Este 15º Treino Lunar foi especial. Realizou-se em 2 locais distintos do país. Com a Lua Cheia a calhar no dia do Ultra Trail Nocturno da Lagoa de Óbidos, não tive outra hipótese. Eu não posso estar em 2 locais ao mesmo tempo mas o Treino Lunar pode. Como se viu! Assim entreguei a chave do evento no local do costume ao Paulo Costa e desloquei-me como muitos amigos em comitiva a Óbidos para uma espécie de Treino Lunar aberto.
Assim, tal como no dia 13, este relato tem 2 versões. O Pedro Ferreira escreveu a crónica do Treino Lunar oficial desse dia. Basta seguirem este link e lerem como correram as coisas na Costa. Obrigado pelo relato Pedro.
Enquanto isso em Óbidos as coisas correram assim:
Como podem ver pela foto de cima estava um final de tarde fantástico na Costa. Um pouco mais de 30º e por volta das 17h30 arranquei com o Luis para Óbidos. Mas assim que passámos Loures as nuvens que se vêem ao longe aqui nas fotos da Costa ficaram bem presentes. Uma espessa camada de nuvens a baixa altitude cobria totalmente o céu. A temperatura baixou 10º e estava dado o mote. Ao contrário do que dizia nos dorsais não íamos correr à luz da lua.
Foi a 1ª vez que fui ao TNLO e tinha muita expectativa relativamente a este Trail. Organizado por amigos do Trail para muitos outros amigos do Trail. Impossível perder. Tanta gente conhecida. Uma festa. Claro que estavam lá muitos dos que faltavam na Costa da Caparica também.
Um pouco antes da partida começa a cair uma chuva miudinha, que era só o que faltava. Belo mês de Agosto este.
Após a partida lá seguimos em direcção à Lagoa. Muitas vezes olhava para trás para ver a fila de pirilampos gigantesca que serpenteava pela serra. Magnífico! A chuva miudinha que não parava de cair não incomodava muito. Atá ajudava a reduzir o pó nalgumas zonas do percurso. Para além de nos ir ensopando a pouco e pouco. A elevada humidade do ar dificultava também fazendo suar ainda um pouco mais.
O percurso seguia relativamente plano a espaços com fortes subidas de curta duração ou escadarias enormes. A lua cheia fez de facto uma grande falta para ajudar a apreciar a paisagem e a lagoa. Uma pena perdermos imagens fantásticas que só se vão repetir sabe-se lá quando. Os frontais revelaram-se fundamentais porque a escuridão era total. As fantásticas marcações feitas com fita reflectora necessitavam também de um bom frontal e asseguro-vos que os rascos frontais do chinês causaram seguramente algumas dificuldades a quem os usou. Era necessário um frontal que iluminasse, quer o chão, quer as bermas, para se ir verificando o caminho.
Seguia eu junto à Lagoa a pensar se estaria mesmo em condições para fazer os 47 Km. Havia sempre a hipótese de, perto do Km 13, mudar de ideias e fazer apenas a volta pequena de 25 Km. Havia de facto 2 provas em simultâneo O TNLO e UltraTNLO. Eu ia para o Ultra mas com sérias duvidas dado que não tinha treinado o suficiente, fundamentalmente faltaram-me 2 ou 3 treinos longos de 30 ou mais Km para me dar aquela confiança. Ia razoavelmente bem com algum desconforto num calcanhar devido aos ténis ainda bastante recentes. Mas claro que aos 13Km não é possivel antever o que vai acontecer aos 30 ou aos 40. E ali era o ponto de não retorno. Continuando em frente rapidamente chegaria aos 20 e depois a parte mais exigente até aos 30. Ora nessa altura, como desistir só me iria levar a ter de fazer os quase 20 que faltavam, desistir aí não era opção, pelo menos de descanso.
Será que não estava a esticar a corda e iria terminar com alguma mazela que me iria impedir de treinar durante várias semanas? A somar a isto tudo um compromisso para o dia a seguir ia complicar ainda mais com a chegada a casa apenas por volta das 5 da manhã.. ou mais
Ia eu neste dilema e aparece o Luis Roque. Começámos a falar e rapidamente percebemos que estávamos no mesmo barco. Ambos inscritos para o UTNLO mas cada um com os seus fantasmas e com sérias duvidas sobre continuar ou ficar pelo pequeno. Claro que se um gajo com duvidas já é mau, 2 gajos com duvidas fazem 1 gajo com certezas e no ponto de não retorno optámos por nos resguardar.
Com um misto de felicidade por ir terminar sem sofrer tanto mas com aquela sensação de dever não cumprido lá fizemos o regresso. Num misto de "isto agora já não conta para nada" lá seguimos mais tranquilos, a descansar ainda mais do que seria necessário lá fomos juntos até ao final. Quando corríamos seguíamos num bom ritmo mas era como um exército a bater em retirada. Já não existia aquela convicção...
No final, depois de escalar a subida para o castelo um excelente banquete nos aguardava. Tanta coisa boa, fruta, canja, chá, bolos, coca-cola, etc.etc.
O amigo Orlando e a Leonor também lá estavam com a sua banca a fazer lembrar, ainda mais, um Treino Lunar. Os pastéis de bacalhau, a cervejinha fresquinha e o Arroz Doce. Foi um belo jantar!
Não me arrependo nada de ter feito apenas o percurso pequeno. Fiquei mais tarde a saber que entre o Km 20 e o 30 era praticamente sempre areia. Se eu não estava preparado para correr 47 Km então com 10 de areia pelo meio.. ui ui... ia haver estragos. Foi a melhor decisão. Para o ano há outro UTNLO soberbamente organizado pelo amigo Jorge Serrazina e pelo Luis Gonzaga. Embora a prova seja numa altura que pode por vezes sobrepor-se aos períodos de férias vou tentar não faltar e sobretudo nunca mais subestimar a prova e armar-me em carapau que não treina a sério.
Termino agradecendo ao Paulo Costa por ter organizado um belo Treino Lunar na Costa da Caparica. As fotos da Costa são da autoria do Joaquim Ferreira a quem agradeço novamente por mais um belo trabalho.
Como sempre,mais um excedlente relato, Paulo. Saúdo a tua sensatez de optar pela prova curta (mesmo com a sensação de bater em retirada). Eu é que tenho a mania de me armar em forte, mesmo sem estar preparado e depois...
ResponderEliminarAbraço.
(Tenho pena de não te ter visto por lá)
Fernando Andrade
Paulo
ResponderEliminarPelo relatado, foi uma atitude inteligente da tua parte teres feito só os 25 km.
É que não podemos por em risco os nossos limites, o importante é auscultar o corpo e ele não estava afim de ir para além dos limites.
O prazer não é sofrer!
Um belo relato, como é teu apanágio, e a certeza que para o ano lá estaremos. A Organização merece!
Abraços!