quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Maratona de Atenas - Em busca de Fidípedes


Como em tudo na vida, esta maratona surgiu no calendário devido a uma série de acontecimentos e factos aleatórios. 
É certo que na origem esteve um desafio do José Santos à Margarida mas o desfecho final estava longe de se adivinhar nessa conversa inicial.

No fundo o que sobrou foi uma oportunidade de irmos à Grécia perceber a origem desta coisa chamada maratona, que corremos para nos desafiarmos, por vezes sem sabemos bem porquê. 

Maratona é uma pequena cidade, que dista 42 Km do centro de Atenas. Reza a história que os Atenienses, ali pelo séc V A.C. tiveram de ir a Maratona combater os Persas que estavam a desembarcar para tomar Atenas. Como eram uns tipos convencidos e os Persas tinham dito que iam tomar Atenas e violar e matar tudo o que sobrasse, os Atenienses deixaram instruções às mulheres para, se eles não estivessem de volta ao fim de 2 dias era sinal que tinham perdido a batalha e o melhor seria suicidarem-se colectivamente, pois às mãos dos persas o destino seria bem pior. 


Os gregos até conseguiram vencer os persas nessa batalha, mas como a coisa acabou por demorar mais do que o previsto, o comandante mandou o seu melhor atleta de volta a Atenas, o mais rápido que conseguisse, para avisar que não executassem o combinado, pois eles tinham vencido a batalha. Fidípedes correu tão depressa que, segundo reza a lenda morreu de exaustão, após dar a notícia aos atenienses. Seja por que tenha sido, o seu feito ficou para sempre preservado e hoje corremos 42,195m em coisas que chamamos maratonas, graças a ele. A maratona tornou-se mesmo a modalidade rainha do atletismo.

Por isso, ir ali, reviver um momento de há 2500 anos, que hoje em dia celebramos por esse mundo fora, tem um significado único e inquestionável. Somos todos Fídipedes. E foi em busca de Fidípedes que fomos.

Num pequeno resumo do que foi um fim se semana fantástico deixo-vos umas dicas do que é esta maratona única. Não esperava uma coisa tão bem organizada, mas de facto a organização da prova é das melhores em que já participei. Tudo funcionou como um relógio suíço, numa estrutura que não é nada simples de colocar em prática. Esta é uma prova inclusiva, em que a competição não é o principal objectivo. Daí haver uma categoria Power Walking que parte 40 minutos depois da primeira vaga. A maratona tem um tempo limite de 8h40m e um tempo abaixo das 3h garante-vos um lugar nos 150 primeiros. É absolutamente normal. Quem quer fazer tempos não vai à maratona de Atenas. É o reviver de um momento histórico e não uma competição.

O percurso é uma espécie de IC19 de menor envergadura que atravessa várias localidades. Não há nada para ver, mas alguém vai ali para ver as vistas? O apoio é constante ao longo do percurso; a população de todas as localidades ao longo do percurso concentra-se junto à estrada e não poupa apoio aos atletas. Imensas crianças a pedirem a habitual palmada, filas de crianças, uma autentica festa. 

A organização tem de transportar os quase 20.000 atletas em autocarros que partem de vários pontos de atenas e os 42 Km não permitem mais do que 1 viagem por autocarro. Assim estimo que são necessários cerca de 350 autocarros, que partem entre as 5h30 e as 6h45m, para colocar aquela gente toda na partida. Tudo fluiu tranquilamente com milhares de pessoas na zona de Omonia, onde apanhámos o nosso, por volta das 6h30.



Pode-se aquecer no estádio de Maratona, e tudo está bem pensado para fluir rapidamente para a partida. Distribuem-se bufs e sacos de plástico para vestir e combater o vento fresco que o sol ainda não consegue fazer esquecer. Dezenas de carrinhas da DHL estrategicamente colocadas recebem os sacos de quem precisa de enviar coisas para a chegada. Sem qualquer stress estamos na box da partida. O percurso é o inverso ao que fizemos de autocarro. A estrada está totalmente cortada. Corremos nas faixas de um sentido, estando o outro sentido reservado para a circulação de veículos da organização. Abastecimentos de 2,5 Km em 2,5 Km, águas, e mais para a frente isotónico, géis GU, bananas, esponjas. Começo a reparar em equipas de primeiros socorros. Às tantas estavam de Km a Km ou menos, aos pares, pareciam bem artilhados, prontos para qualquer ajuda. Casas de banho portáteis em cada abastecimento. Tudo pensado e executado da melhor maneira. Facilmente esta foi uma das melhores maratonas em que já participei. O percurso é o que é. Fidípedes teve de o fazer e também nós. Escusam de tentar fazer um bom tempo. Não tem subidas muito pronunciadas mas algumas são muito prolongadas. Depois de 10 Km relativamente planos, até ao Km 32 é sempre a subir. Como consolação os últimos 10 Km são sempre a descer. Até que entram no magnífico estádio Panatenaico, branco, todo em mármore, bancadas cheias de publico, um espectáculo de chegada, uma das melhores que conheço também.

Após mais de 1 ano e meio, quase parado, com uma lesão difícil de resolver (mais informação neste post), e 1 ano depois de ter ido a Valência só passear, esta maratona teve um sabor muito especial. Senti-me um Fidípides a tentar chegar a Atenas. Parti de Maratona sem outro objectivo que não fosse chegar, mas tirando algumas inevitáveis dores, a coisa até correu bem. A cabeça queria mais, mas o corpo, sem treino e ainda em processo de recuperação, não dava mais. Foi um bocado suplício fazer a prova em 3h23m mas dadas as condicionantes, estou muito feliz com o resultado final. Foi um momento particularmente emocionante entrar naquele estádio e perceber que já me é possível correr uma maratona.

Não podia deixar de mencionar o facto da Margarida ter atingido o seu objectivo de fazer uma maratona, com total distinção. Para tão poucos treinos, ter no curriculum A maratona de Atenas como a primeira maratona, com 4h10 é uma excelente prestação.

Parabéns também à Dora e à Mónica que, ao seu ritmo mas com imenso querer, fizeram também o percurso de Fidípedes, fazendo da nossa família uma família de maratonistas. Orgulho familiar, mas sobretudo a esperança que a actividade física e tudo o que isso tem de bom, faça parte das suas vidas.

Depois da prova, ou antes, reservem 2 dias completos para visitarem os melhores locais de Atenas, a Acrópole, os museus Arqueológico e da Acrópole, as Ágoras, os bairros tradicionais com tascas para provarem as iguarias gregas ou beberem uns copos. Há um sem número de possibilidades para se divertirem, mas sobretudo é também um mergulho na história da humanidade e dos nossos antepassados.

Aqui ficam alguns bonecos do que podem esperar de Atenas


Sintam-se Fidípedes e ide lá percorrer o percurso histórico, que dá sentido a todas as outras maratonas que vamos fazendo.


Ah, faltava a questão financeira. Para quem pensa que estas coisas são caras podem ficar surpreendidos.
- A maratona custa 30€ (sem t-shirt);
- O preço não altera até final, não há sorteios e outras parvoíces. Enquanto houver vagas é inscrever;
- O voo pela Aegeans custou 120€ (ida e volta já com 50€ de desconto da organização no fim de semana da maratona)
- A Aegeans é melhor que a TAP (a todos os níveis, temos pena)

Arranjem um Airbnb em conta e facilmente concluem que gastam mais em alguns fins de semana cá pelo burgo, com provas SUPER CARAS, do que irem conhecer um país fantástico às portas da Ásia.... e mais não digo.

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