Após uma noite tranquila no Hotel Cristal e um excelente pequeno almoço onde conhecemos mais uma compatriota alentejana, de Pias, estava na hora de enfrentar a segunda etapa. O início desta etapa tinha sido redesenhado por mim mas estava prestes a ser adaptado às circunstâncias e ainda não imaginávamos o que lá vinha a seguir...
Nos hotéis de montanha do cantão de Valais é habitual oferecerem um passe de 1 dia para os transportes publicos, autocarros, comboios, teleféricos...
Vista fantástica da enorme cabine do teleférico Grimentz-Sorebois |
Ora devido a termos de ficar em Grimentz, 600 m D- abaixo da barragem, já não estava nos planos subir ao Corne de Sorebois. O Corne de Sorebois é um pico com uma vista 360º fabulosa. Só que da barragem eram 600 m D+ e dali seriam agora 1200 m D+ e vários Kms para trás, ou atalhar montanha acima. A juntar a um dia que já ia ter 30 Km de montanha, estava fora de questão.
No chão de vidro dá para voar pelos trilhos |
Mas e se, em vez de fazermos o percurso flat e aborrecido até Zinal (onde retomaríamos o percurso original), se em vez disso, apanhássemos o teleférico para o Corne de Sorebois e depois descêssemos o fantástico trilho até Zinal já nosso conhecido da aventura de Haute Route? De lá de cima são 1300 m D- até Zinal, o caminho havemos de dar com ele, os bilhetes para o teleférico são oferta, o teleférico sai ali a 200 m do hotel... Epa, nem se fala mais nisso. Bora lá.
O teleférico não vai mesmo ao topo, mas vencidos os 80 m finais foi tempo de desfrutar da fabulosa vista. Voltei 4 anos atrás, quando tínhamos passado ali, vindos lá de baixo da barragem. A comparação da paisagem era inevitável e para ser sincero, há 4 anos foi francamente superior. Não só pelo efeito uaaauuu! que se perde um pouco com as repetições, mas objectivamente há 4 anos havia muito mais neve (era Julho) e também não tinha nascido o sol. As fotos não deixam transparecer isso, vão ter de acreditar em mim ou ir lá nas 2 alturas confirmar.
Barragem de Moiry vista do Corne de Sorebois (2896 m) - Início de Agosto 2020 |
Barragem de Moiry vista do Corne de Sorebois (2896 m) - Início de Julho 2016 |
Repeti também uma foto panorâmica que tinha tirado na altura, mas esse formato não é o ideal para ver no blog. Recolhidas as fotos da ordem era hora de começar enfim a nossa etapa do dia.
A tarefa era simples e podem apreciá-la na foto seguinte. Uma descida de 1300 m D- pela encosta à direita na foto, até cá abaixo a Zinal. Esta foto foi tirada já a subir a encosta oposta, rumo a Turtamnn Hut. É verdade que descer é mais fácil que subir, embora com 7 Kg às costas os vossos quadriceps não concordem muito com esta afirmação. Sobretudo se vais estar mais de 1 hora a meter carga nos rapazes.
Zinal cá em baixo. A encosta da direita foi a descida desde o Corne de Sorebois 1300 m D- |
A descida começou por estradões que ligam os vários teleféricos e meios mecânicos existentes no topo. Obviamente viemos a atalhar por ali abaixo, pelas inclinadas pistas de ski, agora transformadas em campos de ervas. Sabíamos a direcção de Zinal e em breve iríamos abandonar o estradão para meter para um incrível trilho pedestre que nos traria até cá abaixo, mesmo pelo meio daquela floresta de coníferas (a mancha mais escura e inclinada à direita na imagem). Mas assim que nos aproximámos das placas com os destinos e tempos, sempre existentes em qualquer cruzamento de trilhos na Suiça, ficámos incrédulos. O trilho pedestre para Zinal estava interdito. Obras em curso... Ficámos a olhar para as placas, papéis colados apontavam Zinal para cima, tipo desvio... Um sinal de trânsito não deixava duvidas: transito proibido a peões! Ó diacho! E agora? Não tínhamos muitas hipóteses e muito menos tempo a perder, ainda o dia estava a começar, faltavam 30 Km e já andávamos aos papéis.
Sem tempo a perder começámos a subir na direcção que apontavam os papéis. Subir é chato quando queres é ir para baixo. Mas pelo menos dizia Zinal.
Passámos por uma obra (o teleférico para Zinal está a ser refeito) mas como era domingo não se via vivalma. Lá demos com outro papel provisório a indicar Zinal. Percebemos que depois de subir, nos iram fazer descer por um estradão que estava a ser usado pelos camiões da obra, um trilho um pouco mais largo apenas. Claro que o estradão em Z, devido à inclinação, era uma perda de tempo enorme e num instante estávamos a cortar caminho, sempre a tentar apanhá-lo mais abaixo.
