Este ano é que era. Com o Sábado fantástico que tinha estado, o Domingo parecia que finalmente iria fazer justiça ao trabalho do Mundo da Corrida e dar-nos um dia magnífico para correr na praia. Relembro que nunca esteve um dia de praia daqueles de Ermesinde, leia-se mesmo bom, nos dias da Meia da Areia. Este ano é que era.
Mas mal abro a porta de casa. Eiiiii!!!! O dia estava bonito mas o cenário queria abalar. Tudo rodopiava num corropio de vento idiota. Que raio de dia é este?!?! Ah é dia da Meia da Areia :) Siga para a praia.
Viagem curta até ao local dos Treinos Lunares. Estacionamos e saímos para a tempestade de areia. Devíamos ter trazido os lenços e óculos. Que cena. Eu a Dora e o Luís lá fomos em busca dos dorsais.
Foi com bastante pena que constatámos que o S. Pedro passou-se da cabeça. O Mundo da Corrida não merecia este dia estúpido. A ventania causava problemas adicionais ao grande problema que já é montar uma prova destas. A chuva de areia metia-se por todo o lado. Que irritante.
Para além disso eu ia um pouco preocupado. Na semana anterior tinha-me baldado à Meia de Setúbal à ultima da hora com medo de agravar a dor que me chateou no dedo do pé durante as semanas anteriores. Os treinos tinham sido poucos ou nenhuns. Mesmo o ultimo treino lunar foi de bicicleta. E uma meia maratona já não é algo que se encare de animo leve, quanto mais esta que sendo em areia, por mais compacta que seja, cansa sempre um pouco mais. É preciso puxar-se mais pelo material.
Ainda por cima a maré vazia tinha ocorrido às 7h45. Eram 9h30 e iria chegar ao difícil ponto de retorno por volta das 10h30 com mais de 2h30 de maré a subir. Ok.... bora lá.
Aquecemos um pouco pela praia e fiquei logo com os ténis cheios de areia devido à quantidade de areia que nos batia nas pernas, pareciam alfinetes, tal a força do vento. Felizmente era vento Este, algo muito raro por ali.
Ainda mais apreensivo fiquei. Se já não ia ser fácil, quanto mais assim.
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Partida da Meia (21Km) |
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Partida da Caminhada (10Km) |
Mas o povo é sereno e logo foi dada a partida. Fiz questão de ir logo cá para baixo sempre junto à água, Mesmo que tivesse de saltar um ou outro riacho. Comecei a ver o Parro ao longe e tentei aproximar-me. Consegui e trocámos umas palavras mas o esforço que fiz mais o ritmo que ele levava, não durei muito e deixei-o seguir. Fiquei a arfar e a pensar que estava mesmo rôto. Miséria.
Seguia sozinho quando se aproxima o Rogério. O Rogério puxa por mim e leva-me até depois da fonte da telha. Mas às tantas já seguia em dificuldades e optei por deixá-lo seguir também.
Entretanto entrámos na zona mais inclinada que este ano tinha a maré já em plena subida. Não era fácil progredir. O piso melhor era continuamente varrido por ondas e não era possível fugir de todas. Mais acima não havia ondas mas a areia seca mais mole ainda dificultava mais a tarefa. À medida que as ondas começaram a ensopar os ténis, já não valia a pena desviar mais. Era melhor seguir pela zona melhor e gramar com as ondas que nos varriam os pés. Durante 30 segundos após cada onda progredíamos no chlep chlep chlep e pronto.
O Parro torna a aparecer ao longe e estava a ficar cada vez mais perto. Na zona da viragem já seguia colado a ele e assim fomos quase até à Fonte da Telha.
Estava prestes a terminar a zona de progressão mais penosa. O areal ia endireitar e íamos conseguir descansar um pouco daquele empeno. Na Fonte da Telha, protegida pela falésia do vento este, estava um dia de praia fantástico, com imensa gente na praia.
