Afinal o homem corre
No artigo anterior fizemos o unboxing do Stryd e configurámos tudo o que havia para configurar. Se perderam esse grande momento literário, não percam mais tempo e cliquem aqui!
Continuando a saga de correr com power, agora a decisão mais importante que têm de tomar é se usam o suporte preto ou o suporte laranja para prender o Stryd às vossas sapatilhas. Ainda não testei de forma rigorosa, mas acho que o suporte laranja dá mais power. YMMV
Na versão anterior aparentemente era um bocado indiferente a orientação do footpod, mas no Stryd Wind é importante a parte mais fina estar virada para a frente, pois aí é que está a entrada para o anemómetro (sensor que mede a velocidade do vento).
Também é importante primeiro prender a parte de trás no suporte e só depois fazer força à frente para garantir que o Stryd fica bem preso e não salta durante a corrida. Mas se por acaso o relógio perder a ligação ao sensor durante uma actividade, vai começar a vibrar feito maluco e recebem um alerta no ecrã. Curiosamente durante uma paragem forçada num semáforo coloquei as mãos atrás das costas e para minha surpresa rapidamente recebi o alerta. Portanto à partida não é preciso muito para que o relógio reaja e desta forma não ficam com o bicho perdido num trilho.
O Stryd deve ser preso na primeira fila de atacadores, ficando assim o mais à frente possível mas assegurando sempre que não bloqueiam a entrada do anemómetro.
Podem usar na sapatilha esquerda ou na direita, ou rodar pelos vários pares que possuem, o importante é garantir que a posição é consistente de treino para treino. Ou seja, não se ponham a trocar o Stryd do pé esquerdo para o direito, ou a prendê-lo no topo da sapatilha e no dia seguinte a colocá-lo mais em baixo, que à partida tudo vai correr bem. Segundo a marca o Stryd será relativamente imune a estas alterações, mas para garantir medições mais fiáveis, convém usá-lo sempre no mesmo sítio.
Em termos de conexão aparentemente a melhor opção é ter o Stryd no pé direito, quando se usa o relógio na mão esquerda, pois desta forma enquanto corremos os dois vão andar a par e passo. Mas como também recomendam que seja usado no pé esquerdo quando estamos a correr em pista (no sentido normal que é ao contrário dos ponteiros do relógio), então optei por ter o Stryd sempre no pé esquerdo apesar de usar o relógio do mesmo lado e até hoje nunca tive problemas de sinal (de notar que tenho a versão Wind como indiquei noutro artigo, que tem uma ligação mais potente).
E pronto, está na hora de ver o que vale isto de correr com power! Mas quem segue estes artigos já sabe que não pode ser assim tão fácil.
Se vamos usar um sensor para medir certas métricas, a primeira coisa que devemos tentar garantir é que o sensor está devidamente calibrado. Caso contrário não poderemos confiar nas medições que efetuamos, correndo assim o risco de tomarmos decisões com base em dados que não são fiáveis.
Decidi começar pela medição de distância do Stryd, que à partida seria mais fácil de testar. Como referi anteriormente o footpod pode ser usado como fonte para a distância e velocidade, sobrepondo-se aos dados obtidos pelo GPS.
Pode existir a tentação de testar o Stryd numa passadeira e comparar com o computador de bordo ao fim de alguns minutos. O problema que se coloca é que a maioria das passadeiras, principalmente aquelas a que temos acesso, não estão propriamente calibradas. Mesmo quando são novas, pior ainda quando já têm alguns anos sem manutenção. Mas mesmo que estejam aparentemente porreiras, na realidade verifica-se que a velocidade do tapete não é constante, acelerando por exemplo com o passar do tempo conforme o motor vai ficando mais quente. Por outro lado, a passadeira abranda quando o peso do corredor atinge o tapete, acelerando quando está no ar e assim sucessivamente durante a duração da atividade. O que o Stryd verificou nos seus testes, é que na esmagadora maioria dos casos as passadeiras não têm qualidade suficiente para testar a precisão do footpod. Mais facilmente o Stryd serve para verificar se uma passadeira está certa, do que acontece o contrário.
Achei que a minha melhor opção para testar a distância seria correr numa pista. Como o Stryd permite sincronizar os dados offline que ficam gravados na memória do footpod, mantive o Garmin a utilizar o GPS para a medição de distância, para depois mais tarde comparar os dois: a atividade gravada no relógio com GPS vs a atividade no Stryd com os acelerómetros americanos topos de gama.
Lá fui eu então correr para a pista do Inatel.
No site têm o protocolo que deve ser seguido para este tipo de teste, pelo que dentro do possível tentei cumprir o que lá estava. O primeiro problema é que aparentemente as pistas mesmo que estejam devidamente certificadas, na prática podem ter desvios até 1%. Que pode não parecer muito, mas não deixam de ser mais quatro metros numa volta à pista que supostamente tem quatrocentos. Malditas pistas, são quase tão más como as passadeiras!
Toca de perguntar ao sogro se ele não terá algures uma daquelas rodinhas que medem distâncias, ou alguma cena das obras que sirva para o efeito.
