terça-feira, 8 de março de 2011

6 de Março - Inesquecível Trail Convívio em Barrancos



Este fim de semana foi uma feliz conjugação de vários factores. Desde logo o desafio lançado na Laminha para o Francisco organizar uma coisa ali por Barrancos. Depois o Francisco que organizou uma coisa ali por Barrancos. Depois o Ricardo e o José Magro que começaram logo a combinar que íamos todos. Depois o facto ter termos mesmo ido todos. Desprezando uma emblemática prova em Cascais, que vos digo sinceramente e cada vez mais, foi o que menos me custou.

Tudo combinado e arranjado lá nos fizemos á estrada. Nunca tinha ido a Barrancos. Quem já foi a Barrancos? 
É por isso que Barrancos é como é. Não está a caminho de nada e é precio ir lá de propósito. E desta vez tínhamos um propósito. A expectativa era gigantesca desde que vi as fotos do Francisco no facebook. Que maravilha de natureza nos esperava. Um colega meu também já tinha andado ali para os lados do castelo de Noudar e eu já tinha explorado virtualmente a área. Até já estivemos para ir passar um fim de ano no monte de Coitadinha… no mais profundo Alentejo. Portanto sabia ao que ia.

Chegámos a Barrancos e encontrámos toda a gente, quase por magia. Na praça principal, onde fazem os touros de morte, decorria um casamento. Foi tempo de tomar uma mine, esperar mais um pouco e seguimos para o jantar. Nas instalações da escola básica tivemos um mega jantar de convívio. Bem regado e animado, com tão ilustres companheiros a conversa girava obviamente em torno das grandes provas de trail. Uma delícia para os ouvidos de maçaricos aprendizes. Não posso deixar de referir o licor de chocolate branco com gengibre, produção da Paula. Vou ter de ficar à espera de uma oportunidade para adquirir uma garrafinhas deste surpreendente néctar.

Infelizmente, devido ao tempo instável e ao frio que apareceu esta semana não fomos dormir ao Castelo de Noudar como inicialmente pensado. Foi uma pena. Tinha adorado a experiência. Mas face ao frio e ao possível mau tempo o Francisco fez bem  em mudar o hotel para o pavilhão gimno-desportivo da vila. Dormimos descansados sendo que ainda caiu uma carga de água durante a noite.

O dia acordou muito bonito e prometia ser nosso amigo. Fomos para o Castelo de onde iria ser a partida. Uma voltinha para apreciar o fantástico Castelo de Noudar. O local é magnífico, com vistas deslumbrantes. O castelo está relativamente bem conservado e é possível subir à torre para desfrutar de paisagens que nunca mais se esquecem. O rio Ardila e a ribeira de Murtega serpenteiam entre montes sem fim criando a ilusão de estarmo rodeados de vários rios. Uma maravilha. Fotos e mais fotos e siga que se faz tarde.


Nota: vejam todos os filmes no youtube em full screen para desfrutarem das paisagens em formato HD.


Descemos até um vale verdinho, tudo é verdinho por ali, e subimos a um cerro perto para voltarmos a descer e encontrarmos a ribeira de Murtega. Os cheiros enchem-nos o espírito. As estevas, o funcho, tudo de mistura numa poção que eu ficava ali a saborear sem mais nada para fazer. Fica para outra oportunidade mais calma. 
Corríamos livres por prados de relva verdejante que nos ensopava os pés. Sem fitas e sem preocupações que não fossem desfrutar da paisagem, dos amigos na galhofa e tirar muitas todos. Saltávamos cancelas ou rastejávamos por baixo do arame farpado. 

O plano era agora voltar ao Castelo pela ribeira. A encosta do rio ficava cada vez mais íngreme e escarpada. Logo logo a corrida se transformou em escalada. Progredíamos com enorme cuidado. As lajes de xisto húmidas e com limos não admitiam brincadeiras. A malta adorava a dificuldade. Apareciam as primeiras comparações e elogios ao traçado do Francisco. Brincava-se com o facto de outras provas bem conhecidas da nossa praça serem para meninos e aquilo sim, é que era dureza. Às tantas era tempo de abandonar o rio e escalar a íngreme encosta até tomarmos o Castelo novamente. Demorámos mais de 1 hora nestes primeiros Kms, tal a dureza do percurso. Cá em cima felizes e cansados esperámos pelo Prudêncio que não se sentia muito à vontade naquele “terreno”.

Contornámos o Castelo por trás e descemos agora a encosta para Este em busca do Rio Ardila. Com passagem por um moinho de rio seguimos depois ao longo do rio numa zona bem desafogada. 

Finalmente corrida mas num terreno bem irregular. Ao fim de uns kms a minha lesão na coxa começou a queixar-se. Felizmente abandonámos a rio e subimos até á estrada, ou seja oportunidade para descansar um pouco J
Iamos deixar o Prudèncio no caminho mais directo para o Castelo. Estávamos agora com cerca de 2h30m. O Ricardo que se ia a queixar da perna desde o início e o José Magro aproveitaram e fizeram companhia ao Prudêncio regressando mais cedo para Barrancos.
Sem o Prudêncio temi que passasse a ser eu o coxo de serviço a atrasar o pessoal. A minha coxa pedia-me para ir com eles já para Barrancos. A meu cérebro dizia-me nem penses. Fiquei ali indeciso por uns momentos até porque não estava à espera que o Zé e o Ricardo também quisessem ir…. O cérebro ganhou. E lá seguimos e voltámos a descer para o rio. Em breve o cenário iria repeteir-se: o vale começava a estreitar, a margem do rio começava a desaparecer e a única hipótese de progredir era por zonas de escarpa. Não aconselhável a gente nervosa ou com vertigens.

