quinta-feira, 13 de julho de 2017

O melhor que o Algarve tem - Fim da linha


14 de Junho - Raposeira - Cabo de S. Vicente - 17,5 Km

6 da manhã. A cama não está muito confortável e não vai melhorar. As casas de banho são um grande conforto para a higiene matinal. Despedimo-nos do parque infantil da Raposeira, o nosso resort, e rumamos em direção a Vila do Bispo em busca de um café aberto.




Em Vila do Bispo há 2 opções para prosseguir rumo ao cabo de S. Vincente. Pela Via Algarviana ou pelo Rota Vicentina. Não se percebe bem porquê. Em Salir já nos tinham dito que o percurso da Via Algarviana a partir de Vila do Bispo era um flop total, ao contrário do percurso da Rota Vicentina, muito mais bonito. Pergunta-se, mas porque é que o percurso não é comum sendo que o outro é bem mais bonito e interessante? Para dar os 300 Km? Já tínhamos sentido isso aqui e ali ao longo do percurso. Mas aqui, mais do que no terreno, basta ver no mapa as reviangas que o percurso faz para se concluir que só pode ser esse o motivo. Porque não é seguramente pelo aborrecimento e total desinteresse deste percurso face ao outro, que alguém decidiu serem distintos. Mas havia un(s) purista(s) no grupo... que insistia(m) em fazer a Via Algarviana...

© João Faustino
Eu por mim era irrelevante, até preferia fazer a Rota Vicentina sendo mais bonita e com menos 3 Km, tava comprado. Mas não queria ser do contra (mais do que já sou), por isso seguimos pela Via Algarviana. Em Vila do Bispo esperámos um pouco pela abertura de um café cujo horário dizia que abria às 7... Mas às 7h15 arrancámos. Os horários por aqui rimam com otários.
© João Faustino
O percurso era, como esperado, um flop total. Primeiro em estradão, depois em alcatrão. retas planas a perder de vista. À medida que nos aproximávamos corria cada vez mais. O nosso objectivo já não o exigia, esta era quase a etapa de consagração. Mas sentia-me leve e capaz de correr. Quando desembocámos enfim na estrada nacional que liga Sagres ao Cabo acabou-se a corrida. O Trindade apanha-me e o Zé um pouco mais à frente. O Melo vinha mais para trás. O Eduardo nem sabíamos onde andava. Desgraçado tinha ido dormir no Hostel onde estavam os alarves dos ingleses que urraram até às 4 da manhã...

© Luis Matos
O Luis Matos, contrariamente ao que imaginei, resistiu a dormir no Barão de São João e seguiu sozinho para a travessia da zona que na noite anterior tinha sido penosa para nós. Às vezes é melhor só....
No meio da bicharada lá decidiu que era hora de encostar à box e siga.

Nós estávamos quase lá. Começa-se a ver o mar. Finalmente! Enormes falésias  escarpadas, quase esculpidas. O final do nosso país. Um local cheio de história (ou de tretas como dizem alguns historiadores). Para nós era o fim da aventura, o concretizar de um objectivo que demorou anos a chegar. E lá estávamos nós a resgatar o prémio. Sem medalhas, sem glória, apenas o sentimento de termos cumprido aquilo a que nos tínhamos proposto e que fomos ali fazer. Como habitual, nada de muito especial. Apenas uns dias entre amigos, ultrapassar algumas dificuldades, gerir o imprevisto e desfrutar de todo o processo.


© Luis Trindade
Encostamo-nos por ali à espera que a coisa abra (abre às 10!) e nada mais. Começam a chegar autocarros carregados de espanhóis e muitas outras nacionalidades. Finalmente abrem o raio do mausoléu, bebemos umas fresquinhas para celebrar o momento e começamos a pensar na viagem para Sagres. 

Sim, ainda era preciso ir até Sagres, almoçar, apanhar o autocarro para Lagos, onde depois apanharíamos o comboio para Tunes, onde faríamos o transbordo para o Inter Cidades que nos levaria enfim até ao Pragal, para uns, enquanto o Melo seguiria para Lisboa.
Depois de tantos, só faltavam mais 6 Km sob um sol abrasador, mas ninguém parava para dar uma boleia nem nenhum taxista de Sagres se dignou a vir-nos buscar. E mesmo tendo em conta que 90% dos carros que passavam por nós eram alugados por turistas....quis o destino que mamássemos mais aquela longa reta de caminhada até chegar por fim a um refrescante e desinfectante banho, já há 2 dias merecido.  

© José Santos
Fica a aventura, gravada para sempre na memória dos que participaram, dos que acreditaram que era possível. Obrigado pela vossa companhia. Quis fazer este relato para que daqui a uns anos, ao relermos esta prosa, nos lembrássemos de todos os momentos que vivemos em conjunto e que são impossíveis de enumerar aqui, tal como os sentimentos de cada um ao longo destes 5 dias. Acredito que tal como me acontece a mim, ao lermos algumas coisas nos lembramos das outras, daquelas que ficam por contar...
É o meu singelo tributo à vossa presença!


Uma agradecimento especial à minha família que suporta estas aventuras e fica a segurar as pontas nestas alturas. Não sou um tipo muito exigente, mas nestas alturas sinto que a vida não tem sido austera com o que me vai permitindo desfrutar. Se sou eu que estico a corda, ou se é ela que faz questão de me oferecer estes momentos únicos, é algo que ainda não percebi e se calhar nunca descobrirei. Mas também, que importância tem isso face à dimensão das emoções que vou vivendo?

Venha a próxima!

Fim. Finalmente!

1 comentário:

  1. Obrigado pela partilha de mais uma grande experiência. Na verdade, é um relato verdadeiramente INSPIRADOR!!! jg.

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