O Parro começou a ficar sem pihas e eu passada a zona do empeno maior sentia-me bem. Faltavam agora 7Km. Estes ultimos 7Km que nunca mais acabam. O areal estava fantástico para correr. A maré ia enchendo mas pouco me importava já. Preferia ir cá em baixo junto ao mar mesmo que de vez em quando tivesse de ficar com agua pelos joelhos a atravessar alguns ribeiros. No entanto o cansaço acumulado e a vontade de terminar sobrepunham-se a tudo o resto. Já nem sentia o vento lateral, nem sei se diminuiu, ou já era irrelevante.
Nessa zona seguíamos 2 ou 3 juntos e acabei por ficar apenas com um companheiro do qual não retive o nome.
Seguíamos lado a lado, naqueles momentos em que não é preciso palavras, nem há ar suficiente para as proferir. Ele puxava por mim ou era eu que puxava por ele? Ele ia forte mas eu não queria perder aquela boleia. E lá seguíamos lado a lado sem que ninguém cedesse.
Às tantas começo a ver ao longe alguém que me parecia o Rogério. Será possível? Ainda vou apanhar o gajo? Nada como confirmar. Sempre firmes no andamento acabámos por apanhá-lo e desafiámo-lo a vir connosco. Que não, que ia ali devagarinho, mas acho que veio porque no final chegou poucos segundos depois de nós.
O desejo de chegar era grande e chegámos a andar a 5' ao Km. Depois daquele cansaço todo é obra, para um roto claro.
E o final aconteceu. O meu companheiro veio agradecer-me por o ter trazido, mas eu é que lhe queria agradecer a ele ter-me trazido. Chegámos à conclusão que sem trocar uma palavra, para além de um ou outro comentário relativo a uma ou outra espectadora mais engalanada, combinámos e pusémos em prática uma estratégia de sucesso. É daquelas coisas que só quem anda nestas coisas é que compreende.
No final fruta, água, isótónico, toda a gente do mundo da corrida a participar. Um ambiente fantástico na meta.
Rapidamente fui tratar de uma coisa que há muitos Km's vinha a sonhar. Splash!!! Um belo mergulho fresquinho que me deixou como novo. A água fresca nas pernas ajudava a acalmar o cansaço dos musculos. Fiquei por ali uns minutos com as ondas a rebentarem nos gémeos. Ahhhhh! Que maravilha se todas as provas tivessem talassoterapia!
Fiquei muito feliz. Fiz um tempo fraquito mas este ano a coisa não estava para tempos. Para ninguem. E muito menos para mim que fiz esta meia maratona após um periodo muito grande sem provas de grande duração. Desde Paris que não não corria uma grande distãncia. Devia ter ido antes a Setúbal mas infelizmente não deu.
De resto, foi pena o vento ter dificultado o trabalho do Mundo da Corrida. Ainda não foi este ano que se conjugou a meia da areia com um dia de praia fantástico. A maré este ano estava um pouco acima do desejável. Só que não é possível forçar as marés a serem como queremos nos dias que precisamos. E este ano de facto não havia grande solução para termos a maré perfeita. Mas isso tem de ser um dado adquirido para quem vai fazer esta prova. Tal como quando saímos para treinar não podemos controlar o tempo.
Eu como adorador desta gigantesca baía que considero. em termos naturais, uma das melhores praias do mundo cujo único azar foi ter nascido em Portugal, espero participar em todas e mais algumas. É a pista de eleição dos Treinos Lunares e quem cá vem correr à noite com a maré no mínimo sabe bem ao que me refiro.
Obrigado ao Mundo da Corrida pelo vosso esforço e dedicação, por nos oferecerem uma prova tão boa num cenário natural unico no nosso país. Para o ano é que vai ser um dia de praia espectacular!
Visitem
o site da prova no Mundo da Corrida onde podem encontrar toda a informação sobre a prova, classificações, etc. Para o ano quero-vos a todos nesta prova fantástica.