Nada feito, nem ele nem ninguém que eu conheça tem algo semelhante. E depois de comprar o Stryd não me estava a apetecer pagar mais 25 euros ou algo parecido por uma rodinha. Uma alternativa seria utilizar uma bicicleta como fazem nas provas, mas também teria de ter um aparelhómetro na roda e não estou a ver o segurança do Inatel a achar muita piada a ciclismo no tartan. Em alternativa o mister Pires sugeriu-me medir a pista com palitos... Ainda ponderei uma fita métrica das obras, mas a questão das curvas e o ridículo da coisa fez-me desistir desse método. Mas nesta fase nada me faria demover, era quase uma questão de honra testar a precisão do Stryd!
Acabei por optar pelo mais razoável, que foi considerar que a pista do Inatel tem efetivamente 400 metros certificados. Mas quem conhece as pistas de atletismo, sabe que na prática isto não é assim tão simples. Efetivamente a pista mais interior tem uma distância de 400 metros, mas quando medida a 20cm da linha que delimita a pista (ou 30cm quando a borda da pista tem relevo). Faz sentido, afinal de contas apesar do atleta tentar correr sempre o mais encostado à esquerda possível, não é permitido correr em cima da linha, pelo que em média considera-se que corre à distância de 20cm da linha interior.
Ou seja, na prática voltava a ter um problema de precisão para o raio do teste de distância, pois teria de correr na pista 1 enquanto tentava consistentemente manter-me a 20 cm da linha interior (ou seriam 30cm no caso desta pista, que tem uma faixa metálica a delimitar a pista do relvado interior?).
Felizmente no grupo do FB deparei-me com várias recomendações alternativas, que cabeças bem mais espertas e sãs que a minha tinham inventado, tendo escolhido uma que na altura me pareceu a mais simples: correr não na pista 1, mas em cima da linha que divide a pista 1 e a pista 2, que é suposto então ter 406 metros. Correr em cima da linha tinha a vantagem óbvia de ser bastante mais fácil de manter o rumo, sem desvios significativos que comprometessem a tão almejada precisão.
Infelizmente tinha uma desvantagem que só descobri mais tarde, mas já lá vamos.
O protocolo tem várias recomendações para a execução do teste, mas no essencial devemos assegurar que:
• Temos o Stryd no pé esquerdo (quando corremos como é habitual no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio);
• Começamos com o pé esquerdo na linha de partida;
• Corremos várias voltas na pista (preferencialmente 4 voltas ou mais);
• Terminamos com o pé esquerdo na linha de chegada.
Face ao tempo que tinha naquele dia decidi fazer 6 voltas à pista, cerca de 2.400 metros portanto, mas com a adição de mais 6 metros por volta devido ao facto de estar a correr em cima da linha. Ou seja, o resultado final deveria ser o mais perto possível de 2.436 metros.
Decido marcar manualmente as voltas com o lap button cada vez que passo na partida, tentando inclusivamente fazê-lo coordenado com o pé esquerdo em cima da linha aquando da passagem, para depois ter uma ideia da variação entre voltas. Ainda andava aflito da gripalhada que tinha apanhado no Natal, mas lá consigo ir variando o ritmo de cada volta, para adicionalmente tentar perceber se a medição de distância do Stryd seria sensível ao pace.
Termino o teste com o pé esquerdo centradíssimo na linha de chegada e o Garmin mostra no ecrã uma distância de 2,47 Km. Falta uma casa de precisão para perceber se estamos a falar de 2.474 metros ou 2.465 metros (devido ao arredondamento), mas para já constato aquilo que todos já ouvimos falar. Os relógios GPS não são muito precisos em termos de distância. O mister Pires já tinha abordado o tema aqui no blog neste artigo, com resultados semelhantes.
Só em casa com o Powercenter do Stryd é que iria finalmente conseguir comparar com a sincronização offline do footpod e é aí que surge a desilusão. O meu treino tinha consistido em 3 partes: a ida para o estádio, as 6 voltas à pista e depois o regresso. Cada uma destas partes tinha sido gravada como uma atividade independente no relógio, para depois ser mais fácil analisar o que realmente interessava. E realmente no Garmin Connect tudo lá estava certinho, mas no Powercenter após ter efetuado a sincronização offline só encontrava uma única atividade.
Lá volto eu ao grupo e após alguma investigação consigo perceber o que aconteceu. O Stryd é meramente um sensor como tal não tem conceitos como atividade ou lap. Ou seja, o sensor quanto deteta o que aparenta ser uma atividade de corrida começa a gravar, quando parece que parámos deixa de gravar. Não existe um botão de on/off, tudo se processa de forma automática.
O atleta para interagir com o Stryd tem de o fazer através de uma app ou software, sendo essa que vai então guardar a informação que recebe em formatos que sejam úteis, como por exemplo a divisão do treino em parcelas. Resumindo, estava tramado, o Garmin tinha gravado as voltas com GPS numa atividade separada, mas o Stryd tinha o treino todo junto numa única atividade de 45 minutos. Seria muito complicado extrair do meio disto tudo o momento exacto em que tinha começado e terminado as 6 voltas à pista. Para que fique claro, isto só aconteceu porque decidi comparar o GPS Garmin com a medição em bruto do Stryd. Numa utilização normal apenas vamos usar o relógio e tudo surge direitinho como é suposto. Só correu mal porque decidi armar-me aos cucos.
O que fazer então? Repetir o teste na pista sem invenções, desta vez com o Stryd como fonte para a distância e velocidade, deixando o GPS ativo apenas para desenhar o mapa. Mas claro já se sabe, isto ficará para um próximo artigo.
Sem comentários:
Enviar um comentário