domingo, 9 de julho de 2017

O melhor que o Algarve tem - Parte 4 de várias

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12 de Junho - Messines - Monchique - 56 Km

Aproveitámos bem aquela noite confortável e agendámos a partida apenas para as 7h. O Melo e o Luis Matos não quiseram vir connosco. Ainda não sabiam bem o que iam fazer mas depois haviam de dar notícias. Estava confiante que não iam abandonar o barco.

© João Faustino
Pequeno almoço nas máquinas de vending do quartel, era o que havia. Embora não nos tenham cobrado qualquer quantia pela estadia, mas também precisamente por isso, fiz uma doação generosa à corporação. Nunca é demais ajudarmos os bombeiros. Ficámos um pouco à conversa com um bombeiro sobre o percurso seguinte, a disponibilidade de água, etc. Supostamente não havia grande dificuldade para além de umas subidas mais lá para a frente, mas não havia água potável, o que parecia uma piada dado que grande parte do percurso seria junto a duas barragens.


Equídeo curioso © João Faustino

© João Faustino
A primeira etapa de 30 Km iria levar-nos até Silves. O pessoal seguia bem disposto após uma noite descansada. O percurso desce inicialmente até à barragem do Funcho que vai contornando ao longo de um estradão. Seguíamos protegidos do sol pelas encostas, que já era bastante forte àquela hora.
O estradão estava infelizmente suficientemente alto para impedir um refrescante banho. Também ainda era cedo e podia ser que mais para a frente baixasse à cota da água...



© João Faustino
© João Faustino

Mas não tivemos sorte. Depois de subirmos e descermos para passar o paredão da barragem, o máximo a que tivemos direito foi a vislumbrar uns locais fantásticos para uns refrescantes mergulhos mas já completamente fora do percurso. Depois de passarmos o paredão começa-se a subir, e bem. Já sem qualquer protecção o sol massacra-nos. Já vamos com 16 Km e depois de 2 Km de subida árdua o percurso seria tendencialmente descendente até Silves. Antes assim. Entretanto o Melo manda mensagem a dizer que vai seguir de comboio com o Luis Matos e esperam por nós em Monchique para depois prosseguirem a viagem connosco. Estavam a precisar de descansar um dia. Ainda bem!

© João Faustino
A descida para Silves faz-se em trilhos mais resguardados de eucaliptal. O calor é sufocante. A água mesmo quente vai-se acabando. Na descida cada um deu largas à sua velocidade e sigo sozinho. Quando saímos do eucaliptal encontro o Eduardo e seguimos juntos. Embora o trilho não passasse em Silves sabíamos que estávamos perto pela distância que já tínhamos percorrido. Tínhamos feito já 26 Km de um total previsto de 28 Km. Nas primeiras casas que avistámos um estrangeiro oferece-nos água. Fresca!!! Maravilha. Nem enchi as garrafas porque "era já ali"...

O Trindade junta-se a nós. Procurávamos agora o habitual placard que sinalizava o final da etapa. O track que estava a seguir não estava partido por etapas, pelo que no meu relógio o track seguia para Monchique. Cruzamos a estrada e começámos a afastar-nos das casas. Afinal Silves tem um castelo e está num alto, pelo que quando começámos de novo a subir não estranhei muito. 28Km e Silves nem vê-la. Mais um patamar... deve estar a surgir o final da etapa. 29 Km. Não procurava propriamente Silves mas qualquer coisa... uns casebres, uma aldeola, o raio da placa do final da etapa. É ali, já vejo um jipe... já vejo uma torre de vigia... o guarda florestal convida-nos a subir. Pelo menos estávamos à sombra.