Ora subíamos aos cerros de onde desfrutávamos de vistas espectaculares, ora descíamos até ao rio desbravando trilhos e inventando acessos. Navegávamos à vista e decidíamos as melhores estratégias de progressão. O Francisco avisava-nos que não tinha ido por ali mas podíamos tentar…. E tentávamos. 
Estávamos em sítios fantásticos, inacessíveis por outros meios que não aqueles que usámos. O silencio era interrompido apenas por alguns pássaros e o ligeiro fluir do rio. Que magnífica natureza que pudemos desfrutar.

A hora do almoço começava a ficar severamente em risco. Progredíamos com muita dificuldade. O Carlos era agora o elemento mais lento e não se sentia minimamente á vontade naqueles “terrenos”.

Enquanto esperávamos que o Carlos conseguisse ultrapassar o obstáculo que era aquela descida desfrutávamos da calma mágica daquele lugar.


Quando finalmente transpusemos a parte mais difícil do Rio estávamos com 18 Km’s, a 6, no mínimo, da ponte que inicia o trajecto para o Castelo de Noudar. Sendo que daí eram mais 3 Kms até Barrancos. Dado o adiantar da hora começamos a tentar atalhar ao máximo, tendo mesmo regressado ao estradão nos últimos Kms. Ainda passámos por uma lindíssima lagoa onde decorria um concurso de pesca, corremos com vacas solidárias que fizeram 100 metros a correr connosco e trepámos os 2 ultimos cerros para conquistar Barrancos. 

Eu estava moído dos pés à cabeça. Mas ainda tive força para fazer os últimos 2 kms com dignidade e chegar junto com os gurus. Já não sabia se me doía mais a minha lesão, ou se o dedo negro que ganhei num tropeção algures por ali. Na duvida subi aqueles últimos Kms a correr e juntei-me a eles.
Era tempo da ultima logística, banho, buscar os carros que tinham ficado no Castelo e almoço no monte do Fernando onde nos aguardava uma dose maciça, pornográfica mesmo, dos mais magníficos enchidos e carnucha de porco preto. Que festim. Mesa posta no alpendre, uma mesa cheia das melhores iguarias que vocês possam imaginar e mais além, muito mais além, amigos, vinho, cerveja, medronho. Não é possível imaginar melhor recompensa para um dia que já de si tinha sido de arrasar.

Ficou uma vontade enorme de voltar a desfrutar da simpatia e do ambiente familiar em que o Francisco nos recebeu. Ficou uma inveja enorme por uma qualidade de vida impressionante que se tem por ali. Mas trouxe novos amigos, trouxe a melhor e mais dura “prova” de trail que já fiz. Mesmo após ter feito esta pequena descrição, digo-vos que não tenho palavras para descrever este fim de semana.
Amigos, eu sou maçarico nestas coisas e portanto a minha opinião vale o que vale, mas digo-vos que este fim de semana teve entrada directa para o TOP. Só espero que o possa ultrapassar vezes sem conta na vossa companhia.

Se quiserem ver todas as minhas fotos sigam este link. Quando houver mais fotos disponíveis actualizo.

Também fiz o habitual track + fotos georeferencidas que podem consultar aqui. Sigam o track e vejam onde cada foto foi tirada.

Se preferirem ver no Google Earth vejam antes neste link.

Dedico esta crónica ao Francisco Bossa e a toda a sua família pela dedicação e hospitalidade com que nos receberam em sua casa. 

6 comentários:

  1. Extraordinária descrição e imagens, Paulo.
    Que paisagens! É de deixar água na boca.
    Mas vocês são mesmos loucos.
    Essa das vacas que corriam por solideriedade :)
    Estavam era surpreendidas com a doença dos homens loucos. :)

    Aquela da escarpa é que não seria pra mim, acho eu.
    Abraço.

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  2. Foi o dia inteiro daquilo. Mais de 6h para fazer 30Km... estás a imaginar a dureza da coisa. Mas quanto pior mais a malta gostava. Felizmente correu tudo bem e foi um fim de semana alucinante.

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  3. Amigo Paulo, foi um fim de semana magnifico, e o teu relato está Super !! Muito bom mesmo, a relembrar o que pudémos defrutar e a dar uma ideia muito boa do que vimos e sentimos a quem não nos fez companhia. Muito bom mesmo !
    Abraço

    Zé MAgro

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  4. Companheiro Paulo,
    excelente descrição dos acontecimentos.
    Magnifica reportagem.
    Vou meter uma cunha na TVI para te selecionarem como reporter de TCs.
    Obrigado.
    Se quiseres ver as fotos que tirei estão em

    https://picasaweb.google.com/vicpaxim/TCBARRANCOS201103?authkey=Gv1sRgCKnOs-bnrris1QE#

    Abraço

    Victor Ferreira

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  5. Tenho seguido as que tens posto no fb. Logo já vou ver estas tb

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  6. Magnifico Paulo
    não há melhor forma de integração com a natureza e suas paisagens, se não mesmo no seu coração,,

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