Mas afinal o que é o Stryd?
Se não leram a parte 1, não percam tempo e cliquem aqui. Ou então esqueçam pois ainda não aconteceu nada, estamos à espera que o Stryd chegue a minha casa (vá pronto, já o tenho comigo mas nesta fase vamos todos fingir que estamos na expectativa).
Na sua função mais básica o Stryd é um sensor de passada (footpod). Este tipo de sensores não é novidade nenhuma, existem há vários anos de diversas marcas, permitindo obter uma multiplicidade de estatísticas sobre o corredor (cadência, tipo de passada, comprimento da passada, deslocação vertical, etc).
Por outro lado o Stryd também é um sensor de potência (power), medindo supostamente o esforço produzido pelo atleta, tal como se estivéssemos a medir a potência de um motor. Há muitos anos que o ciclismo adoptou este tipo de sensores e nunca mais olharam para trás, sendo indispensáveis neste momento tanto para treinar como para competir. A questão é que no ciclismo a potência é medida de forma direta nos pedais, permitindo desta forma ter uma leitura precisa do esforço medido. Existem exceções a este método, mas no essencial é esta a abordagem.
Na corrida de repente temos um problema porque fazemos força em três dimensões, mas apenas uma dessas dimensões contribui para avançarmos. Para ser útil o sensor tem de tentar perceber o que está a acontecer a cada momento. Estará o atleta mesmo a correr ou apenas aos saltos sem sair do sítio? Passa a ser necessário medir a potência mas descartando o esforço que é desperdiçado na deslocação vertical e lateral do atleta. Na bicicleta não interessa, medimos no pedal a força exacta exercida. Embora obviamente a mesma potência não desloque a bicicleta a mesma distância (piso, inclinação, vento, etc), na prática toda a potência desenvolvida faz a bicicleta avançar na direção que é suposto.
Para medir a potência na corrida a alternativa foi encontrar outras métricas e cozinhar algoritmos que permitissem calcular o resultado em tempo real. Curiosamente com um sensor de potência de corrida vamos ter mais incerteza no modelo, mas em teoria também temos mais informação que podemos aproveitar para identificar áreas em que o atleta pode melhorar (ex: desperdiça muita energia em deslocações verticais, balança de um lado para o outro, etc). Já no ciclismo podemos ter um atleta com uma posição desadequada ou que utiliza uma bicicleta mal ajustada, mas com a simples medição de força no pedal não vamos conseguir perceber isso.
Exemplo da informação que é apresentada na app da Coros, para quem utiliza o seu "Running Power & Efficiency Pod" (neste caso é um sensor que se prende na parte de trás os calções):
Para quem tiver interesse na matéria existe muita informação na internet, para o bem e para o mal, a minha explicação simplista está muito longe de esgotar o tema. Do que investiguei, a medição de potência na corrida não é claramente consensual. Os detratores mais extremos declaram que nunca será viável, já os discípulos desta vertente afirmam que assim que ganhar tracção o atletismo nunca mais será o mesmo. A corrida com power já existe há uns anos mas ainda está na sua infância, pelo que neste momento é difícil prever o que vai acontecer. Em termos de tecnologia parece-me que as marcas também ainda andam a apalpar terreno.
A própria Stryd começou por produzir um pod que se colocava nos calções (semelhante ao pod da Coros referido acima ou ao atual Running Dynamics Pod da Garmin), mais tarde uma banda peitoral, até que nos últimos 3 anos estabilizaram na versão atual com um footpod. Na versão que estão a comercializar atualmente, a grande novidade é a medição do vento e a introdução do seu efeito na medição da potência em tempo real. De notar que as duas últimas versões são muito parecidas, mas já há alguns meses que apenas vendem o "Stryd Wind", pelo que a não ser que comprem em segunda mão, não têm de ser preocupar se é ou não a última versão.
Este "Stryd Wind" será a versão analisada aqui no blog do mister Pires.
Mas afinal como é que funciona?
Segundo a marca (e segue-se uma tradução mais ou menos manhosa do site), o Stryd segue o movimento do pé em três dimensões e grava as acelerações, impactos e forças que lhe são aplicadas. A partir dessa informação calculam a potência e outras métricas de corrida como distância, velocidade, tempo de contacto no solo, oscilação vertical, etc. Os algoritmos foram validados com recurso a câmaras de alta velocidade, passadeiras com sensores, testes metabólicos e muito álcool (três destas quatro coisas são verdadeiras, mas vai na volta são todas).
Para além disso indicam que o Stryd também tem um sensor de temperatura e de humidade. Não se sabe ao certo para quê, nem se eventualmente tem influência no algoritmo, pois para já essa informação não é guardada na actividade. O que é pena pois podia ser uma maneira de conhecer as condições do treino sem ter de depender de estimativas geográficas. Será que se estão a preparar para lançar alguma novidade no curto prazo? É esperar para ver.
De qualquer forma apesar de os detalhes da marca não serem muitos, a explicação acima já permite desvendar um pouco da suposta precisão do footpod. É que acredite-se ou não, muita gente por essa internet fora afirma que o Stryd é mais preciso a medir distância (e como consequência a velocidade), do que os relógios GPS topo de gama. E não é só mais um bocadinho, é mesmo muito mais preciso, ao ponto de a maioria dos seus utilizadores preferirem utilizar o Stryd como fonte de velocidade e distância para os seus relógios, em vez de confiarem nos dados do GPS (vou falar disto noutro artigo mais à frente).
Para terem uma ideia do que estamos a falar, vejam por exemplo este artigo do Fellrnr https://fellrnr.com/wiki/GPS_Accuracy, que se entretinha a comparar os relógios GPS num percurso fixo e calibrado, comparando a precisão e exactidão (sim não são bem a mesma coisa) de cada modelo.
Dá para perceber que o Stryd, mesmo que não esteja calibrado (vou falar disto noutro artigo mais à frente, por este andar tenho material para o ano todo), é bastante mais preciso que os relógios com GPS. E se estivermos a falar da atual geração de relógios, que na sua grande maioria utiliza o último chipset da Sony que está otimizado para poupança de energia em vez de precisão, então nem tem comparação. Mesmo o Polar V800 ou o Suunto Ambit 3, considerado por muitos como o Santo Graal dos GPS, levam aqui um bigode. Claro que ainda estamos no campo da teoria, mas é de ficar com água na boca.
Para além disso os footpods como não dependem dos satélites, têm a vantagem de funcionar em qualquer lado sem serem prejudicados por isso. Tanto podemos correr ao ar livre numa pista, como escondidos num bunker nuclear, que a distância e a velocidade não serão afetadas. Já os relógios GPS todos sabemos o que acontece quando corremos no meio dos prédios ou quando saímos disparados sem esperar que o relógio apanhe o maldito sinal. Ou seja, mesmo que não estejam interessados na medição de potência, o Stryd aparentemente pode ser uma opção para quem quer uma medição da velocidade instantânea e da distância precisa. E este será obviamente um dos pontos que vou fazer questão de testar.
Agora que já sabemos mais ou menos o que é o Stryd e as suas vantagens, no próximo artigo vou fazer o unboxing e analisar mais em pormenor como pode ser utilizado. Sim, porque isto não é só tirar da caixa, atar aos sapatos e começar a correr.
(Caraças, já vamos para a terceira parte e o homem ainda nem começou a correr?!)
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