Regresso a Sesimbra. Vou mais descansado porque já conheço a prova e a dureza do ano passado. Se por um lado este ano ia ser ao contrário e logo muito menos dura, por outro lado na semana seguinte estava a Maratona de Madrid à minha espera. Portanto esta era mais uma das provas em que o esforço teria de ser muito bem gerido.
Foi também a estreia do meu novo gadget, a minha camera gopro hd2. Sem grandes pretensões queria gravar umas cenas para verificar a usabilidade da coisa.
O dia ameaçava alguma instabilidade. Boa temperatura e sem o calor do ano passado. O vento prometido ainda não se fazia sentir. Lá chegado e entre inúmeros amigos o José Santos que ia para o seu primeiro Ultra Trail. Logo ali combinámos ir juntos. Ele com as duvidas habituais de quem se estreia nestas andanças, eu com a certeza de me querer poupar para a maratona da semana seguinte. Junta-se a fome com a vontade de comer como se costuma dizer.
Lá seguimos à conversa num ritmo simpático. Vou testando o liga desliga da Gopro que ia no modo 1 botão, ou seja, basta carregar num botão para ligar e começar de imediato a gravar. Logo descubro que os gajos que pensam nestas coisas pensam pouco. Para parar de gravar e desligar é preciso carregar no botão durante 3 segundos. Sou eu que sou estranho ou isto é parvo? Então não bastava carregar apenas de novo no botão? Para quê os 3 segundos? Ah e tal para não carregar sem querer. E para ligar já pode ser sem querer? Enfim...
Ultrapassada esta descoberta estávamos a chegar ao sobe e desce das encostas que dão para o mar. Aqui nesta zona notei o primeiro problema do circuito ser ao contrário. Não há tempo suficiente para espalhar o pelotão, de modo que toda aquela zona é feita em filas, quer a descer quer a subir. Um ponto negativo desta opção, na minha opinião. Pode ser facilmente resolvido metendo ali uns kms iniciais antes de atacarmos aquela zona.
O sol de frente este ano prejudica os retratos e não realça as cores do mar e da paisagem. Tudo o que a vista alcança está como nós, ainda nublado e ensonado. Não deixa de ser bonito mas é incomparável com a beleza de um sol depois do meio dia que realça o azul turquesa do mar e deixa ver inclusive a paisagem submarina. Enfim não se pode ter tudo.
Seguíamos em amena cavaqueira e num ápice estávamos no Cabo Espichel. Este ano muito menos cansado nesta zona obviamente. Toda a zona seguinte foi feita também num bom ritmo embora já com o vento a dar mostras de começar a chatear. Uma ou outra nuvem mais atrevida descarregava meia dúzia de gotas grossas e escondia o sol por uns instantes. Tão depressa estava um lindo dia, embora ventoso, como o céu escurecia o vento aumentava e a coisa ficava negra.
Na praia do Meco aguardava-nos o pior pedaço em termos meteorológicos. O céu escureceu, o vento atingiu uma força ainda não sentida e fomos fustigados desde que entrámos na praia das Bicas até que saímos no Meco. Seguia junto à arriba que por vezes ameaçava desabar. Nalguns sítios lá estavam as placas a avisar e noutros já tinha desabado mesmo. Mas nem com a protecção da arriba o vento norte com chuva grossa e gelada a reboque deixa de fustigar. Corria-se quando se podia e como se podia.
A chegada ao Meco e a paragem técnica para descarregar a areia dos pés coincidiu com o final da tempestade. Obrigadinho pá!
Depois do controlo do chip com o equipamento ultra high tech do mundo da corrida em que suspeitámos que o Ricardo estava mas era na net a ver sites de atletas femininas com pouca roupa, iniciámos a parte mais aborrecida do percurso. Ia ser sempre a subir até ao topo da pedreira. Primeiro em pinhal, depois em descampado, depois em piso demolidor. Rolar. Apenas rolar mas a subir claro. O pinhal é sempre o pinhal, sombras, piso amigo, etc.. Às tantas surge a vala para atravessar. Alguns companheiro hesitam e indignam-se por ter de atravessar tal coisa. Dou o exemplo e mostro como se passa uma vala. Lá vêm contrariados também.
