sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Columbus Grand Trail - O Grand Lameiro

Nunca fui aos Açores fazer uma prova de Trail. Sabe-se lá porquê. Adoro os Açores e faltam-me imensas ilhas na coleção. Tudo boas razões para lá ir e desfrutar daquela natureza magnífica. Por isso este ano quando surgiu a oportunidade de ir conhecer, detalhadamente, a ilha de Santa Maria com o Columbus Grand Trail (77Km) num percurso circular, não hesitei. Era a altura e a distância certas, rumo a coisas maiores. Aqui fica uma pequena descrição do que foi a nossa viagem de descoberta das terras marienses.


Começámos por acertar na meteorologia. Uma ilha que, segundo nos contaram por lá, costuma ser poupada às piores condições que por vezes ocorrem no grupo ocidental, vestiu-se de neblina, chuva e vento para nos receber. Sobrava a temperatura, sempre bastante agradável, na casa dos 18-20 graus.
Fomos no voo da Azores, direto na ida de Lisboa (e com paragem em S. Miguel no regresso). Gostei do serviço, do avião, da simpatia. Recomendo. Este voo tem um preço muito competitivo, sendo que sai à 5ª e regressa ao Domingo. Ideal para passar um fim de semana tranquilo a descobrir as maravilhas marienses. 

Foi o que fizemos 5ª e 6ª feira. Recomendo alugar um carro ou um taxi que vos leve a visitar os principais pontos de interesse. A ilha é pequena mas tem vários pontos de interesse espalhados.
Quer pequenas vilas com praias, bares e esplanadas, quer trilhos rurais, escadarias gigantescas que vos levam quase aos 300m de altitude passando por vinhas em socalcos, formações geológicas singulares e um sem número de recantos e paisagens fabulosas. Fica o resto para descobrirem quando lá forem.
Estava algo apreensivo com o tempo que íamos apanhar. Toda a gente nos ia dizendo que tivemos azar com o tempo, que sábado ia ser o pior dia... embora não estivesse frio, o vento forte e a chuva prometiam um dia deveras arrasador. 


Acordámos por volta das 5 da manhã. Eu e o Pedro para os 77 Km, a Dora ficou na cama para mais tarde fazer os 21 Km. Não dei por grandes cargas de chuva durante a noite, e a previsão e o alerta amarelo começava apenas às 6 da manhã.
Consulto as imagens do radar e verifico que as descargas de chuva estavam a passar um pouco a norte, por cima de São Miguel. A previsão de chuva indicava agora 11 da manhã. Uuuuffff!!! Mais tranquilo sigo para a partida, 5 minutos de trote rua abaixo. 
Embora estivesse bastante vento, a temperatura permitiu partir apenas com uma t-shirt :)
Os primeiros 10-11 Km da prova são um engano. Prados verdes, trilhos secos, estradas de ligação, rolar, mesmo com algumas subidas a coisa é tranquila. 

A pouco e pouco vão surgindo os primeiros estradões um pouco mais enlameados, vou-me desviando e evitando molhar ou sujar o pezinho. Mas inevitavelmente as coisas
começam a complicar, subidas com enormes seixos escorregadios, descidas com muita pedra e lama, lama, muita lama, muita muita lama. Numa descida fico estatelado no chão, só me aleijei no mindinho, que ainda está inchado hoje, mas fico todo barrado de lama. Paro no riacho no final da descida para lavar os estragos.

Estava dado o mote. Lama! Lama, lama, lama! Lama, lama, lama, lama.! O percurso transforma-se num gigantesco lameiro (como se chama por aqui) com pequenos troços de alcatrão que ligam os lameiros. Os lameiros sobem ou descem. Há vários tipos de lama, mais funda, mais escorregadia, mais pastilha elástica. Aprendo a correr na lama, nas pedras com lama, mas ainda assim às vezes é mais rápido fazer as subidas com lama do que as descidas com lama e pedras. 
O vento alterna entre forte e muito forte, a chuva forte aparece por volta das 11h como prometido, mas desaparece rapidamente. Tirando o vento o dia até nem está tão mau como o pintaram. À medida que nos aproximamos do ponto mais alto da prova (Pico Alto com 570m) dá para perceber que em termos de nuvens a coisa até está menos carregada do que nos dias anteriores. Quase a chegar ao Pico Alto até consigo ver o mar cá em baixo, coisa impossível nos dias anteriores.

Quase, quase no Pico Alto, toca a descer, contornar todo o monte para voltar a subir, obviamente por um trilho 100% de lama. Descidas abruptas, subidas patinantes, tudo um mimo. 

Depois do Pico Alto a coisa começa a acalmar, isto do ponto de vista de tudo o que tínhamos passado para chegar até ali . No abastecimento dos 54 Km fico a saber que sou o primeiro M50. Raios parta, agora que queria acabar a coisa calmamente...

Entro nos últimos 21 Km, que a Dora tinha feito. O percurso é bonito, mas naquela altura um tipo só já quer acabar a coisa, quer lá saber do mar e das vistas. 

Acabo por fazer cerca de 11h40m. Entre as 11h que tinha estimado se corresse bem, e a realidade de um piso muito complicado e pesado, bem como de algumas limitações físicas que fazem parte da minha luta pessoal, a minha cruz. Garanto o primeiro lugar M50 com meia hora para o segundo, um italiano; tá fraquinho este pessoal, deixarem-me ganhar.
Embora todos tivéssemos levado um sinalizador GPS e a Dora estivesse a seguir a minha prova, a coisa não estava a atualizar tão rapidamente como desejável e acabei por chegar antes que ela tivesse tempo de chegar à meta para me receber. Houve pódios para quase toda a gente. A Margarida ganhou a geral feminina, o Luis Trindade fez 2º M40, eu 1º M50 e a Dora 3º F50. Só faltou a prova ter corrido melhor ao Pedro que ia ali a roçar o tempo limite e ficou pelo abastecimento dos 64 numa barreira horária algo discutível, mas quando vamos muito à queima ficamos à mercê das decisões das organizações. 

Estava feita a volta a Santa Maria. Depois do jantar de entrega dos prémios e de uma noite de descanso, restava-nos queimar os últimos cartuchos na ilha, apanhar o avião para voltar, desta vez com lugares em 1ª classe (acho que isto contribuiu para gostar da Azores Airlines) para mim e para a Dora. Eles sabem quem são de facto os clientes mais importantes!
O que trouxemos de Santa Maria e do Columbus Trail? Um grande fim de semana entre amigos, grandes almoçaradas e jantaradas, alguma lama (mesmo depois de vários banhos e lavagens de material) e a alma cheia de gentes muito simpáticas. Ficou a vontade de regressar noutro contexto, sobretudo com outro tempo, para desfrutar a 100% das paisagens e da calma que aquela ilha tem para oferecer. 
Quem sabe um dia. Para já fica-me a faltar menos uma ilha na colecção e uma vontade ainda maior de conhecer as que faltam. Um abraço para todos os marienses. Obrigado pela vossa hospitalidade. 

Bem hajam|

(crédito de algumas fotos - Pedro Fontoura)

1 comentário:

  1. Parece uma boa desculpa para visitar os Açores pela primeira vez. Obrigado.

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