Ninguém sabe bem quando, nem como, mas de repente estávamos novamente no trilho, no tal trilho que estava cortado inicialmente. O estradão já ninguém sabia para onde tinha ido. Passámos por uma zona em que estavam a fazer uma sapata para o teleférico e o trilho estava todo arrasado. Pensámos que era por isso que tinham cortado o trilho. Palermas estes suíços, uns exagerados, foi por isto que puseram aquelas placas todas? Pffff!
A partir daí o trilho irremediavelmente inclinou, entrou em floresta densa e serpenteava, serpenteava, escorregadio, muito escorregadio por vezes, complicado de fazer. Pior do que me lembrava há 4 anos atrás. Talvez por estar muito mais seco, talvez por estar fechado e não ter ninguém a passar. Descer é sempre mais exigente quando se trazem 7 Kg às costas.
Começamos a chegar aquela parte em que já cheira a Zinal, os telhados estão já quase ali, faltava uma parte que me lembrava bem de há 4 anos: uma ponte em madeira com uma cascata por trás...podem ver nestas fotos de há 4 anos.
Ora mal passo a esquina anterior e vislumbro o local... era apenas um monte de escombros, a ponte tinha sido arrasada por uma derrocada e o passadiço anterior com as correntes estava encosta abaixo. Na segunda foto percebe-se que sem passadiço fica um bocado chato. Volto atrás a informar da desgraça, mas subir 1000 m D+ estava fora de questão. Olho em redor e toda a zona é escarpada e de uma enorme inclinação. Fora de questão encontrar outro ponto para descer. Estávamos tão perto....
Epa isto assim vai ser mais complicado de passar... |
Depois de avaliar melhor, se calhar até se passava, agarrar aqui, passar acolá, subir para o que resta da ponte, e voilá. Parecia mais difícil, o primeiro impacto foi pior. Com muito cuidado, todos passámos o verdadeiro motivo pelo qual o trilho estava cortado lá no alto. Bolas... um momento de frisson.
O Pedro com um ar alivi....satisfeito, depois de passar. Muito mais divertido sem passadiço! Passadiço é para meninos |
Mais uma ponte, funcional mas bloqueada por um enorme compressor de obras, mas que se conseguia passar e chegámos a Zinal. Altura de tirar alguma da carga da mochila para a pança e meter água fresca, antes de prosseguir montanha acima. 1600 m D+ esperavam por nós.
O resto do percurso haveria ser tranquilo. Depois de uma enorme subida inicial, pelo percurso da famosa prova Sierre Zinal, a coisa lá estabiliza e seguimos montanha acima, sempre a subir mas de forma mais tranquila.
O percurso já nosso conhecido de há 4 anos iria levar-nos a passar novamente no Col de Forcletta (2874 m), mas desta vez, sem qualquer neve, nem reconheci o local onde há 4 anos ficámos perplexos e nos borrámos um bocado para descer... É só recordar a coisa neste post.
Depois de passar o Col Forcletta, ao contrário de há 4 anos, em vez de nos dirigirmos para Gruben subimos o vale até aos enormes lagos no sopé do glaciar de Turtmann. Paisagem avassaladora. Várias represas no final do vale glaciar, com várias cascatas, entre as quais o próprio glaciar, a despejar água. As fotos dos Alpes são sempre fraquinhas porque é impossível caber numa foto a imensidão de toda aquela paisagem. Mas reparem no cato superior esquerdo, mesmo de frente para o glaciar à direita na foto, a cabana de Turtmann onde iríamos jantar e passar uma noite fantástica, junto ao glaciar.
A cabana de Turtmann no topo superior esquerdo e o glaciar do lado direito |
Pela imagem parece perto, mas tudo parece perto por ali. Faltava contornar os 2 lagos e subir talvez 200 m D+. O suficiente para nos fazer chegar já com o jantar a decorrer (janta-se às 18h30 no abrigo).
O glaciar visto da janela do nosso quarto |
Depois de comer, só o tempo para umas imagens fabulosas do glaciar e quando a noite cai, já se está na cama. Uma paz brutal. O glaciar ao longe derrete-se em gigantescas cascatas e embala-nos o sono. Amanhá há mais. Fiquem com um filme que dá uma boa ideia do final de dia no local. Full screen e som bem alto SFF
Seguir para a próxima etapa: Via Valais - Etapa 3 - Turtmann Hut - Tasch
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