Éramos um grupo grande espalhado, ora passavam uns ora víamos os outros mais à frente. Às tantas começamos a ver grande confusão. Uns que voltam para trás. Para ali não é, diziam. Mas está aqui uma fita. A fita lá estava presa a um muro. E a seguir junto ao chão uma outra fita ou o que restava dela. Ainda havia um trilho para a direita mas sem qualquer fita. Ali ficámos sem saber o que fazer. Às tantas seguimos em frente. Não havia outra opção. Mas de facto mais à frente um cruzamento sem qualquer fita e com o chão sem marcas nenhumas. Impossível terem vindo por aqui. Volta atrás. Seguimos pelo trilho à direita mas não havia qualquer fita e no chão não havia marcas de passagem. Que raio!?!?! Mas se estão aqui as fitas, em frente não foram, para a direita não foram… PARA ONDE FORAM? Já éramos mais de 1 duzia ali acumulados. E ainda mais estranho, a Célia Azenha vinha atrás de nós. Porque não está ali perdida connosco? Onde foi a Célia? O que é que ela sabe que nós não sabemos? Nestas alturas o cansaço aliado a imensas cabeças a debitar sentenças só pioram a situação.
Ainda lá estávamos não fosse alguém ter a brilhante ideia de voltar ainda mais atrás daquelas duas fitas. 100 metros para trás daquelas fitas estava a solução. Era preciso ter virado à direita. Chamámos toda a gente que andava por ali espalhada a tentar resolver o mistério e lá fomos. Sem saber, claro, porque raio estavam ali aquelas duas fitas mais para a frente, iguais às da nossa prova. Claro que se tivéssemos feito como a Célia e virado à direita no sítio certo não tínhamos dado pelo problema sequer. Pena a Célia não se ter apercebido daquela maralha ali toda à toa e nos ter avisado do caminho certo.
Retomado o caminho em breve saímos do pinhal e retomámos o caminho ascendente que nos levaria até à estrada para o cabo Espichel e ao abastecimento. Atravessada a estrada que leva ao Cabo Espichel restava-nos cumprir os ultimos Kms que ainda incluiam uma descida e respectiva subida à pedreira, e restante viagem até ao Castelo. Estávamos já de volta ao percurso do ano passado já que o traçado não era totalmente ao contrário. A passagem no Castelo continuou a ser feita no final.
Este ano ia bem melhor que o ano passado com uma bolha enorme que me impedia quase de correr. Ainda assim estava preocupado com um dos pés e com o facto de ter uma maratona no fim de semana seguinte. Felizmente no final verifiquei que se tratava apenas de abrasão e talvez conseguisse recuperar totalmente durante a semana.
Depois do Castelo o fantástico trilho que desce pela encosta até Sesimbra e o regresso pela praia. O sol que se fazia sentir e a maré vazia ajudaram a tornar estes momentos finais muito saborosos.
Na meta celebrámos com as habituais imperiais. Objectivo cumprido. Agora é preciso recuperar o corpo para Madrid, principalmente os pés que estavam bastante massacrados.
Não me consigo decidir se gosto mais da versão 1.0 ou da versão 2.0. Ambas têm vantagens, ambas têm inconvenientes. Talvez uma versão 3.0 seja o ideal. Pensem nisto amigos e até para o ano.
Desta vez não há fotos. Levei a camera e fiz este belo vídeo que resume em imagens o que acima vos conto. Ou pior, alonga em imagens... Querem fotos vejam o resumo do ano passado.
Desta vez não há fotos. Levei a camera e fiz este belo vídeo que resume em imagens o que acima vos conto. Ou pior, alonga em imagens... Querem fotos vejam o resumo do ano passado.
Olá Paulo,
ResponderEliminarBoa crónica, com várias referências a questões importantes. Crónica engraçada porque está intimamente ligada à maneira subtil como o Paulo brinca com as palavras... Gostei.
Quanto ao vídeo, também está bom e é uma ferramenta muito útil para a posteriori se realizar uma boa e dissecada análise. Todavia, neste vídeo, penso que, ou há demasiada música de fundo, ou pouco, neste caso nenhum, ambiente natural. Provavelmente o vento seria muito e tornaria o som desagradável. Contudo, continuo a pensar que falta o som do mar, da gravilha, do arfar, do pulsar do coração, um comentário de vez em quando, porque não? Enfim, algo que nos transporte ainda mais para dentro da corrida...
Parabéns extensivos ao José Santos! (que está uma máquina!)
Um Abraço!
Orlando Duarte
Gostei de te ver por lá. Gostei de ter pensado "mas porque é que o Paulo vem de frontal??" Mal sabia eu que tinhas brinquedo novo. Excelente relato. Mais um. Dei comigo a recordar de novo a minha passagem, precisamente os mesmos cenários. A chuvada do Meco, que apanhei lá mais à frente e a zona de pinhal, onde tb eu e outros 3 participantes que seguíamos praticamente juntos, andámos meio perdidos, à procura do caminho certo. Até à próxima.
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