segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Já se vê o futuro ao fundo do túnel... e não é bonito!


Este post é uma cápsula do tempo. Para revisitar em 2050.... 

Desde que me lembro sempre tive esta visão futurista da humanidade: chegaria o dia em que toda a humanidade estaria em contacto permanente e partilharia uma consciência global. Toda a gente estaria ligada em rede, seria possível contactar diretamente com qualquer mente de qualquer ser humano. Partilhar emoções, sentimentos, ver e sentir o que qualquer um sentisse. 

Esta visão não é nova, muito menos original, seguramente a terei lido em vários livros de ficção científica. 

O engraçado desta visão é que desde que surgiram os telemóveis, a pouco e pouco estamos cada vez mais perto da sua total concretização. Somos seres sociais, colaborativos e cada vez mais sentimos a necessidade de o fazer. Como se cada vez mais, as ferramentas que vão existindo, nos levassem a pedir ainda mais. Basta andar nos transportes públicos, pelas ruas, cada vez somos mais zombies. Estamos ali mas não estamos ali. Estamos em tanto lado ao mesmo tempo, menos ali.

Primeiro vieram os telemóveis, depois a internet, depois a internet móvel, depois o google, depois as aplicações sociais e agora é o que se vê: a alienação e imersão total na ligação aos outros, a conexão total. Estamos sempre ligados, nas notícias, nos amigos, nos temas, nas conversas, nas indignações. As notícias saltam dos media, para a indignação social, que por sua vez realimenta as notícias que realimentam o social. Os políticos são por vezes obrigados a tecer comentários sobre indignações sociais, ridículas e absurdas. 

E claro, a "nova" geração de políticos manobra e desfruta como ninguém estes novos media. Os ideais, as convicções, tudo isso morreu. Pouco importam as tuas convicções. Isso dá muito trabalho e está ultrapassado. Ninguém tem paciência de formar uma convicção. Tudo tem de ser imediato. A exploração do populismo está ao rubro. A propaganda e a manipulação das convicções do senso comum é fundamental. Nesta sociedade imediata e ligada, é mais importante saberes aproveitar a maioria das opiniões do que teres uma postura didática e tentar explicar às pessoas o que está certo ou errado; simplesmente és atropelado pela marabunta da verborreia fácil.

Todos os dias surgem nos media casos chocantes de parvoíce. Opiniões generalizadas aberrantes. Parece que existe uma espécie de grunhice global, que tudo nivela por baixo, que faz tábua rasa de direitos fundamentais, de respeito pelo próximo. É preciso é insultar e achincalhar sem olhar a meios termos. 

Ao ver o caminho ridículo que as coisas estão a tomar e tendo, de algum modo, antevisto os passos que nos trouxeram até aqui, creio que começo a vislumbrar a miséria dos tempos que aí vêm. Asnos como o Trump e o Bolsonaro, chegarem a governar nações como os USA e o Brasil... medo! 

Não tenho nada contra nenhum destes seres, nem em quem depositou esperanças na sua eleição. Choca-me um bocado que alguém vote nestas peças; é o quê? O desespero? A mensagem (inevitavelmente populista, aproveitadora e falsa)? Basta ver, por exemplo, alguns vídeos do Bolsonaro quando era mais novo e é o vale tudo... parece o grunho do café da esquina, era matá-los a todos, encerra isto, acaba com aquilo. Claro que nada disso vai acontecer, será apenas mais um grunho mal parido a gerar ideias parvas, algumas melhores, outras piores, como todos os outros claro. 

Não faço ideia se este é melhor que o outro. É apenas um exemplo, entre tantos outros. Uso este porque é recente e foi falado até à exaustão, pelo que é um bom exemplo para usar.

Mas este tipo de pessoas estão a ascender ao topo graças aos tempos em que vivemos. Ou seja a colaboração cada vez maior dos seres humanos está a produzir este tipo de resultados. 

Falta apenas um passo para a minha visão se tornar realidade, o interface direto ao nosso cérebro. A alienação total, deixarmos de precisar de aparelhos externos para desfrutarmos de tudo o que já existe no ciberespaço. Imaginem, sempre ligados. Em vez de um pensamento nosso, estarmos em contacto com quem quiséssemos, ver o que essa pessoa estivesse a ver, a sentir. A despersonalização total do ser humano como uma entidade única. A comunhão total das mentes a nível mundial. Possível? Sem duvida. Desejável? Inevitável!

Não faltará muito tempo para que esse interface surja. Eu diria umas décadas, mas à velocidade cada vez mais acelerada que tudo acontece, talvez 10, 20 anos sejam mais que suficientes. E claro como tudo na vida, não vai surgir de um dia para o outro, não será uma coisa que as pessoas vão rejeitar. Vão rejeitar tanto como rejeitam hoje em dia os seus telefones, que registam toda a sua vida ao mais ínfimo detalhe, mas que são o seu escape da realidade.

Não é possível imaginar o impacto do que aí vem, mas a julgar pelo rumo que as coisas estão a tomar, a minha visão de uma consciência global mais evoluída, não passa afinal de uma visão de um mundo de terror. Talvez a sociedade se divida entre os "connected" e os renegados, exilados digitais, perseguidos e escorraçados de um mundo inevitavelmente em movimento acelerado para a desgraça.

Uma coisa é certa. Vai ser algo tão interessante como inesperado e impensável... aguardemos.

2 comentários:

  1. Amigo Paulo, a minha vénia perante o autor deste magnífico texto. Abraço

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    1. Obrigado Fernando. Fico admirado como ainda há quem consiga ler tantas palavras :) grande abraço

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