inclinação, trilhos totalmente cobertos e de difícil progressão. Uma ou outra marca ocasional lá permitia ir confimando que estávamos na direcção correcta. Desembocámos junto a uma ribeira com uma cascata e foi tempo de reagrupar. Dali a Manteigas por um estradão foi sempre a andar, perdão, a correr. Manteigas lá comprámos pão, umas loiras (com espuma) para acalmar o espírito e siga para o parque que se faz tarde. O regresso seria a uma cota mais baixa mas ainda deu para falhar conscientemente o trilho e depois para o retomar foi o cabo dos trabalhos, por silvas ou cascalheira, não foi fácil retomar o caminho certo.
Sameiro, Ski parque, o dia 1 estava quase terminado. 47Km com 2500D+ foi ainda assim um belo dia de treino. O track do que acabámos por fazer está neste link.
Faltava, claro, a melhor parte. Montar as tendas, 2 segundos, bem medidos, um MEEEEEGA banho quente que soube por 3 vidas e toca a grelhar a carnucha, provar o tinto dos 14,5 etc. etc.
Levámos a mesa para o pé do grelhador do parque e ao pé dos nossos companheiros de parque que tinham ido fazer o mesmo que nós mas com rodas, foi um tal de grelhar carnes, beber copos, conviver e rir até o corpo pedir para ir dormir.
Ainda sem saber bem como ia haver forças para o dia seguinte, estava na cara que os 40 do dia seguinte eram uma utopia. O ritmo seria tal como hoje lento e quase de certeza ainda mais lento. Acresce o facto do pessoal se querer despachar para voltar ao lar doce lar e ainda havia umas 4 horas de viagem para baixo mais paragem em Ponte Sôr para reabastecer. Mas um dia de cada vez, amanhã logo se vê.
A noite iria ser calma e o tempo estava previsto melhorar. Haja esperança!
No dia seguinte...
(continua)
Todas as fotos no facebook: Dia 1 e Dia 2
Parabéns aos cinco...
ResponderEliminarQue grande aventura.
Beijinho, Eugénia
ps. eliminei o outro porque tinha um erro
muito bom, para o ano há mais? :)
ResponderEliminarPara o ano? ;)
EliminarFique atento ao blog e aos treinos lunares....