sábado, 24 de junho de 2017

O melhor que o Algarve tem - Parte 1 de várias



Quando visitava Cachopo e via as placas da Via Algarviana sonhava com o dia em que conseguiria fazer aquela via. O Algarve litoral não me diz grande coisa. Por melhores que sejam as suas praias, que conheço provavelmente na totalidade, não é um local aprazível. A pressão turística, os atentados urbanísticos, a sobrelotação veraneante, nada me dizem. Já tive a minha dose. Não é sítio que frequente durante a época de banhos. Já a serra...
A Via Algarvina é uma Grande Rota (GR13) que atravessa Portugal de Alcoutim ao Cabo de S. Vicente numa extensão de 300 Km. Está dividida em 14 setores da seguinte forma:

Setor 1 – Alcoutim » Balurcos 24,20 km
Setor 2 – Balurcus » Furnazinhas 14,30 km
Setor 3 – Furnazinhas » Vaqueiros 20,30 km
Setor 4 – Vaqueiros » Cachopo 14,88 km
Setor 5 – Cachopo » Barranco do Velho 29,10 km
Setor 6 – Barranco do Velho » Salir 14,90 km
Setor 7 – Salir » Alte 16,20 km
Setor 8 – Alte » Messines 19,30 km
Setor 9 – Messines » Silves 27,60 km
Setor 10 – Silves » Monchique 28,60 km
Setor 11 – Monchique » Marmelete 14,70 km
Setor 12 – Marmelete » Bensafrim 30,00 km
Setor 13 – Bensafrim » Vila do Bispo 30,19 km
Setor 14 – Vila do Bispo » Sagres 17,65 km

Foram vários anos a matutar na coisa, no formato em que seria possível, com mais gente, com mais ou menos apoios, em 4 dias, em 5 dias. Depois de várias tentativas em que por um ou por outro motivo acabava por ficar para o ano, a coisa começou a ganhar tracção. Seriam precisos 5 dias a uma média de 60 Km por dia. O grupo começou a formar-se. Depois de lançar o “réptil” no facebook, qual armadilha com queijo, fiquei à espera que os ratos entrassem no navio. E a pouco e pouco, quem tinha deixado o radar ligado, lá foi aparecendo e juntando-se ao grupo.

O mote desta vez era simples. Não haveria qualquer planeamento prévio. O saco cama na mochila iria assegurar que poderíamos descansar em qualquer lado. Só havia 2 objetivos, partir e, se possível, concluir. Sabíamos que a via está relativamente bem marcada, alguns mantimentos para as primeiras horas, track GPS para facilitar a progressão, principalmente de noite, e pouco mais. Nunca como desta vez a imprevisibilidade esteve tão presente numa aventura. 
À medida que a data se aproximava as previsões meteorológicas agravavam cada vez mais a temperatura para a serra. Uma coisa era certa, não iríamos ter frio à noite.

Não podíamos ter formado um grupo mais heterogéneo, desde um grande corredor, até velhos cheios de maleitas, o leque estava bem composto. Garantia de sucesso. Como habitual nestas coisas, todos devem ir preparados para prosseguir em total autonomia, o grupo não segue sempre junto, cada qual deve sentir-se livre para ir ao ritmo que quiser, quer acelerando, quer ficando para trás. E se algo acontecer? Bom, algo pode acontecer em qualquer lugar em qualquer dia. Há que analisar a situação a tomar a melhor decisão. Sozinho ou acompanhado, tal como na vida.

Aqui não iriam existir propriamente locais pré-definidos para pernoita ou para reabastecer. Mas isso logo se vê como vai funcionar. Uma coisa de cada vez!

Com um um fim de semana e um feriado pelo meio, havia uma data estabelecida para o regresso. Quarta-feira às 17h teria de estar em Lagos para apanhar o comboio de regresso. Este era o meu limite. Planeando para trás isso iria dar-nos apenas 4,5 dias, pois ainda seria preciso sair do Cabo de S. Vicente para Sagres onde seria necessário apanhar um autocarro para Lagos e depois o comboio para cima. Apenas sabíamos que à hora de almoço tudo teria de estar terminado para dar tempo de regressar ao lar.

O plano para fazer a via Algarviana era simples. Há um autocarro que sai de Lisboa diariamente para Vila Real de Santo António e passa em Balurcos, a 5 Km de Alcoutim que é o início da via. Bilhetes comprados para dia 9 de Junho, entrada no Centrol Sul em Almada, 4h de viagem, pela A2 abaixo, depois Beja, Mértola e por fim Balurcos, um cruzamento no limite de Balurcos de Baixo. 

9 de Junho

São quase 22h. Abandonamos o autocarro e nessa altura o grupo já tinha decidido que não ia até Alcoutim. É que embora estivéssemos apenas a 5 Km de Alcoutim, pelo caminho mais direto, voltar a Balurcos pela via Algarviana (a via passa precisamente naquele local) seriam mais 25 Km. Isso significava 5 a 6 horas extra, só para voltarmos aquele local. Que impacto isso teria no objectivo final era impossível prever. Mas teria desde logo um grande atraso para o plano do dia seguinte. Provavelmente não conseguiríamos recuperar essas 6 horas nos dias seguintes. Não sabíamos ao certo. Mas o apelo a ignorar a efeméride de fazer toda a via (seja lá isso o que fôr... voltarei a este tema mais à frente) falou mais alto e rapidamente virámos as costas a Alcoutim e rumámos a Oeste...

Balurcos era uma aldeia fantasma àquela hora. O trilho virava à esquerda mas era preciso tomar algo para refrescar. Estavam 26º às 10 da noite. Será que havia um café aberto na aldeia? Depois de conseguirmos fazer parar um carro (não estava fácil) lá nos confirmaram que havia um café na aldeia aberto. Um pequeno desvio para uma mine, um café e um medronho oferecido pelo gentil proprietário do café que, tal como os poucos clientes àquela hora, estava levemente abananado... devia ser do calor. Agora sim estávamos prontos. Só postar uma selfe no face e....



A aventura ia começar e tudo o resto era irrelevante!

Vejam mais fotos neste post do  Eduardo Lourenço no Facebook 

(continuar para a parte 2)

6 comentários:

  1. Mt bom!!! Mts Parabéns e obrigado pela partilha!!!

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  2. E as próximas partes? Esta deixou "água na boca". Runabraço

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  3. Muito fixe Paulo, grande aventura! Abraço

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  4. Grandes "Balurcos"... claro q também estive convosco na aventura! Relato 6*!!! abraço

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  5. Boa sabes criar o apetite para a aventura de corrida e de leitura. ��

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