Boa tarde. Sabe onde acaba a etapa da via algarviana? Não sei, mas daqui para a frente é para Monchique. Silves já ficou para trás... Os cerros a perder de vista, quer para um lado quer para outro.
Lá explicámos o nosso problema ao guarda, que se revelou uma pessoa extremamente simpática e conhecedora de tudo o que fosse trilhos e natureza da região. Disse-nos que de facto em tempos existia um placard grande da via algarviana lá em baixo, mas depois vandalizaram e desapareceu. Certo! Estamos em Portugal, o costume. De qualquer forma não percebi bem o final daquela etapa ser no meio de nenhures. Sempre coincidiram com locais urbanos onde depois se pode descansar, reabastecer, etc. No mínimo é parvo.

© José Santos
Telefono ao Zé que e digo-lhe que siga para Silves que nós íamos aproveitar a boleia às 13h quando acabasse o turno do guarda. A ideia de voltar para trás para irmos almoçar e reabastecer, para depois voltar a subir aquilo tudo não agradava muito.  Mas ele ajudou-nos com uma dica de um local em que a via algarviana passava relativamente perto da estrada e que poderíamos usar depois de almoço. Era só arranjarmos uma boleia de volta. Feito!

O almoço foi mais um exemplo de simpatia e hospitalidade no Recanto dos Mouros, o castelo ali em frente. Não tínhamos uma piscina para refrescar mas tínhamos relva e uma enorme sombra no jardim. Os proprietários saíram mas deixaram-nos água fresca, acesso às casas de banho, tomadas para carregar o que fosse preciso. Gente boa que não se esquece. Obrigado amigos!

© João Faustino
Por volta das 5 da tarde lá nos metemos ao caminho. Faltava outro tanto mas agora incluía a dura subida à Picota antes de conquistarmos Monchique, o objectivo do dia. Estradão e mais estradão as coisas só começaram a ficar interessantes quando faltavam 15 Km para o destino, depois de se passar a ribeira de Odelouca.
© João Faustino
O percurso abandona finalmente a estrada e dirigimo-nos para a Fonte Santa, uma zona com alguma vegetação mais cerrada em pregas da serra por onde corre a ribeira de Monchique. Faz lembrar os Abutres com um trilho muito fechado no meio de denso arvoredo. A diferença é ali trata-se de uma zona de excepção numa serra que é sobretudo quase careca naquela encosta. Quando abandonamos a ribeira lá vem subida, 8Km com 700m de desnível para vencer. Nada de muito especial mas com o calor e o acumulado de um dia inteiro já pesa.

Na subida íngreme avista-se a barragem de Odelouca e o vasto Algarve interior, paisagens fabulosas que ajudam a acalmar a dureza do percurso.

Barragem de Odelouca © João Faustino

© João Faustino
A conquista da picota teve transmissão em direto para o facebook. Elevado nível de parvoíce a celebrar a conquista do dia. Pena o tempo ter começado a fechar, porque dali via-se todo o Algarve, incluindo o nosso destino. Parecia já tão perto o Cabo de S. Vicente... Ali acho que todos percebemos que o objectivo já não nos ia escapar. Em Monchique faltavam 90 Km para o final, ou sejam, 1 dia e meio à nossa média. Precisamente o que tínhamos disponível.

Eufóricos e com pressa porque os nossos companheiros Melo e Luis Matos já em Monchique, nos assustaram a dizer que a cidade ia fechar e ficávamos sem jantar, descemos à bruta da Picota para Monchique.
Acabámos a noite à bifanada numa esplanada junto ao jardim. O Melo ainda foi tentar ver se os bombeiros nos recebiam, mas com um fogo na serra tinham mais que fazer do que aturar-nos. No dia seguinte iríamos passar pela zona ardida onde faziam já o rescaldo.
Sorte para o dono do café que nos alugou uns quartinhos por cima do dito cujo. Banho quente, xixi e cama. Havia um sentimento generalizado de satisfação. Estávamos quase lá e íamos ter mais uma noite tranquila e fôfinha!
Estávamos a subir na vida. A este ritmo já me imaginava num resort com piscina na próxima noite...
Monchique ao final do dia - © João Faustino
Vejam mais fotos neste post do  Eduardo Lourenço no Facebook 

(continuar para a parte 5)

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