O Toubkal com 4.167 metros, é o ponto mais alto das montanhas do Atlas, de Marrocos, do norte de África, do Magrebe e de todo o mundo Árabe.
Este é o relato de mais uma fabulosa aventura que começou neste post. Inicialmente pensei em organizar a coisa, mas fazia sentido abrir a porta a mais participantes do UTAT, por isso a organização da prova pegou na ideia e operacionalizou o assunto. Para além de ser muito mais tranquilo para mim, a organização do UTAT tem muito mais facilidade em organizar este tipo de eventos com os seus parceiros locais. E assim foi.

É um pequeno resumo do que foi esta aventura, que vos quero contar, mais para ficar escrito e ser um auxiliar de memória dentro de uns anos, do que propriamente conseguir transmitir-vos as sensações e as vivências do nosso grupo, porque isso como imaginam, é impossível. Mas eu conto um conto e a vossa imaginação faz o resto...

Participantes
- 9 portugueses
- 8 franceses
Staff
- 1 guia
- 8 muleteiros (condutores de mulas com os respectivos animais)
- 1 cozinheiro
Depois de um dia gigante que incluiu até um almoço e um passeio por Marraquexe, enquanto esperávamos pelos restantes participantes, a tarde aproximava-se do fim, mesmo que o termómetro, teimosamente, não quisesse baixar dos 40 graus.
Depois do grupo todo reunido, seguimos finalmente para Imlil, base logística de todas as subidas ao Toubkal. O calor vai ficando para trás à medida que nos vamos aproximando dos 1600 m de altitude de Imlil. Na carrinha, um mini bus de 15 lugares, escabeceia-se ao ritmo das curvas e das crateras das massacradas estradas marroquinas. A maioria dos franceses segue atrás numa carrinha de 9 lugares. Sonhava-se já com uma boa refeição e uma cama que permitisse recuperar de um dia que tinha começado por volta das 5 da manhã em Lisboa.
Finalmente o mini bus entra em Imlil. Hicham, o guia que se juntou a nós logo ao fim da manhã no aeroporto e que estaria presente até ao final da aventura, já me tinha dito que não ficaríamos em Imlil mas numa aldeia logo a seguir, de seu nome Aroumd, cerca de 2 Km mais à frente.
Muitas lojas ainda abertas, tascas, hotéis e gites, desfilam por nós. A vila é minúscula, encalhada no final de um vale glaciar, mas o sítio fervilha de vida. A estrada de alcatrão acaba no final da rua e a carrinha ataca com determinação um estradão de terra batida que descreve uma curva tão apertada e inclinada que a carrinha não teve capacidade de a fazer à primeira. E se até agora as coisas tinham decorrido dentro do previsto, estava na hora de Marrocos nos recordar que estávamos em Marrocos....
O condutor tenta manobrar a coisa, marcha atrás, destroce...., mas depois com a carrinha a meio da curva e uma certa inclinação... vai lá, vai. Não é que a carrinha fosse um chasso. Pelo contrário. Até agora não tínhamos dado por grandes problemas. Até ar condicionado se esforçava por ter.
Mas alguma coisa estava a ceder, embraiagem ou transmissão, algo não estava bem. O Hicham pede para sairmos para ver se aligeirando a carga a coisa vai. E foi. O primeiro obstáculo estava ultrapassado. Toca a entrar. O estradão prossegue, a inclinação e as curvas não dão tréguas. O condutor tenta embalar para superar as zonas complicadas. Aquele não é, de todo, o terreno ideal para um mini bus, quanto mais um com problemas. Nem 500 metros fizemos quando o condutor pára de novo. Não valia a pena insistir. A segurança era mais importante e naquela carrinha não íamos seguramente fazer os 2 Km que faltavam. É o que se chama morrer na praia. Tudo cá para fora de novo.
Noite cerrada, no meio do nada, Imlil ficou lá para trás. O resto do grupo, os franceses, aguardam na outra carrinha, essa com capacidade de atacar o que faltava. O Hicham diz que vamos aguardar ali um pouco, que vem outra carrinha. Tira malas, tira tudo. Poucos minutos depois lá vem outra carrinha, uma espécie de pick-up, caixa aberta, com grade em cima, para transporte de gado.
O Hicham fala com o condutor que apareceu, não percebemos nada da conversa mas a coisa estava animada. Ah! Marrocos enfim a dar um ar da sua graça. Toca a carregar as malas para esta pick-up. Mas não só as malas. A seguir às malas fomos nós. Tudo lá para trás, tirando 3 que foram lá para a frente. Enquanto não arrancamos ainda caem umas pingas, mas a temperatura estava excelente, felizmente.
A carrinha arranca enfim com uma inversão de marcha animada no estradão que de repente parecia estreito. Vai à frente, vem atrás, a coisa lá foi. Espírito aberto e boa disposição de todos a ajudar.
Com jeito passamos o tronco pelas grades superiores da pick-up e lá vamos, em pé, a desfrutar daquela viagem louca. Parece que em Marrocos as nossas aventuras estão destinadas a incluir viagens em pé na caixa de pick-ups. O filme não está grande coisa devido à falta de luz, mas aqui fica.
Ainda bem que o mini bus borregou. A pick up papava o estradão como se nada fosse, mas as curvas em cotovelo a subir, nunca jamais em tempo algum o mini bus conseguiria fazer aquele troço final.
Lá atrás o pessoal divertia-se como se fosse normal viajar assim. Mas os 2 Km rapidamente acabaram. Via-se um aglomerado de casas e luzes adiante. Saímos da pick-up e seguimos por um trilho iluminado a telemóveis. As malas grandes iriam lá ter, fosse onde fosse que nos dirigíamos, seguramente ao local onde iríamos jantar e dormir.
Alguns dos franceses não estavam a perceber bem o espírito da coisa. Seguramente também alguns dos tugas... A aldeia estava ali mas metemos por um trilho, noite cerrada, sobe, sobe, vira aqui, vira ali, é aqui, ainda não, sobe mais um pouco, contorna. Aos poucos contornámos a aldeia e subimos até chegar enfim ao nosso gite de montanha. Umas casitas agregadas numa pequena encosta. Tudo arranjadinho em vários níveis numa pequena encosta.


Pouco importa. A pouca rede deu para avisar que estava tudo bem e o que o pessoal queria mesmo era comer, preparar as mochilas para o dia seguinte, e uma noite de sono recuperador.
E foi isso mesmo que fizemos. Depois de um dia em cheio, dormimos que nem uns meninos, no sossego das montanhas, a pensar na subida ao Toubkal que estava prestes a começar.
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